Niterói, 03 de dezembro
de 2012
Por vezes deparo-me
com o coração palpitante de um amigo meu. Se não bastasse o coração
querer fugir de sua prisão carnal, observo mãos suando, olhos inquietos, fala
entrecortada. Diagnostico: de um mal
sofre meu amigo: paixão.
Arrebatado pela própria imagem refletida nesse belo
ser que acabou de conhecer, encontra-se epifânico. De tão leve que está, seus
pés não estão mais na terra; olha-nos de cima, lá do céu. O Sol que é esse
amado faz com que meu amigo não deseje estar mais entre nós. Ele quer luz, calor e altura. Tudo que
costumeiramente não encontramos aqui embaixo. Meu querido amigo percebeu o
quanto é bom voar. Levantou vôo.
É, entretanto, a altura que mete-lhe medo. Maior
altura, maior a queda. Seu coração palpita de paixão e de medo. A paisagem lá
de cima confere-lhe esperança, mas certo, para ele, é a dor de cair de um lugar
tão alto. A queda é certo, a esperança, mãe da ilusão. Meu amigo está confuso.
Se aqui escrevo, escrevo ao meu amigo para dizer-lhe
que não tenha medo. Não do medo do fracasso, pois esse está muito a frente e
pode nem vir a suceder. Que não tenha medo de voar, de experimentar, de sentir
a vertigem dos lugares altos. Não é necessário, entre nós, querido irmão e alma
gêmea, os conselhos da temperança: nos conhecemos demais para receitar-nos tal
preceito. Impulsivos e aventureiros que somos, resta-nos viver esses momentos e
apreciar as novas paisagens. Merecemos algumas horinhas de Sol.
Não tenha medo, amigo! A distância é sua. E, se por
acaso houver de cair, ora, estarei aqui embaixo para curar os ferimentos. Se
isso acontecer, e é provável que aconteça – cedo ou tarde – da minha boca não
sairá o veneno dos moralistas medrosos: “Eu te disse...”
Voe, e, quando estiver bem lá em cima, tire uma foto e
envie por cartão postal... Vou querer saber como é esse novo Sol.
À Willian Lizardo