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De "Entre Nós"

Niterói, 13 de setembro de 2010


Quero dizer, antes de mais nada, que esse texto foi escrito no final de julho desse ano, e que ele corresponde a lutas vivenciadas por mim lá trás! Essas lutas, digo, não deixaram de existir, mas se encontram um pouco adormecidas. Não existe nenhum mistério nessas palavras, nem uma frustração em meu relacionamento, mas posso dizer que nenhum relacionamento vive eternamente no auge, e esse texto é fruto de um momento intenso de desprazer e solidão. Pode ser que muitos não entendam ou me considerem radical, ora, contra isso já estou vacinado! Tudo isso aqui é pura estética...

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Entre nós

Pergunto-me se há possibilidade de fazer-te ouvir meu lamento, sem dele considerar-se a causa. Quero que leia minhas palavras inflamadas de pesar, sinta minha agonia e ainda sim vislumbre que não és tu o culpado. Quero fazer que entendas que é meu maior amor, mas ainda assim, meu maior crítico; que em suas palavras estão sintetizadas o que muitos pensam a cerca de mim. Quero que entendas que não há nenhum homem vivente que devo respostas, a exceção de você, e que por isso, desabafo. Quero que entenda que, como disse Nietzsche, eu nasci póstumo: “Alguns nascem póstumos (...) Eu estaria em completa contradição comigo mesmo se já esperasse hoje encontrar ouvidos e 'mãos' prontos para 'minhas' verdades; que hoje não se ouça nada de mim, que hoje não se saiba tirar nada de mim, isto não é apenas compreensível, mas me parece até mesmo normal.” Quero, por fim, que entendas que não possuo prazer na radicalidade ou na superioridade, mas que em mim existe o brado de um soldado ferido em guerra, lutando por sobreviver.

Existe em suas palavras potencia suficiente para me tirar da estagnação existencial. Por suas palavras ponho-me de volta a trilhar meu caminho. Infelizmente- como muitas vezes percebo em seus olhos – meu destino é ser assim: conflitante a você, conflitante a muitos. O que posso mais dizer? É minha essência. É o que me faz póstumo. Como diria o querido Hermann Hesse: “Não é agradável a minha história, não é suave e harmoniosa como as histórias inventadas; sabe a insensatez e a confusão, a loucura e o sonho, como a vida de todos os homens que já não querem mais mentir a si mesmos”. Não sei por que fui escolhido para isso, mas sei que devo sentir a aspereza da solidão ao dar o passo que me desliga dos meus pais e dos meus mestres, embora às vezes creia que não vou suportar.

Pode parecer egoísmo – como muitas vezes disseste – mas existem alguns que aspiram a si mesmos, antes de procurar entender tudo o mais. Talvez tenha que buscar e rebuscar o caminho durante anos a fio e ainda assim não poder chegar a nada, nem alcançar qualquer objetivo. O que quero apenas tentar viver o que brota espontaneamente de mim. Por que me é tão difícil?

É difícil para eu nascer: tenho que lutar para sair da casca do ovo. E para ainda assim, nascer póstumo. Para assim viver com padrões que roubam minha singularidade, minha paixão, minha beleza. E em meio a tudo isso, luto constantemente para ser menos radical. Contudo, não consigo: não posso viver mais o paraíso perdido de minha infância. Luto para ser adulto e ver a vida mais do que pessoas andando, correndo, se alimentando, procriando. Sei que existe algo mais que viver: existe o existir. Como ser maduro, se não romper com a infância? Não é egoísmo, é luta pela existência; luta para encontrar meu próprio caminho.

Ao longo do percurso, não é raro me sentir sozinho – mesmo que a ti isso não fale. Bem que eu queria te ter do meu lado, mas, meu amor, choro por ter de dizer que você não pode trilhar esse caminho comigo. Você não pode responder minhas perguntas, você não pode lutar contra meus demônios. Você tem a luta consigo mesmo, e a ti mesmo se basta. Não é misantropia, mas é saber que os demais também necessitam encontrar seus caminhos por si mesmos. Talvez minhas idéias você ainda não consiga compreendê-las, mas não significam desprezo por você, pelas pessoas e pelos relacionamentos, mas sim a falta de ter a mim mesmo.

Anos vivi em função dos outros, de seus sonhos, de seus desejos, de seus planos, de suas tarefas, e o que encontrei além de frustração?! Seria errado dizer que agora quero a mim mesmo? Que agora quero ser eu? Sim, pode parecer egoísmo e misantropia, mas não passa da tentativa de reconquistar meu amor próprio... eu que muito chorei por frustrar quem mais amava. Portanto, com os olhos margeados por lágrimas, digo que não quero frustrar mais um amor, mas se isso for inevitável, perdoe-me: eu apenas quero ser aquele por quem um dia você se apaixonou...

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