Niterói, 30 de março de 2011
Final de tarde. O céu esta completamente cinza, e sinto o ar gelado do outono passando, beijando cada pedacinho de mim. Vejo as nuvens carregadas de chuva flutuando bem alto sobre minha cabeça. Observo que os pássaros voam retornando aos seus ninhos, e paro olhando diretamente para o túnel formado pelas árvores de troncos vermelhos, tal como a canela, à minha frente, nesse momento que me encontro sentado ao lado da biblioteca da Universidade.
Esse túnel é um portal por onde meu olhar se perde num lugar remoto, onde o tempo está parado e onde o céu continua cinzento, as nuvens carregadas, e o ar gelado. Mas neste lugar eu estou completamente sozinho. Eu e os prados verdes debaixo dos meus pés, a floresta densa no horizonte, o céu sobre a minha cabeça e esse sentimento de complitude dentro de mim. Um vazio de todas as pessoas... somente, eu.
Meus medos e eu. Minhas dores e eu. Meu desespero e eu. Minha solidão e eu. A ausência e eu. A falta de aspiração e eu. Somente eu. Inteiramente eu. Não pensando nada, nada desejando nada, apenas sentindo... e que sensação...
As árvores e som de suas folhas farfalhando me convidam a ir, a viajar para este lugar. Lugar da minha solidão. Lugar onde o meu eu não machuque o eu do outro. Este lugar que é perfeito para mim... Lugar em que a morte não me assombra, antes, a desejo.
Eu quero ir! Quero atravessar o portal das árvores cor de canela. Quero que o tempo em minha volta continue, mas que ninguém mais haja ao meu redor. Quero que esse momento, que este tempo, que essa beleza seja eterna, para que meu coração descanse e que essa eterna morte me console.
Alan B. Buchard