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Da abstração

Cachoeiro, 25 de abril de 2010


Não me perdôo, sou abstrato. Numa mente como a minha 1+1 não pode ser igual a 2. Se me fizessem essa pergunta matemática, o mais provável é que eu responda com uma pintura de Picasso. Não me perdôo, não sou simples.

A existência é algo que não entendo; são muitas formas de ver. Quisera eu, sim, com o fundo do coração, ver formas sólidas e inteligíveis, mas, pelos deuses, por que minhas formas não têm contorno? Por que tudo à volta tem que ser um eterno exame e reavaliação? Não poderia eu chegar a um acordo comigo mesmo? Não, ela zomba de mim! Sim, a abstração cospe em minha face.

Não me perdôo. Sei que posso ver tudo mais simples, sem muita complicação, mas por que, oh Mente Desconhecida, guardaste para mim sua mais terrível maldição? Acasos não vês que sofro assim? Não, não entendo porque não simplifico as coisas, antes, quero questionar até não existir mais resposta. Não me perdôo, não sou como a maioria.

Se deixar levar é mais gostoso, divertido, garantida de tranqüilidade. Mas não, tenho que ser abstrato. Pros infernos essa abstração! Tenho que gostar de uma pergunta; tenho que gostar de um debate prolongado... As pessoas não gostam disso, é incômodo demais. Do que gostam é da objetividade; é o que há. Mas não, tinha que gostar logo da subjetividade...

CAOS, sim, bagunça! Tudo é desconexo e isolado, com ínfimas possibilidades de unidade. CAOS, eterna confusão, minha mente. Um turbilhão de pensamentos que chocam entre si, sendo agrupados, mas logo chegando à destruição. O CAOS das convicções, das idéias, das visões, dos sentimentos, das verdades. Tudo desorganizado e abstrato. Não me perdôo.

Não me perdôo, porque vejo que há possibilidade de ser diferente, mas a abstração é maior que eu. Não me perdôo, porque dá para organizar, mas gosto de ser desorganizado, o que me leva ao sadismo. Não me perdôo, porque talvez, ser mais simples pode ser melhor, mas insisto no CAOS. Pros infernos, terrível e alucinada abstração...

Niterói, 07 de abril de 2010

(Juízo Final - Michelangelo - Capela Sistina)

Eis aí um problema teológico e filosófico! Desta resposta depende toda uma estruturação da religião que estrutura uma sociedade, já que deste dilema depende a fé de milhares de pessoas. Nesse embate se debruçaram pensadores de todas as épocas, e sem sucesso chegaram a uma conclusão que não conclui nada, mas que apenas mostra que o problema está longe de ser resolvido.

É bem sabido que no âmbito filosófico racionalista, que consiste no maior grupo atualmente, que o ser humano é completamente livre, uma vez que não existam divindade e/ou poderes externos capazes de interferir na ordem daqui debaixo, conduzindo-nos à prosperidade ou à destruição. Seus postulados são a razão empírica, e seus cálculos são matemáticos. Todos os conceitos surgem da observação, que passa para a comprovação, e por fim, à definição das coisas que existem. Nestes, sua razão é o guia, e o limite não existe. Os acontecimentos são ditados segundo a ordem das escolhas, e suas conseqüências uma sucessão de fatores.

Por outro lado, foge-nos alguns acontecimentos que aparentemente não possuem explicações racionais e que questionam se tudo é realmente uma questão de escolhas. Aqui os místicos se apropriam dos mistérios e da metafísica e nelas tecem explicações. E catástrofes inesperadas, coincidências inexplicáveis, acontecimentos misteriosos fazem barreira ao domínio completo da razão. O mistério zomba da mulher de seios despidos que segura a bandeira da França e que brada: Igualdade, liberdade, fraternidade.

Se as pessoas obtêm, após muito custo, um resultado desejado ela passa a cantar as glórias de sua façanha, mas se o vôo que ela perdeu porque se atrasou termina em desastre, ela se questiona se o seu futuro não está premeditado. É uma esquizofrenia completa de extremos que se contradizem, mas que convivem como que para dar sentido às coisas.

