Niterói, 20 de agosto de 2010
Nietzsche em todo seu caminho na filosofia afirmou que nascera póstumo. Toda a sua filosofia, fruto de uma mente brilhante, consistem em algo totalmente subversivo; numa crítica ferrenha à metafísica, à religião, e à ciência. Seus escritos, por serem tão conflitantes aos outros, não deram-lhe popularidade, e sua filosofia foi posta de lado por toda academia filosófica. Por isso, afirmara: “Há homens que já nascem póstumos”. Póstumo porque acreditava que seus escritos eram para o porvir, para as pessoas futuras – que entenderiam seus textos. Nietzsche estava totalmente certo...
Não obstante Nietzsche, hoje começo a perceber que os grandes pensadores, não só na filosofia, mas em todos os saberes, nasceram póstumos. Aos montes são os poetas que só depois de sua morte é que tiveram seus versos lidos e estudados; igualmente os cientistas que foram ao escárnio com suas teorias, e que só muitos anos depois elas foram confirmadas e aceitas; além de outros filósofos que como Nietzsche, também foram ridicularizados e hoje são referência.
Interessante é que nós, pensadores em formação, quando olhamos para dentro de nós mesmos e enxergamos toda nossa complexidade, toda subversão, todas as idéias não convencionais, somos tomados por desespero. Afinal, sabemos – como se fosse uma intuição – que a maioria dos que nos lêem, ouvem ou nos conhecem não entendem o que dizemos. Assim, o que nos é particular, brilhante, desejável e único, se torna uma maldição. E dessa maldição sai veneno: veneno que sentimos na boca, veneno que afasta as pessoas, veneno que nos põe a chorar.
Nietzsche é apenas uma personificação de um grupo de muito que também se consideram póstumos. O que era duma dádiva e se tornou em maldição nos torna póstumos. Muito pensadores morrem em descrédito, sozinhos, em desonra e vergonha. Nietzsche morreu em 1900, solitário; mas não solitário de familiares, porém, solitário de pessoas que o compreendessem. Eu nasci póstumo, qual meu futuro?