Blogger Template by Blogcrowds.

Aos "aspirantes" seminaristas...




A cada dia que passa, ouço várias pessoas compartilhando comigo o seu desejo de ir para o Seminário. Umas, como foi no meu caso, pretendem se especializar na área dos estudos teológicos – exegese, hermenêutica, epistemologia -, enquanto outras atendem a um chamamento missionário ou pastoral; outros mais, pensam em se aprofundar no conhecimento bíblico para uso estritamente pessoal e confessional.

Se há alguns dias me perguntassem minha opinião quanto ao ingresso na vida teológica, responderia categoricamente, em minha animação, ser uma ótima opção para aqueles que querem conhecer mais de Deus, da Eclésia, das Escrituras e de todas as questões concernentes a essa área de estudo.

Porém hoje, após três meses de estudos no campo teológico, minha visão já mudou completamente. Deus, fé, espiritualidade, igreja, Jesus, pecado, absolutos e relativismos, graça, e tantos outros termos que retroagem com a teologia, passaram por uma profunda mudança em minha mente. Percebo-me como uma criança que acaba de vir ao mundo, em que seus olhos estão arregalados para captar todo movimento e imagem do novo meio em que está inserida; a saída do útero da mãe para o “mundo de fora” fora uma mudança radical.

Não entrarei no mérito, nesse post, sobre o que eu tenho pensado acerca de Deus, de Jesus Cristo, da Igreja e de todos os outros conceitos que citei acima – afinal, faço isso ao longo desse blog, e principalmente no blog cristianismolivre.blogspot.com -. Mas posso adiantar algumas coisas para os “aspirantes” ao Seminário.

1) Questione-se. Essa atitude tem que ser constante, mesmo antes da entrada do seminário, quanto durante o curso. As matérias, conceitos, teorias, opiniões que serão expostas durante todo o curso entrarão em confronto direto que suas concepções. Se você não for, no mínimo, interessado em filosofia, e não for corajoso para se colocar em questão, o curso será endemonizado por sua mente; correrá o risco de querer exorcizar a “entidade maligna” do corpo dos professores.

2) Desconstrua-se. “O ‘crente’ terá que ficar na porta”, essa é uma frase célebre ouvida logo nos primeiros dias. A princípio ela causa espanto e, até repúdia, mas com os dias você perceberá o porque te aconselharam deixar o crente na porta: sua ortodoxia apanhará até dizer “chega”, por isso é melhor entrar de mente aberta, do que tomar uma surra em aula. Esse processo de desconstrução se fará necessário, ou você continuará achando que está numa classe de EBD. Desconstruir é o início de qualquer construção.

3) Tenha medo e curiosidade. Esses dois termos me foram expostos hoje pelo inteligentíssimo professor Osvaldo Luis – prof. de Teologia e método; Epistemologia – causando um grande impacto em mim. Medo é necessário para que você não se enverede por caminhos que não terão volta como é o caso da Fenomenologia, onde se critica desde o uso de uma vírgula no texto a divindade de Jesus. Curiosidade lhe servirá para que não seja uma medíocre que só mastiga o que lhe fora mastigado antes. Contudo, medo demais ou curiosidade demais poderão trazer sérios problemas em sua formação teológica-espiritual-crítica.

4) Não acredite na frase: “Quero fazer seminário para conhecer mais de Deus”. Se você pensa dessa forma, ou já ouviu pessoas dizerem isso, como eu já ouvi, desacredite... Isso é a mais pura mentira. Mais fácil é perceber que se desconhece Deus, do que achar que O conhecerá através dos estudos teológicos. Em seminários ótimos poderás confirmar tal afirmação minha, diferentemente dos seminários “rosinhas de saron”, onde lhe ensinarão o que sempre foi dito nas salinhas da EBD.

5) Reflita muito antes de se decidir. Se você não estiver a fim de desacreditar na maioria das “verdades” que sabes até então, pense duas vezes antes de fazer teologia. Não haverá outro objeto de estudo a não nossa querida Bíblia. E quando ela for colocada em xeque, desmistificada, contradita, criticada, as crises só terão início.

Esses cincos pontos escritos acima podem ser instrumentalizados por quem já está fazendo curso, como eu, ou ser analisado cuidadosamente por aqueles que sonham com a teologia. Não se engane, a Teologia é um curso ingrato... Não poupará esforços para desconstruir todas as bases de sua fé, e terá que fazer um esforço descomunal para juntar os cacos de sua espiritualidade.