Alguns cientistas afirmam ser culpa do homem o aquecimento global, outros, no entanto, dizem se tratar de um processo periódico terrestre. De um lado as escolhas nos levam à destruição, do outro, a existência já é a destruição. Ou o homem está por traz de tudo, ou há algo muito maior.

Como conciliar os opostos? Parecem existir apenas duas opções: o mundo é físico, o conhecimento parte do físico, os acontecimentos refletem o físico; ou existe uma mundo metafísico onde os homens não possuem voz ativa nas assembléias dos deuses, e onde tudo o que acontece é decidido anteriormente. Parece não existir o meio-termo.

Se por um lado o livre arbítrio nos lança numa busca constante pela superação, pela inovação, pela criação, o mundo predestinado nos leva a uma estagnação, uma espera, uma aceitação de algo que não está ao nosso alcance. Tudo gira em torno desses opostos conciliadores, e todo humano já se viu no meio do campo de batalha desses dois poderes.

O filósofo puramente racionalista considera ter superado a existência de algo externo e superior, mas qual deles afirmaria com certeza que suas escolhas são apenas fruto de suas mentes, e não de um plano pré-estabelecido que determinou qual decisão ele haveria de tomar? E qual teólogo calvinista não se perguntou se a divindade, com todas as suas preocupações e propósitos, lhe entregou o cetro do destino e virou as costas, lavando as mãos?

O mundo parece girar entre essas interrogações e esperar impacientemente pelas respostas que sabe que não serão respondidas. Por isso, todos nós e tudo a nossa volta geme porque os opostos nos confundem e sabe lá o porquê de não serem esclarecidos.

Da mente em tempestade

Niterói, 02 de abril de 2010


Existe algo que me irrita profundamente: ter muito na mente, e não conseguir decodificá-las em imagens conexas, que possuam sentido. É um estado de impotência que se agarra em mim, não me permitindo traduzir em palavras a tempestade de pensamentos que ocorre em minha cabeça! Em cima de mim se encontram desordenadas todas as palavras que formariam o que chamo de idéias, mas nesse momento, eu não consigo alcançá-las. Meus braços não conseguem puxá-las e logo se dissipam.

Permaneço extremamente frustrado e perplexo por conta de minhas inabilidades em traduzir esses mistérios transeuntes em minha mente. Creio que seja algo que trará um ponto novo, jovem às minhas reflexões, à minha existência, porém, basta eu buscá-las, elas se afastam de mim.

Consumo-me em raiva e tento escrever algo que possa fazer com que essa preciosa idéia retorne a mim e se instale em meu caderno, contudo, escrever confunde-me ainda mais. Às vezes não consigo controlar minha mente, e ela se torna meu carrasco, infligindo convulsões psíquicas que só fazem exaurir minhas forças.
Ao mistério daquilo que sei que existe, mas que não consigo dizer o que é, entrego-me à luta contra mim mesmo, para que possa triunfar na batalha. Porém, meu flagelo, minha mente, prega-me peças e às vezes chego a achar que me encontro que me encontro abismado com algo, quando na verdade comecei me abismar por algo completamente distinto.

Essas idéias que permanecem flutuando sobre mim e das quais não consigo me apropriar, irritam-me a cada instante, e por mais que eu tente, não consigo retê-las. Ah! Que terrível frustração... Nem minha própria mente serve-me de ajudadora, antes me confunde ainda mais. E por mais que tenha vontade de arrancá-la de mim, ela não permite, afinal, ela se alimenta de mim, e dela tornei-me seu vassalo! Que terrível, que terrível, minha mente se encontra no olho de um furacão que não sei se um dia deixará de girar...

Que terrível!

formspring.me

Niterói, 07 de abril de 2010

Pergunte-me o que pensa-te... http://formspring.me/alanbuchard

Da persuasão III

Niterói, 17 de março de 2010


Por mais que considero os outros dois textos sobre a persuasão importantes, creio ser este o mais. Visto que eu já esbocei sobre alguns exemplos de como a persuasão encaminha as pessoas a muitos rumos diversos, não haveria de me aprofundar num ponto do qual já escrevi anteriormente, mas de que sou acusado ainda?

