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Niterói, 03 de junho de 2011

Hermann Hesse é, atualmente, o escritor alemão que mais admiro. Filho de pais protestantes que queriam que ele se tornasse um missionário, Hesse abandona tudo, muda de país e se torna um dos maiores escritores representantes da literatura alemã. Hesse é existencialista, além de ter sido profundamente influenciado por Nietzsche.

Seu livro “O lobo da estepe”, que leio no momento, é uma obra profundamente marcada pelo conflito entre os impulsos naturais do ser e as contenções espirituais de sua contraparte; tal qual acontece em seu autor. Hermann também escreveu “Demian” um de meus livros favoritos e que já comentei em outras postagens. Estas agora servem para salientar os fragmentos mais interessantes – na minha visão – acerca da vida de Harry Haller, protagonista do livro, e alter ego de Hesse.

Lembrando que se trata de literatura alemã, ou seja, textos impregnados de sofrimento, desespero, conflito, questionamentos e outras coisas mais...


“O Lobo da Estepe”

por Hermann Hesse


“Convenci-me de que Haller era um gênio do sofrimento; que ele, no sentido das várias acepções de Nietzsche, havia forjado dentro de si uma capacidade de sofrimento genial, ilimitada e terrível. Também me apercebi de que a base de seu pessimismo não era o desprezo do mundo, mas antes o desprezo de si mesmo, pois, podendo falar sem indulgência e impiedosamente das instituições e das pessoas, nunca excluía a si próprio; era sempre o primeiro a quem dirigia suas setas, o primeiro a quem odiava e desprezava.

Devo acrescentar aqui uma observação psicológica: embora saiba muito pouco sobre a vida do Lobo da Estepe (Haller), tenho bons motivos para acreditar que foi educado por pais e professores bondosos, porém severos e muito devotos, desses que fundamentam toda a educação no ‘quebrantamento da vontade’. Tal destruição da personalidade e quebra do deseja não foram conseguidas com aquele aluno, de cuja prova saiu mais insensível e duro, orgulhoso e espiritual. Em vez de ter sua personalidade destruída, ele conseguiu aprender somente a odiar a si mesmo. Contra si próprio, contra esse objeto nobre e inocente, dirigiu a vida inteira toda a genialidade de sua fantasia, toda a força de seu poderoso pensamento. Foi precisamente através do Cristo e dos mártires que aprendeu a lançar contra si próprio, antes de mais nada, cada severidade, cada censura, cada maldade, cada ódio de que era capaz. No que respeitava aos outros, ao mundo em redor, sempre estava fazendo os esforços mais heróicos e sérios para amá-los, para ser justo com eles, para não fazê-los sofrer, pois o ‘Amarás ao teu próximo!’ estava tão entranhado em sua alma como o odiar-se a si mesmo; assim, toda a sua vida era um exemplo do impossível que é amar o próximo sem amor a si mesmo, de que o desprezo a si mesmo é em tudo semelhante ao acirrado egoísmo e produz afinal o mesmo desespero e horrível isolamento.”

(O Lobo da Estepe. Hermann Hesse, Ed. Bestbolso, RJ, 2010, p. 19-20)

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