Niterói, 11 de dezembro de 2011
Falemos sobre o Amor. Hoje... sobre Póros e Pênia.
“ – E quem é seu pai – perguntei-lhe [Sócrates] – e sua mãe?
-- É um tanto longo de explicar, disse ela [Diotima]; todavia, eu te direi. Quando nasceu Afrodite, banqueteavam-se os deuses, e entre os demais se encontrava também o filho de Prudência, Póros (Recurso). Depois que acabaram de jantar, veio para esmolar do festim a Pênia (Pobreza), e ficou pela porta. Ora, Póros, embriagado com o néctar – pois o vinho ainda não havia – penetrou o jardim de Zeus e, pesado, adormeceu. Pênia então, tramando em sua falta de recurso engendrar um filho de Póros, deita-se ao seu lado e pronto concebe o Eros (Amor). Eis por que ficou companheiro e servo de Afrodite o Amor, gerado em seu natalício, ao mesmo tempo que por natureza amante do belo, porque também Afrodite é bela. E por ser filho o Amor de Póros e de Pênia foi esta a condição em que ele ficou. Primeiramente ele é sempre pobre, e longe está de ser delicado e belo, como a maioria imagina, mas é duro, seco, descalço e sem lar, sempre por terra e sem forro, deitando-se ao desabrigo, às portas e nos caminhos, porque tem a natureza da mãe, sempre convivendo com a precisão. Sendo o pai, porém, ele é insidioso com o que é belo e bom, e corajoso, decidido e energético, caçador terrível, sempre a tecer maquinações, ávido de sabedoria e cheio de recursos, a filosofar por toda a vida, terrível mago, feiticeiro, sofista: e nem imortal é a sua natureza nem moral, e no mesmo dia ora ele germina e vivem quando enriquece; ora morre e de novo ressuscita, graças à natureza do pai; e o que consegue sempre lhe escapa, de modo que nem empobrece o Amor nem enriquece, assim como também está no meio da sabedoria e da ignorância.” (O Banquete – Platão, 203a – 204a)
Filho do excesso e da carência, Eros, Deus grego, o mais sublime e misterioso dos deuses...