Seja como for, repito-o, verdade eles não proferiram nenhuma ou quase nenhuma; de mim, porém, vós ides ouvir a verdade inteira. Mas não, por Zeus, atenienses, não ouvireis discursos como os deles, aprimorados em nomes e verbos, em estilo florido; serão expressões espontâneas, nos termos que me acorrerem, porque deposito confiança na justiça que digo; nem espere outra coisa quem quer de vós.” (Apologia à Sócrates, Platão)

Como alguns não me devem conhecer, talvez não tenham se dado conta de minha história e de como foi propagado que eu manipulava as pessoas com as palavras, escritas ou faladas. Bem, obviamente que quem diz tais inverdades está preocupado com a manutenção de uma ordem, ou são seus pupilos. Tal ordem significa um conjunto de comportamento, imposto inconscientemente e/ou conscientemente, às pessoas, descaracterizando-as, transformando-as em massa, ferramenta para suas manobras. E quem quer que diga algo que contrarie ou critique tal sistema é irracionalmente taxado de, no mínimo, herege.

Neste ponto que entra a acusação contra mim de que uso de persuasão para levar pessoas a romperem com suas doutrinas. Ora, as palavras têm por si só poder de transformação e de crítica, por isso tais acusações são direcionadas a algo que não existe.

Não acho ruim que digam que tento persuadir seja quem for, já que como disse no texto “Persuasão I”, meu objetivo secundário é persuadir. Meu objetivo não consiste na pretensão de persuadir as pessoas para meu lado em específico, e sim persuadir para que não se deixem persuadir por argumento belo que for, sem que antes os tenha analisado. Se houver, como logicamente haverá aproximação de visões e a aceitação de determinado postulado, que se suceda depois de uma profunda reflexão, nunca antes disso. Tal se sucedeu a mim. Depois de muito pensar, questionar, ouvir, e aprender, decidiu romper com as tradições e com o discurso de terror da instituição religiosa.

Afirmo por fim que não é de meu interesse que as pessoas rompam com a igreja como fiz, e que não caricaturem tantos os seus líderes como eu faço, afinal, trata-se de pontos de vista. Minha luta está em tentar, tendo êxito ou não, mostrar que aceitar sem questionar é para animais.

Saudações.

Da persuasão II

Niterói, 17 de março de 2010

Jaques-Louis David (A morte de Sócrates - 1787)

Não sei atenienses, que influência exerceram meus acusadores em vosso espírito; a mim próprio, quase me fizeram esquecer quem eu sou, tal a força de persuasão de sua eloqüência. Verdade, porém a bem dizer, não proferiram nenhuma. Uma, sobretudo, me assombrou das muitas ‘acusações falsas’ que disseram sem fundamento: a recomendação de cautela para não vos deixardes ‘iludir’ pelo orador formidável que sou. Com efeito, não se envergonharem de me haver eu de desmentir prontamente com os fatos, aos mostrar-me um orador nada formidável, eis o que me pareceu o maior de seus descaramentos, salvo se essa gente chama formidável a quem diz a verdade; se é o que entendem, eu cá admitiria que, em contraste com eles, sou um orador.” (Apologia à Sócrates, Platão)

Como continuação, em assunto, do texto anterior, veio a bem calhar esse trecho da obra de Platão que mostra Sócrates diante de um tribunal, sendo acusado de perverter a juventude ateniense e de cultuar deuses estranhos, contrários aos adorados em Atenas. O trecho que transcrevi é o início daquilo que seria a defesa do filósofo, que apesar de tão profunda e sincera, não conseguiu evitar sua condenação: morte pelo veneno cicuta.

O que na verdade quero retratar com este novo texto é exatamente esta habilidade que alguns possuem de persuasão, que da forma como utilizam é indecente e muito pouco moral.

Recordo-me, para tanto, de algo que me ocorreu em maio passado, ocasião onde fui convocado a prestar contas de minha sexualidade diante dos ministros de minha ex-igreja: o ministro titular e o de jovens. Muitos que não passaram por essa inquisição talvez não saibam a dimensão desconcertante dessa situação, mas alguns bruxos e bruxinhas saberão do que se trata o que digo.

