Niterói, 20 de Julho de 2011
Alguns sonhos são obscuros. Diferente daqueles que carregam calor, luz, e bons odores, alguns sonhos são gélidos, escuros, e mórbidos.
Nos sonhos bons, quando experimentamos as melhores sensações que o estado onírico nos concede, somos irritantemente acordados por um despertador barulhento, uma voz estridente, ou simplesmente pela clara e carinhosa luz da manhã – apesar de acordarmos maldizendo o amanhecer.
Nos maus sonhos, tragicamente, ninguém há que possa nos acordar. A voz não chega aos ouvidos, o despertador está sem bateria, e já se passou muito desde o crepúsculo.
Nos bons sonhos passei por florestas e campos. No sonho que mais me marcou, passava eu por entre prados bem verdes, cobertos por um céu cinza de outono, sendo lambido por uma brisa que prometia trazer chuva fina.
Passando pelos prados, adentrei-me numa fábrica de doces muito colorida. Se me dissessem que estava na Fantástica Fábrica de Chocolate e que em breve veria Oompa Loompas, não teria estranharia. Os Oompas não apareceram, e eu parti da fábrica me sentindo mais doce e mais feliz, porque a vida, em último caso, era um doce.
Como acontece nos sonhos, passei instantaneamente para o último cenário do sonho que mais me marcou: a floresta. Não uma floresta tropical tal qual temos no Brasil, rica em odores, formas de vidas, e climas simultâneos. Mas, uma floresta de clima temperado, de árvores antigas e de altas raízes, por onde temos a sensação de que veremos sair debaixo dela um hobbit aventureiro, ou veremos Tolkien fumando seu charuto escrevendo mais uma página de sua magnífica obra. Uma floresta um pouco fria e escura, mas na qual eu me adentrava, e cada vez mais inda sentindo calor e percebendo uma luz dourada. Cheguei por fim a uma clareira, cujo chão era coberto de folhas secas, e cujo teto eu não sabia se existia. A clareira foi porque nesse lugar uma forte luz dourada, como aquelas de quando o Sol se põe em dias quente, jorrava para a terra, iluminando todos os micros seres e objetinhos que ficam flutuando no ar, e que só percebemos quando reparamos nos feixes dele. Fiquei encantado com o que vi: um Stonehenge coberto de luz dourada – sobre ele incidia a maior parte dos raios solares. Nesse lugar de um verde escuro muito vivo, de chão de um mar de folhas secas, de um Stonehenge no elevado e banhado a ouro eu guardei a impressão mais forte. No meio de tamanha contemplação fui acordado, certamente por algo ou alguém que eu devo ter amaldiçoado muitas vezes em seguida, apesar de não lembrar hoje do que se tratava. Porém, da impressão não mais fui capaz de afastar. E é ela dela que me lembro quando sonhos como este que contarei agora me perturbam...
Esse último sonho tive a muitos anos. O que conto agora, tive hoje.
O ambiente em que estava era o mesmo no qual havia adormecido: meu quarto. E tal como o ambiente lá fora, meu sonho era escuro por conta do Sol ter se posto. Não havia ninguém em casa. Apenas eu, o escuro e o silêncio. Lembro que percorria todo o ambiente com os olhos, ou a mente, mas não me levantava da cama. O que aterrorizava era que a todo o momento eu sentia uma força invisível presente. Não sei quanto tempo fique passeando pelos espaços vazios e escuros com aquela sensação.
De repente um homem apareceu. Fui tomado de terror. Eu estava deitado na cama enquanto ele olhava para mim. Estranhamente, eu percebia que ele olhava em minha direção, mas não me via. Era como se eu fosse a própria cama, enquanto ele estava a olhar para ela. Nessa hora uma sensação me invadiu: ele me procurava, não sei para quê, no entanto não me achava – assim como um assassino que procura a vítima enquanto ela está a lhe enganar.
Nessas horas não sei por que nos sonhos nós perdemos a capacidade de gritar, e de se locomover. Contudo, o que mais me perturbou foi saber que estava dormindo, mas sem a possibilidade de acordar. Tentava, tentava, mas não despertava. Por fim, despertei. Despertado fui para um novo desespero: acordei, mas continua dormindo... um sonho dentro de outro sonho. Quando despertei, percebi que estava na mesma cama que antes, no mesmo quarto que antes, e no mesmo escuro e silêncio de antes. O homem, que me causava terror, não estava lá, porém, outro tipo de terror me dominava: o terror de não conseguir acordar realmente, e vir para o mundo real. Sabia eu que estava dormindo, e que havia acordado de um outro sonho. Mas acordar realmente, isso eu não conseguia.
Dessa vez, consegui gritar. E gritei pelo Raither. Ele apareceu, mas apareceu só para me dar a esperança, e me encerrar no desespero de ter a vista dele, sem que ele pudesse retirar-me do estado em que estava. Estava morto dentro de mim mesmo.
Eu travei essa batalha de tentar levantar de um túmulo; acordar de um sonho dentro de outro sonho. Meu celular despertaria as 19:30h, coisa que sabia enquanto dormia. Embora, no meio desse caos, nada dele despertar. Por fim, consegui acordar, resfolegando... Olhei para o celular: eram 19:29h.
Acordei. Na agonia, vim escrever...