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Do medo do arrependimento

UFF, 08 de abril de 2011

Pode ser que eu pareça mais forte do que realmente sou, ou mais frio do que aparento, quem sabe mais misantropo do que gostaria de ser, mas, como todos, sou apenas um ser humano - mesmo que às vezes me esqueça disso. Gosto de me fazer de sábio, debatendo pontos de vista e opiniões; gosto de me fazer de retórico, falando muito bonito; gosto de me fazer de escritor onde belas palavras saem de mim; gosto de me fazer de tudo o que ainda não sou. Tantas facetas, tantas pessoas, um único desespero: ser quem sou!

Ser quem eu sou é perder a todo instante o equilíbrio tão desejado por todos; ser quem sou é chorar desejando a solidão e se deprimir quando ela chega; ser quem sou é ter todos a volta, mas nenhum para ser compreendido; ser quem sou é não saber o que fazer, ou o por que de fazer; ser quem sou é não ter consolo, seja por mim mesmo, seja pelos outros; ser quem sou é andar por uma montanha num breu com os abismos em volta de si; ser quem sou é não precisar de ninguém e precisar de todo mundo; ser quem sou é não saber quem se é, antes, é saber o que não se é; ser quem sou é machucar as pessoas mais fantásticas do mundo; ser quem sou é viver sozinho; ser quem sou é estar desesperado.

Minha morte é ver olhos tão familiares e amados chorando por minha causa; minha morte é muitas vezes saber o que fazer, mas simplesmente não fazer; minha morte é sentir o abraço pronto a apertar com carinho, mas repeli-lo assim que ele se aproxima; minha morte é ser eu mesmo: estar morto mas ainda assim andando... Antes a morte que sana todas as dores e o desespero do que minha própria vida. Vida que só causa a morte de tantas outras cosias bonitas!

Antes a morte do que o arrependimento eminente...

Sim... sou isso tudo! Sim, tenho medo de me arrepender, pois quando se arrepende, já é tarde demais... E quando já é tarde demais, resta apenas a morte! Morrer e tudo acabar...

Termino esse texto dizendo que gostaria de ter falado mais do arrependimento, mas assim que fui escrevendo, apenas o meu desespero e minha morte se afigurou em minha frente! Espero no próximo conseguir falar sobre o que me propus...

Alan B. Buchard

Da conversa com Sêneca

Niterói, 01 de abril de 2011

“Enquanto se espera viver, a vida passa. (Sêneca, Cartas, I, 1-3)

Sei que a todo o momento estás a gritar isso em meu ouvido querido Sêneca. Mas, sinceramente não sei o que acontece comigo. Ela simplesmente passa por mim. Tento segurar seus cabelos, contudo são como águas: escorrendo entre meus dedos. Restando-me apenas vir falar contigo denovo.

Como fazes isso amigo Sêneca? Como consegue que teus sonhos não roubem o prazer do presente, ou a dor do passado a felicidade do dia de hoje? Como consegues pensar na morte e até mesmo esperá-la sem que seu coração chore? Como não lamentas que o calor do Sol, que acaricia seu corpo, logo mais desaparecerá, restando-lhe apenas a noite escura? Como podes sorrir se até ontem choravas? Como vives se presenciaste a morte de alguém tão querido por você? Como amas sem sofrer?

Responda-me amigo! Não me deixe sem respostas porque as perguntas estão a me sufocar...

Sêneca, Metrodoro, aluno de nosso querido Epicuro escreveu ao meu amigo Pítocles:

“Tu me dizes que o aguilhão da carne te leva a abusar dos prazeres do amor. Se não infringes as leis e não perturbas de nenhum modo os bons costumes estabelecidos, se não incomoda nenhum de teus vizinhos, se não esgotas tuas forças e não dissipas tua fortuna, entrega-te sem escrúpulos à tua inclinação. Entretanto, é impossível não ser preso por ao menos uma dessas barreiras: os prazeres do amor não oferecem nenhum proveito para ninguém, já é muito quando não prejudicam.”. (Épicure et ses dieux, p. 40)

Com meu amor, amigo Sêneca, eu perturbei muitas coisas e ainda assim fui feliz, mas quando eu tentei segurar nele, assim como a vida, ele escorreu por entre meus dedos. Sem ele, cada vez fui ficando mais sozinho. Fico agora com minhas marcas, minhas dores, meus desesperos, e ponho a me perguntar se o amor realmente não traz proveito a ninguém como disse Metrodoro...

Outro dia meu amigo, ouvi Sereno, que também és teu amigo dizer-lhe:

“Observando atentamente, descobri em mim certos defeitos muito aparentes, os quais poderia tocar com o dedo, outros que se dissimulam nas regiões profundas, outros enfim que não são contínuos, mas reaparecem somente em intervalos [...] A disposição que me surpreende a ser a mais freqüente (porquanto não me abriria a ti mesmo como a um médico!) é a de não ter francamente me libertado de meus medos e de minhas repugnâncias de outrora, nem mesmo sob seu império.”. (Sêneca, Cartas, 24, 26)

Ora amigo, quando eu passei por vocês e demorando-me um pouco, pus-me a ouvir essa conversa fiquei atordoado, porque para mim não era Sereno que conversava com Sêneca, mas eu mesmo. Se trocassemos as personagens para tu e eu, nada mudaria em que Sereno disse, pois mesmo debaixo de teu império, continuo a errar!

Sei que desde o momento que vim procurar-lhe para falar-te de meus medos, somente eu falei, despejando em cima de ti toda a minha dor. Mas por momento agora me calarei, afim de que me digas algo que alivie meu coração e que traga alguma paz à minha mente...

Meu amigo Alan. Dir-lhe-ei as palavras de nosso querido Horácio, e se ela não acalmarem seu coração de todo, que lhe traga algum consolo:

“Que a alma, feliz no presente, recuse inquietar-se com o que virá em seguida. O presente, sonho para bem dispor, de um espírito sereno. Todo o restante levado como um rio. (Horácio, Odes, II, 16, 35 e III, 29, 33)

O homem justo e firme em sua resolução, nem a fúria dos cidadãos ordenando o mal, nem a face de um tirano que ameaça abalar e consumir seu espírito, não mais que Austero, chefe turbulento do tempestuoso Adriático, não mais que a grande mão de Júpiter fulminante; que o mundo se rompa e desabe, seus restos hão de maravilhar sem aterrorizar.” (Horácio, Odes, III, 3, 1-8)

Da minha primeira poesia

Niterói, 01 de abril de 2011, UFF

Conversa com o Sol

Ei Sol, vem chegando devagar!
Deixe uma sombrinha, meus olhos ainda descansam nela
Mas pode chegar...

Pode trazer sua luz e derreter o gelo do inverno rigoroso,
Pode encostar, mas , por favor, não me queime
Eu ainda preciso de tempo. Não seja maldoso.

Eu me assentei com meu caderno e minha caneta,
Na tua luz e no teu calor eu me pus a escrever.
Com minha cabeça e meu coração ainda nesta sombreta,
Para de teu poder eu me esconder.

Mas estou aqui Solzinho.
Sentado virado para a grama e para o mar,
Pensando sozinho,
No segredo de um coração que não sabe mais o que é amar...

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