O que ocorreu naquele gabinete foi algo semelhante ao ocorrido a Sócrates: um réu acusado, dois inquisidores, e uma lista de pecados cometidos contra o vigente governo. Acusado de destruir famílias e de causar extremo sofrimento a uma igreja em seu centenário, este foi o cerne de seus jogos persuasivos. Durante algum tempo os inquisidores pintaram um quadro escatológico, culpando-me a ruína da PIBCI. E usando de sua eloqüência conseguiram me abalar, e fazer com que eu chorasse, o que os ingênuos pensaram ser minha consciência pensando.

Como afirmou Sócrates “a mim próprio, quase me fizeram esquecer quem sou tal força de persuasão de sua eloqüência”, eu também quase me esqueci da realidade ao imaginar um quadro ilusório que os sacerdotes criaram. Abro uma observação: se querem se sentir extremamente inferiores e o último dos hereges visitem esses gabinetes! Contudo, o que me manteve a sanidade foi a verdade. A verdade que o que ocorria não significava nada a não ser chantagem emocional e dogmática, além dos fatos serem em sua maioria, senão todos, exagerados.

Como se essas acusações não fossem o suficiente, passaram a acusar-me de persuadir outros, usando de argumentos filosóficos e teológicos, trazendo-os para minha visão. Ora, tal fato eu hei de desmentir, já que não se tratava de discursos eloqüentes para convencer leigos, mas de expor minha experiência, contudo, se mostrar uma verdade a todos é fazer uso da filosofia, sim, dela eu fiz uso!

Mesmo da forma como eu aqui resumi, esta história não poderia ser diferente da de Sócrates: fui convidado forçosamente a me desligar da comunidade religiosa, assim como Sócrates foi forçado a se matar. E por fim, nessa hora afirmava como o filósofo: “Bem, é chegada a hora de partirmos, eu para a morte, vós para vida. Quem segue melhor rumo, se eu, se vós, é segredo para todos, menos para a divindade”. Cada um faça sua interpretação.

Da persuasão I

Niterói, 17 de março de 2010


Posso afirmar praticamente que meus textos possuem dois públicos alvos. Certamente o primeiro consiste nas pessoas que, como eu, reconhecem em si algo de diferente, algo que no fundo sabe o que significa, mas que ao mesmo tempo traz confusão, algo que parece ser mais forte que si e que por mais que esconda, constantemente vem à tona; nas pessoas que para serem “bem vistas” na sociedade falsificam toda a sua existência. O segundo público é aquele que engloba todas as pessoas próximas a mim, como família, amigos e até mesmo (ex) líderes que com os quais não tive oportunidade de expor o que aqui escrevo sem que antes me censurassem, sem que antes se portem com fanatismo.

Pois bem, trata-se de textos cujo objetivo é secundarmente a persuasão, porém, primeiramente de expor uma verdade que até então permaneceu em oculto. À estas verdades muitos, senão a maioria, se portam totalmente austeros e contra, como se o que eu fosse dizer iniciasse um processo que traria ruína à seus sistemas. Ao passo que por outro lado vejo à cada dia novas pessoas expondo à mim suas lutas, que se assemelham às minhas, usando como inspiração estas linhas.

Talvez alguém posso questionar a minha dignidade ao me servir de exemplo à outros, afirmando que por um lado eu possuo êxito nessa campanha, por outro lado, destruo as famílias e as amizades. Eventualmente, hei de confessar, que essas relações são de fato abaladas quando alguém se assume quem realmente é, contudo, esta não é a intenção. O que pretendo é contar minha própria história e deixar que ela por si só exponha a verdade à outros, consolando-os ou irritando-os.

Considero bem sucedida minha postura ao ver pessoas, mesmo que não publicamente, se assumindo, libertando-se dos antigos vícios que lhes foram impostos, seja pela família, pela sociedade ou pela religião. O sucesso de minha persuasão, de que ninguém pode reclamar pois da mesma forma assim procedem, atinge sua completude quando além de se assumirem, passam a batalhar por si mesmas.

Quanto aos méritos, creio que não podem ser direcionados à mim ou à minha “influência”, mas à pura vontade e coragem daquele que como eu não suportou mais a esquizofrenia de ser alguém e viver como se fosse totalmente oposto.

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