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Do final da tarde

Niterói, 30 de março de 2011


Final de tarde. O céu esta completamente cinza, e sinto o ar gelado do outono passando, beijando cada pedacinho de mim. Vejo as nuvens carregadas de chuva flutuando bem alto sobre minha cabeça. Observo que os pássaros voam retornando aos seus ninhos, e paro olhando diretamente para o túnel formado pelas árvores de troncos vermelhos, tal como a canela, à minha frente, nesse momento que me encontro sentado ao lado da biblioteca da Universidade.

Esse túnel é um portal por onde meu olhar se perde num lugar remoto, onde o tempo está parado e onde o céu continua cinzento, as nuvens carregadas, e o ar gelado. Mas neste lugar eu estou completamente sozinho. Eu e os prados verdes debaixo dos meus pés, a floresta densa no horizonte, o céu sobre a minha cabeça e esse sentimento de complitude dentro de mim. Um vazio de todas as pessoas... somente, eu.

Meus medos e eu. Minhas dores e eu. Meu desespero e eu. Minha solidão e eu. A ausência e eu. A falta de aspiração e eu. Somente eu. Inteiramente eu. Não pensando nada, nada desejando nada, apenas sentindo... e que sensação...

As árvores e som de suas folhas farfalhando me convidam a ir, a viajar para este lugar. Lugar da minha solidão. Lugar onde o meu eu não machuque o eu do outro. Este lugar que é perfeito para mim... Lugar em que a morte não me assombra, antes, a desejo.

Eu quero ir! Quero atravessar o portal das árvores cor de canela. Quero que o tempo em minha volta continue, mas que ninguém mais haja ao meu redor. Quero que esse momento, que este tempo, que essa beleza seja eterna, para que meu coração descanse e que essa eterna morte me console.

Alan B. Buchard

Do movimento da vida

Niterói, 06 de março de 2011


A vida passa por nós tal como o trem por cima dos trilhos: veloz, pesado, sem intenção de parar. Quando se é jovem a velocidade, o peso e o movimento constante da vida em direção a um futuro próximo não parecem ser tão difíceis de acompanhar e de suportar. Com todo o entusiasmo e o vigor dos anos que sucedem a infância, parecem não existir empecilhos para aquele que mais quer viver do que pensar. Então, cabe a vida passar sem ser percebida.

Mas sempre houve e sempre haverá momentos durante as madrugadas chuvosas e silenciosas onde a vida diminuirá seu passo, permitindo ser vista, permitindo ser observada e saboreada. Uma nova vida descortinando-se aos olhos daquele que durante a insônia não quis ficar apenas deitado. Um novo matiz, novas cores, novos cheiros... tudo acontecendo assim, novo.

Eis que algo perturba essa visão. Alguma obrigação corriqueira, algum acontecimento cotidiano, uma súbita mudança de humos, e eis ela, a vida, acelerando de novo. Correndo veloz como o vento nos trilhos de nossa vida. E a imagem desvanece. Assim, ficamos sós novamente, sem termos capturado a essência da vida, que de tão sutil, não é percebida em movimento.

Alan B. Buchard

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