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Da perseguição

UFF, 11 de maio de 2011

Existe algo que me persegue: a morte. Mas ora, na verdade, ela persegue a todos; a mim, no entanto, persegue algo mais específico: o suicídio!


Em alguns essa palavra, por si só, já causa arrepios, em outros tantos, raiva. Ademais, seja pelo arrepio de se imaginar matando a si próprio, seja pela raiva daqueles que consideram isso uma covardia, algo fica muito claro: matar-se é assunto de conversa para poucos. Na verdade, para muito poucos...

A maior preocupação é viver! Que doido ficará pensando na morte, ou mais especificamente, no suicídio? De qualquer maneira, estou sempre a pensar nesse assunto. Em algumas vezes estou como um psicanalista, analisando seu paciente de longe, outras, como um atirador pronto a disparar a arma; são dois momentos distintos, duas sensações radicalmente dessemelhantes, porém, o interessante é que sempre estou a experimentar a morte - e costumeiramente o suicídio.

Meu último contato foi ontem: Ana Arcadiêvna, esposa cívica de Aliekisei Aleksandrovitch, mas mulher do coração de Aliekisei Vronski, não vê saída para sua vida atolada num divórcio inalcansável, na dolorosa separação de seu filho Sierioja, nos ciúmes do homem a quem mais amava, e na mentira de sua vida social em Moscou, não resiste: pedindo perdão a Deus por sua alma, ela se joga nos trilhos do trem que aguardava.



Meu penúltimo contato foi ontem novamente: Estudando o Estoicismo no grupo de extensão sobre Helenismo, conversávamos sobre Sêneca, e o quanto sua filosofia eliminava o medo da morte e louvava o suicídio deliberado - àquele onde o indivíduo, feliz com sua vida, e contente por ter vivido tudo o que pretendia viver, se retira da vida. Pois, ora, como disse o filósofo, mais vale viver bem do que viver muito. Um detalhe: este filósofo foi "convidado" a suicidar-se... E ele assim fez sem nenhum temor ou ressentimento! (Sobre essa incrível filosofia falarei no post posterior)

(Sêneca)

Meu antepenúltimo contato foi há algumas semanas atrás: Ao terminar de ler o livro "Um Amor Exclusivo" de Johanna Adorján, onde ela conta a história de seu avô e de sua avó, que após quase 50 anos de casamento e após terem sobrevivido ao Holocausto e ao Comunismo, eles decidem suicidar-se por não suportarem viver longe um do outro. O final é de tirar o fôlego...



Seja através dos livros, da filosofia, ou até mesmo dos sonhos - não raro sonho que o mundo está acabando, o que por consequência, significa minha própria aniquilação - eu venho me encontrando com a Morte; com isso que tanto assombra os homens, e que tanto me traz perturbação. Nessas horas apenas me lembro do lema do Barroco: "Memento Mori", ou em outras palavras, pense na morte. Pensar, lembrar-se que se é mortal, que a morte é inevitável, que a morte é a maior das certezas!

(Vanitas - Phillippe de Champaigne: Vida, Morte e Tempo)


Eu sou perseguido! E num momento de ócio a morte, em específico, o suicídio, veio-me a mente. Lembrei-me do meu fim, e portanto, da inutilidade de muitas coisas que faço ou que penso. Restando-me apenas o desejo de se viver bem, e de não temer algo que é tão natural quanto o nascer!

Alan B. Buchard

PS: Ao que escrevo tudo isto, encarno o psicanalista... 

PPS: Para ilustrar: Raither disse-me ontem que os livros que leito só falam de morte e suicídio! Vê-se que não minto...Do perseguido

1 Comment:

  1. Raither Filipe said...
    Toda manhã não é mais um dia e sim menos um. E certamente meditar sobre a morte nos faz querer viver melhor pois já vem ela. Afinal essa é a unica certeza da vida: morreremos. Sendo assim, pra que adiantarmos algo que já nos está predestinado?

    Suicidar-se pelo lado ruim da vida!? Sempre há como melhorar ou piorar, mas vive-se antes para saber/experimentar. E caso seja pelo lado bom, qual julgamento aplicaremos para definir o bom? Porque amanhã pode estar melhor.

    Tudo cai no SE isso ou SE aquilo. Portanto espere... que ela vem ;)

    Mas eis que surge grande questão: o que vem após ela? Não há resposta e nunca haverá! E mesmo assim, cada um tem sua resposta para "o depois", baseando-se no que crê piamente.

    Ai sim, estando certo consigo mesmo e segundo a sua fé: môrrrraaaa viado! auhauhauhua =P (isso não é pessoal não ta morzim... só expressão mesmo - nem direciono o texto pra vc... e sim pro assunto)

    Agora, toma nota e cuidado: quem busca encontra! hehe

    PS: penso assim tendo base numa pessoa solteira, sem pais, sem amigos, sem nenhum vínculo, pois se algum tiver eu já considero egoísmo, baixa auto-estima etecétera etecétera.

    Acho que não deve-se viver pelo ou para os outros, mas...

    Se tenho vínculos e vou me matar porque estou bem; é egoísmo ao meu ver. Porque não dividir isso?
    Considero o ser humano um animal que só sabe viver em bando.

    Se tenho vínculos e vou me matar porque estou mal; é baixo alto-estima ou qualquer coisa assim... Porque não pedir ajuda?

    haaaa sei lá... é isso ai \o/
    hehe

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