Niterói, 07 de abril de 2010
(Juízo Final - Michelangelo - Capela Sistina)
Eis aí um problema teológico e filosófico! Desta resposta depende toda uma estruturação da religião que estrutura uma sociedade, já que deste dilema depende a fé de milhares de pessoas. Nesse embate se debruçaram pensadores de todas as épocas, e sem sucesso chegaram a uma conclusão que não conclui nada, mas que apenas mostra que o problema está longe de ser resolvido.
É bem sabido que no âmbito filosófico racionalista, que consiste no maior grupo atualmente, que o ser humano é completamente livre, uma vez que não existam divindade e/ou poderes externos capazes de interferir na ordem daqui debaixo, conduzindo-nos à prosperidade ou à destruição. Seus postulados são a razão empírica, e seus cálculos são matemáticos. Todos os conceitos surgem da observação, que passa para a comprovação, e por fim, à definição das coisas que existem. Nestes, sua razão é o guia, e o limite não existe. Os acontecimentos são ditados segundo a ordem das escolhas, e suas conseqüências uma sucessão de fatores.
Por outro lado, foge-nos alguns acontecimentos que aparentemente não possuem explicações racionais e que questionam se tudo é realmente uma questão de escolhas. Aqui os místicos se apropriam dos mistérios e da metafísica e nelas tecem explicações. E catástrofes inesperadas, coincidências inexplicáveis, acontecimentos misteriosos fazem barreira ao domínio completo da razão. O mistério zomba da mulher de seios despidos que segura a bandeira da França e que brada: Igualdade, liberdade, fraternidade.
Se as pessoas obtêm, após muito custo, um resultado desejado ela passa a cantar as glórias de sua façanha, mas se o vôo que ela perdeu porque se atrasou termina em desastre, ela se questiona se o seu futuro não está premeditado. É uma esquizofrenia completa de extremos que se contradizem, mas que convivem como que para dar sentido às coisas.
Alguns cientistas afirmam ser culpa do homem o aquecimento global, outros, no entanto, dizem se tratar de um processo periódico terrestre. De um lado as escolhas nos levam à destruição, do outro, a existência já é a destruição. Ou o homem está por traz de tudo, ou há algo muito maior.
Como conciliar os opostos? Parecem existir apenas duas opções: o mundo é físico, o conhecimento parte do físico, os acontecimentos refletem o físico; ou existe uma mundo metafísico onde os homens não possuem voz ativa nas assembléias dos deuses, e onde tudo o que acontece é decidido anteriormente. Parece não existir o meio-termo.
Se por um lado o livre arbítrio nos lança numa busca constante pela superação, pela inovação, pela criação, o mundo predestinado nos leva a uma estagnação, uma espera, uma aceitação de algo que não está ao nosso alcance. Tudo gira em torno desses opostos conciliadores, e todo humano já se viu no meio do campo de batalha desses dois poderes.
O filósofo puramente racionalista considera ter superado a existência de algo externo e superior, mas qual deles afirmaria com certeza que suas escolhas são apenas fruto de suas mentes, e não de um plano pré-estabelecido que determinou qual decisão ele haveria de tomar? E qual teólogo calvinista não se perguntou se a divindade, com todas as suas preocupações e propósitos, lhe entregou o cetro do destino e virou as costas, lavando as mãos?
O mundo parece girar entre essas interrogações e esperar impacientemente pelas respostas que sabe que não serão respondidas. Por isso, todos nós e tudo a nossa volta geme porque os opostos nos confundem e sabe lá o porquê de não serem esclarecidos.