Blogger Template by Blogcrowds.

Das verdades metafóricas

Niterói, 27 de Junho de 2010


Dos pensadores que existiram um parecer ser mais difícil de “engolir”: Friedrich Nietzsche. À menor menção de seu nome muito já ficam sobressaltados e de pelos ouriçados. Sua existência foi conturbada, suas palavras massacrantes. Onde quer que seu discurso seja dirigido, lá produz uma grande chacina. Nietzsche não pode ser endemonizado nem muito menos divinizado, afinal, nos seres metafísicos ele não acreditava. Contudo, o que quero aqui é desafiar os presentes companheiros, atirando flechas envenenadas de pura crítica. Quem haverá de superar?

Existe, pois, entre nós uma pretensa vontade de encontrar o que é absoluto. Se não é encontrar, então poderíamos dizer divagar sobre tal verdade. Existe uma necessidade de adequar alguns conceitos que formularam, ou formulamos, nisto que chamamos de realidade. Nós seres racionais, que não possuímos garras nem presas, criamos o intelecto ao que Nietzsche diria: “o intelecto, como um meio para conservação do indivíduo”. Mas surge daí um impasse: uma vez criado o intelecto, como haveríamos de passá-lo adiante. Ora, forma-se aí a linguagem. Essa necessidade de um “tratado de paz” entre os homens, que nos impulsiona à formulação de uma verdade, será expressa em linguagem. Tal linguagem tende a ser metafórica, uma vez que não expressa a verdade, já que essa foi criada por um impulso de sobrevivência. Esses disfarces criados por nós, artesãos por excelência, com o passar do tempo deixam de ser considerados como tais, que segundo o pensador: “somente por esquecimento pode o homem alguma vez chegar a supor que possui uma ‘verdade’".

Uma vez esquecido, essas metáforas tendem a se canonizar com o passar dos séculos. No entanto, como poderemos deixar de nós perguntarmos o que é a verdade? Nietzsche responde: “Um batalhão móvel de metáforas, metonímias, antropomorfismos, enfim, uma soma de relações humanas, que foram enfatizadas poética e retoricamente, transpostas, enfeitadas, e que, após longo uso, parecem a um povo sólidas, canônicas e obrigatórias: verdades são ilusões, das quais se esqueceu que o são, metáforas que se tornaram gastas e sem fora sensível, moedas que perderam sua efígie e agora só entram em consideração como metal, não mais como moedas”. ("Sobre verdade e mentira no sentido extra-moral", Coleção Os pensadores)

Confesso, querido leitor, que me encontro em mais lençóis com esse homem. O que poderão suscitar em meu auxílio neste momento em que a verdade morreu?!

Do escrever filosofia

Niterói, 23 de Junho de 2010


Prisão! Escrever é encarcerar pensamentos para que, uma vez presos, possam ser decifrados. Num cérebro em turbilhão, milhares de pensamentos voam em dança desordenada; em caos criador.

Escrever filosofia é captar instantes sublimes, encarcerando-os nas celas de eternidade. A beleza brutal do cárcere aqui se encontra: possuir eternamente uma epifania que em segundos já desvaneceu! Num momento de impulso criador, a pena do escritor corre de um lado a outro do papel, em êxtase frenético, no intuito de dar forma à imagem do frenesi. Seus contornos eternizados então em tinta, dos quais nunca mais esquecemos. O eterno gravado em nós.

De tal tarefa, nós os filósofos, somos consumidos! As forças exauridas pelo construir da eternidade. Ficamos como mortos-vivos: cabeça tombada sobre a mesa, coração em perpétua satisfação. Os instantes captados queimam nossas mãos com o calor de sua essência, que é pura luz, para assim serem acorrentados em amarras de tinta. Dor compensada pelo eterno reluzir.

Escrever filosofia é morrer após o último ponto final, e reviver junto com as primeiras letras de um novo frenesi de luz e calor. Escrever filosofia é morrer em terra, para eternizar-se em tinta e em papel.