Apesar de tudo, a Teologia é apaixonante, instigante, bela e complexa. Não trocaria o curso por nenhum outro, mesmo sabendo que nos demais, as chamadas “crises” não seriam tão intensas e profundas. Teologizar é uma ação sublime, que me deixa em êxtase. Enxergar Deus de uma fora dos "padrões" pré-estabelecidos é como ganhar um presente de aniversário: rasga-se a embalagem com vontade, almejando apenas o que esta por dentro dela. Fazer viagens na história e entender a construção dos textos biblicos é um privilégio incomensurável. Desmistificar a espiritualidade hipócrita de grandes pregadores que aparecem no meio protestante, e traduzi-las como politicagem, é cômico.

Em tudo, Teologia é um caminho sem volta: quem por ela se envereda, nunca mais enxergará o mundo metafísico da mesma forma.

A todos os corajosamente loucos, bem vindos serão ao universo esquizofrênico da Teologia.


Sentimentos invadem meu coração... Estou vivo!

Sinto percorrer em minhas veias o Amor. Ó sublime epifania, o que te levas a fluir pelas veias turvas de meu coração?

O amor que percorre cada lugar minúsculo do meu corpo vem de fora de mim. Ele vem do mais belo de todos os seres. Tal ser que é único entre muitos e, complexo em si. Pessoa tão comum e tão diferente simultaneamente; mistura de certezas e incertezas.

Este amor, me violenta, encharcando-me de paixão e de paz. Este amor é lípido, puro, imaculado, sacramentado.

É a coisa mais bela que jamais senti; mais confusa que jamais lidei.

Sirvo-me do filósofo Abelardo, o pássaro errante, ao dizer: “em mim só se encontram versos de amor e nada dos segredos da filosofia”, para afirmar que esse amor me tira da complexidade da teologia e me leva para os simples e muito belos jardins floridos da paixão. É perceptível que em mim não há mais nada a não serem versos de amor. Por que escrever outra coisa?

O amor devotado à pessoa amada me tira da razão; agora sou todo emoção; sou apenas juras de um amor Eterno.

“O que é que eu amo quando te amo?” se perguntou Milan Kundera...

Eu amo a sua imagem. Não que esta seja a mais bela das imagens, mas que você simplesmente apaga as demais.

Vivo de uma coisa só: a sua imagem. Conversas, afazeres cotidianos, nem coisa alguma me interessa, não fazem sentido, se você – doce imagem – não estiver nelas pintado.

Eu amo sua imagem, ó meu amor, já que nela eu me vejo; eu a torno especial. No entanto, não me tome por narcisista, mas, como alguém que não é mais si mesma e, sim você, portanto, você transparecendo através de mim. Uma linda imagem surgida de dentro para fora.

Para mim não há nada mais puro, se assim eu fizer as palavras de Kiekegaard as minhas: “Pureza de coração é desejar um coisa só.” Quero desejar uma coisa só; que meu amor seja puro; sentimento que não haja misturas.

O que eu quero é só você. Sua doce imagem adormecida ao meu lado... Não, não farei um movimento sequer, para que a beleza de tal cena não se finde.

O que é que eu amo quando te amo a não ser você mesmo? O que mais amaria a não ser quem sou em você e você em mim? Como poderia te macular pela carne quando meu amor por você é divino?

O que é que eu amo quando te amo a não ser eu mesmo, quando deixo de ser eu e passo a ser você, e nós passamos a sermos um?

A imagem torna-se para mim mais poderosa do que a incerteza que em momentos varre meu coração.

Nessa imagem há metade de dois rostos, que numa fusão indefinível se torna um: um único rosto, um único nariz, um único sorriso, um único par de olhos, uma única história, uma única vida, um único amor.

Tu és o que eu amo quando te amo.

Fecho nas belas palavras de Rubem Alves: “O amor mora no olhar terno que sorrir ao contemplar o rosto da pessoa amada.”


------------


“A raposa pediu que o Pequeno Príncipe a cativasse.
- Que quer dizer “cativar”? – ele perguntou.
A raposa explicou:
- Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, a cada dia, te sentarás mais perto... Se tu vens, por exemplo às quarto da tarde, desde às três eu começarei a ser feliz. Às quatro, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade.
Aconteceu então que o Pequeno Príncipe cativou a raposa. O tempo passou e chegou o dia em que ele precisou partir. A raposa disse:
- Ah! Eu vou chorar.
- A culta é tua; eu não te queria fazer mal, mas tu quiseste que eu a cativasse...
- Quis – disse a raposa.
- Mas tu vais chorar!
- Vou – ela respondeu.
- Então não sais lucrando nada!
- Eu lucro – disse ela – por causa da cor do trigo. – E acrescentou: Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos cor de ouro. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo.”
(Antoine de Saint-Exupéry)

Postagens mais recentes Postagens mais antigas Página inicial