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Do dia em que vivi por estar morrendo

Niterói, 19 de setembro de 2012



Restava-nos 20 minutos...

Disse-lhe que acenderia um cigarro e sairia para a varanda observar o espetáculo antes de morrer. Não poderia me esconder simplesmente. Se estava prestes a acontecer, não perderia por nada.

Desligamos os celulares. As últimas palavras de meu amigo foram: “Ah, liguei só para me despedir, caso algo aconteça”. As minhas foram: “Se acontecer, amigo, saiba que o amo”. Era recíproco o sentimento.

Não julguem por simples o acontecimento. Era um evento cósmico. Uma mistura de asteroide com colisão da lua com a Terra. Não tente entender, pois não é científico, nem tampouco lógico. Mas era urgente, era imperioso, era falso. Só o que existia era a imaginação. E, por fazer parte de mim, durante alguns minutos o mundo realmente acabou.

Lembrei-me de Montaigne. A morte naqueles instantes já não era algo terrível. Porém, não era também desejável. Era apenas algo a se esperar tranquilamente, sem medo, ao som de uma música que toca a alma, ao sabor da fumaça de um cigarro. A natureza quis assim: quis que a máscara mortuária fosse mais bela do que as quimeras de nossa imaginação decadente. A natureza se encarregou de meu medo. Já não havia nada a ser feito, a não ser esperar, apreciando os choques cósmicos.

Devo dizer que havia em meus olhos uma lágrima nascente. Estava prestes a chorar. Uma lágrima de nostalgia... Estava me despedindo. De tudo que me ocorreu, que me trouxe riso ou lágrimas, tudo haveria simplesmente deixar de existir. Eu deixaria de existir. Era a hora.

Coisas importantes subitamente tomam conta de nós quando vemos na distância Caronte em seu barco. Desesperados damos valor ao que antes era trivial. O mundo de pernas pro ar. Não por muito tempo. A barca se aproxima. E é bom que ela venha. É bela. Quem foi que inventou a estapafúrdia de que é feio o rosto de Thanatos?

Meu amigo escreveu: “Adeus dia em que achei que não acordaria, que deprimente fostes, e quão feliz serias...” Amigo, estávamos realmente felizes. Finalmente vivíamos, mesmo que em melancolia. Não diria, querido amigo, que deprimente foi aqueles minutos... antes, nostálgicos. Sentíamos já saudades daquilo que em breve perderíamos. Aí, então, a beleza que dizes: ao perder a vida, a encontramos. Triste é vivermos e, por isso, permanecermos mortos...

À Willian Lizardo, companhia por demais elevada, amizade por demais sincera...

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