De Jane Austen - Persuasão

Niterói, 21 de Junho de 2010


“Estava persuadida de que por maiores que fossem as desvantagens da desaprovação familiar e por pior que fosse a incerteza acerca da profissão dele e todos aqueles prováveis medos, atrasos, decepções, ela teria sida uma mulher mais feliz se mantivesse o noivado do que era tendo-o sacrificado; e acreditava plenamente que seria assim, mesmo que lhe coubesse a parte habitual, ou mesmo mais do que a parte habitual de preocupações e incertezas (...) Quão eloqüente, pelo menos, teria sido se os seus desejos se tivessem voltado para aquele primeiro amor e para uma alegre confiança no futuro, em vez de terem voltado para aquela ansiosíssima cautela que parecia insultar as possibilidades do esforço e desacreditar da Providência! Fora obrigada a ser prudente na juventude, aprendera o romantismo à medida que envelhecia: a seqüela natural de um começo antinatural.” (Persuasão, Jane Austen)

Ah... Jane Austen! Quem nos apresentou foi Willian Lizardo, querido amigo e prestigiado pianista. Nosso primeiro cumprimento se deu nas lindas paisagens do Derbyshire, na Inglaterra, enquanto lia o magnífico “Orgulho e Preconceito”. Elizabeth Bennet, cujo gênio e beleza dificilmente vi em uma mulher; Mr. Darcy, orgulhoso e carrancudo, inteligentíssimo e nobre, apaixonado perdidamente por Elizabeth, mulher de berço inferior.

Dessa vez, “Persuasão” foi-me apresentado por Sandra Bullock e Keanu Reeves no filme “Casa no Lago”. De início fiquei curioso por descobrir como foi o reencontro de Anne Elliot e seu ex-noivo, Frederick Wentworth, após 8 anos de longa separação. Assim como no filme, o livro retrata a dor e a paciência que o amor pode suscitar numa pessoa, mas por outro lado, também retrata o lamento de uma atitude precipitada.

Srta. Anne Elliot, filha de um Sir, Walter Elliot, herdeira de uma fortuna, se apaixonou por um jovem oficial da marinha. Sim, ele era pobre! A paixão foi avassaladora, arrebatadora... Contudo, como todo amor trágico, ele teve um final. Sua família a convencera de romper o relacionamento, já que o rapaz não possuía alta estirpe. Ela não hesitou. Foi persuadida. Durante 8 anos seu coração lamentou a ausência daquele que lhe conferia sentido. Por 8 anos seus olhos aguardaram o retorno daquele imagem que um dia foi tão próxima. Durante 8 anos deixou de existir, de ser, Srta. Anne Elliot.

Por acasos do destino, ela reencontra seu antigo amado. Ela não é mais a mesma, nem muito menos ele. Tudo estava mudado. O que seria de ali em diante? Ela não saberia responder. Apenas reflete. E sua reflexão me impactou. Jane Austen conhecia minha história, caso contrário, como haveria de escrever os sentimentos que povoam meu coração de forma tão fidedigna?!

Eu devo algo a essa mulher. Não sei bem exatamente o que, por isso, escrevo esse humilde post em homenagem póstuma. À ela, que me apresentou a força do amor que se põe acima de todas as coisas, não se preocupando com que enfrenta.

P.S: Eu já me persuadi de que por maiores que forem as desaprovações familiares, sociais ou religiosas, eu sou o homem mais feliz, apesar disso me custar uma parte mais do que habitual de preocupações e incertezas! Não quero aprender a ser prudente na juventude, mas sim, isso sim, um romântico.

Da tormenta

UFF, 31 de maio de 2010


Na copa das árvores, as folhas gritam. É o vento que traz a elas o flagelo. Esse farfalhar, suas vozes ressonantes, é ensurdecedor, e parece que não cessará breve. A tempestade é anunciada nesse canto!

O céu pôs sua máscara de tormento. O cinza com que veste o rosto é um mau-presságio: previsão de dias nefastos. Do alto de sua cabeça, ventos cruéis saem de sua boca, fazendo com que as árvores à beira-mar lamentem o porvir.

O mar, aos pés das árvores também estão a pressentir o início da tormenta. O poderoso oceano está inquieto: seus braços, as ondas, se agitam ao longo de toda sua extensão para com violência arrebentar na costa das praias com estrondo e espuma.

As gaivotas estão silenciosas: reverenciam o momento que chega! Suas longas asas não se abrem em belo vôo, mas se fecham para não profanar o culto que todas as criaturas prestam ao céu, senhor dos ventos!

Nós, homens mortais de mente limitada, observamos com espanto a tempestade que se forma! Nosso coração pesa com o imaginar de um futuro em ruínas. Os deuses possivelmente estão a castigar os homens por seus sacrilégios. Se não, Gaia, nossa mãe Terra, está a infligir à nós, filhos bastardos, a destruição que há muito rogamos à ela.

Postagens mais recentes Postagens mais antigas Página inicial