Blogger Template by Blogcrowds.

De Marquês de Sade I

Niteroi, 09 de abril de 2012

Esta e a próxima postagem referem-se a um diálogo contido no livro Filosofia na Alcova, do famoso Marquês de Sade. A beleza do texto reside na forma como a realidade é por Sabe esboçada. Com sarcasmo e deboche, nosso Marquês traduz todo o sentimento de algum que observou o Cristianismo sem as lentes da fé, que, nela mesma, é cega. Revolta para os Cristão; alegria para os Ateus.


"DOLMANCÉ - O que significa esta virtude [a piedade] para quem não crê na religião? E quem pode crer na religião? Vejamos: ordenemos o raciocínio, Eugénie. Não chamais religião ao pacto que liga o homem a seu Criador, e que o engaja a lhe dar testemunho, por um culto, de seu reconhecimento pela existência recebida deste autor sublime?

EUGÉNIE- Não há melhor definição.

DOLMANCÉ- Pois bem. Se está demonstrado que o homem só deve sua existência ao planos irresistíveis da natureza; se está provado que tão antigo neste globo quanto o próprio globo, ele não passa, como o carvalho, o leão e os minerais que se encontram nas entranhas desses globo, de apenas uma produção exigida pela existência do globo e não deve a sua a quem quer que seja; se está demonstrado que este Deus, que os tolos vêem como um único autor e fabricante de tudo o que vemos, não passa do nec plus ultra da razão humana, do fantasma criado no instante em que esta razão não vê mais nada a fim de ajudar em suas operações; se está provado que a existência deste Deus é impossível e que a natureza, sempre em ação, sempre em movimento, tem por si só o que agrada aos tolos lhe dar gratuitamente; se é certo supor que este ser inerte existiu, ele certamente seria o mais ridículo dos seres, visto só ter servido um único dia, e que após milhões de séculos, encontrar-se-ia numa inação desprezível; supondo que existisse, como as religiões no-lo pintam, ele seguramente seria o mais detestável dos seres, já que permitiu o mal sobre a terra, enquanto sua onipotência poderia impedi-lo; se tudo isso estivesse provado, como incontestavelmente está, crede então, Eugénie, que a piedade que liga o homem a esse Criador imbecil, insuficiente, feroz, desprezível, seria uma virtude absolutamente necessária?"

0 Comments:

Post a Comment



Postagem mais recente Postagem mais antiga Página inicial