Guarapari, 11 de Janeiro de 2011
(Berlim ocupada pela URSS)
As duas últimas postagens que fiz, relaciona-se de uma forma ou de outra com o Holocausto, com Auschwitz, com nazismo, com horror. Ao ler meu romance atual, A escolha de Sofia, pus-me a pensar em tudo quanto aconteceu por aquelas bandas da Europa durantes dos idos do final da década de 30 e inicio da de 40.
Eu nasci no início da década de 90, por isso, 50 anos pelo menos alienado de todo pandemônio da Segunda Grande Guerra. Se não bastasse, apenas por volta de meus 10 anos é que passei, por conta das aulas de história geral, a conhecer um pouco mais desse período tão negro da história. Somo, portanto, 60 de alienação. E agora, este livro veio parar em minha mãos, e com ele, todo o drama de uma sobrevivente dos campos de concentração.
Não cabe a mim dizer agora o que se passa no livro; deixo para a curiosidade do leitor. Mas devo dizer que o livro me perturbou a ponto de nessa manhã, enquanto dormia, minha mente ter produzido um horror parecido com aquele que eu tinha lido. Salvaguardando as devidas diferenças e proporções, durante o sonho eu experimentei a sensação de perda, de impotência, misturada com o medo, a raiva, a eminência da morte. Nunca estive em Auschwitz-Birkenau enquanto durou o terceiro Reich, mas pelo o que experimento na leitura, posso fazer comparações com meu estado onírico.
Eis o relato: Cachoeiro de Itapemirim, cidade natal. Mas não era Cachoeiro que eu conhecia. Eram apenas ruínas. Em semelhanças com as ruínas de uma Europa em guerra, Cachoeiro era formado apenas por escombros. E caos. Gente para todos os lados; civis armados; barricadas; carros que mais pareciam tanques de guerra; crateras nas ruas. Eu, se não me esqueço dos detalhes, estava com meu pai num tipo de caminhão, em que ele dirigia pelas ruas caóticas. Como todo sonho é meio desconexo, após esta cena, me vi aproximando de onde deveria ser a casa dos meus pais. Eu estava sendo preso. Sem direito a reação, impotente, e com a quase certeza que meu fim estava próximo, implorei uma última vez para que me soltasse. Mas contrário as minhas súplicas, meus carrascos só me roubavam ainda mais. Roupa, calçados, dinheiro, acessórios... tudo. Fiquei apenas com minha carteira de motorista e meu cartão de crédito: ambas as coisas que não tinham mais sentido de serem usadas. Não sei porque me permitiram ficar com elas. Mas por fim, fui sendo arrastado para um subsolo, familiar a mim: era o subsolo da loja de meu pai. Junto comigo, haviam várias outras pessoas capturadas. Contudo, para meu espanto, os carrascos vieram para cima de mim, insinuando movimentos sexuais, mexendo em seus órgãos genitais. Fiquei confuso, muito temeroso, sabendo o que me aguardava. Contrariamente a esse meu pavor, eu estava estranhamente excitado, como se aquela overdose de acontecimentos turbulentos produzissem em mim uma descarga de adrenalina e libido. Porém, mesmo assim, sentia muito medo e raiva por saber das pretensões daqueles homens nojentos. Já haviam me posto de cueca, e praticamente já estavam de cueca igualmente, quando um homem muito gordo começou a descer a rampa, indo para o lugar onde estávamos. A presença dele deixou a todos pasmos, e pronunciando umas palavras de que não me lembro agora, mas que deixavam a entender que ele estava procurando alguém em específico, retirou um fuzil de debaixo de sua roupa e começou a matar todos em volta. Eu tentei correr e me proteger dentro de um cubículo, mas eu era demasiado grande para caber lá. Não me restando alternativa, tive que sair correndo pela mesma rampa que o gorducho descera, e tive êxito. A salvo, entrei dentro na casa de meus pais. E aqui, nesse momento, o sentimento que experimentei no sonho foi o mais pungente. Não encontrei ninguém em casa, apenas a destruição completa de tudo o que havia dentro dela, à semelhança com o estado das ruas. Senti uma dor no peito e chamei pelos meus pais e irmãos. Nada! Apenas um silêncio. Eles também foram levados, eu pensei. E, instantaneamente após esse pensamento, senti a dor da perda. Impotente, quase violentado, sem expectativas, com medo, raiva, e num meio todo de pura destruição, senti que ia morrer. Por fim, acordei. Já era meio-dia.
Nietzsche em seu tratado sobre Verdade e Mentira no sentido Extramoral, afirma que se um rei sonhasse por doze horas à fio que era um plebeu, e seu um plebeu sonhasse doze horas à fio que era rei, como ele decidiriam qual é a realidade verdadeira e qual a realidade mentirosa, pois ambas eram realidades? Isso mostra que apesar de sabermos que estamos dormindo porque ora acordamos, o sono e a vigília são dois lados de uma mesma moeda. Duas realidades igualmente verdadeiras, onde uma foi apenas chamada de sonho por mera convenção.
O sonho que tive me permitiu todas essas sensações pungentes. E induzido ou não pelo livro, eu experimentei, ou penso que assim seria – apesar de uma forma muito mais simples –, a realidade daqueles que passaram pelo holocausto. Daqueles que foram retirados de suas casas e postos em trens que os levaram até Auschwitz e tanto outros campos de concentração.
Mas será que eu estive sonhando, ou isso aqui que vivo não seria ele sim um sonho? Sobre isso, indico o filme A Origem – o filme do ano de 2010.
"Enquanto as Forças Aliadas cruzavam a Alemanha no final da Segunda Guerra Mundial, os soldados que estavam no fim do pelotão vasculhavam cuidadosamente as fazendas e casas em busca de franco atiradores. Numa casa abandonada, usando lanternas, os soldados começaram a vasculhar o entulho, até que descobriram o porão. Na parede, semidestruída, uma vítima do Holocausto havia desenhado uma estrela de David com os seguintes dizeres:
אני מאמין בשמש - אפילו כשהיא לא זוהרת
אני מאמין באהבה - אפילו כשהיא לא מופגנת
אני מאמין באלהים - אפילו כשהוא שקת
Tradução:
Eu creio no sol - mesmo quando ele não brilha;
Eu creio no amor - mesmo quando ele não é demonstrado;
Eu creio em Deus - mesmo quando ele se cala."
-Este relato, escrito por um judeu q sofria na pele o nazismo, soa de forma muito impactante! Não acha?! Talvez não se possa medir a existência de Deus com base na crueldade humana... E para Deus, o autor da vida, a morte não seria um tabu... não seria o fim! São os nossos medos e covardias q se assombram com ela, q certamente chegará para cada um de nós... Viver e morrer são sinônimos! São a mesma coisa! Ou não?!
Grande abraço, meu querido amigo!
Claro que muitas pessoas não "perderam a fé" no holocausto! Mas quando eu falo sobre Deus na postagem, não falo do Deus presente na fé de cada um... falo da consciência criadora de cada um!
Não meço Deus com a crueldade humana. O que afirmo é que diante de uma crueldade, como aquela de Auschwitz, a consciencia humana é profundamente pertubada. E pressupondo, como disse, que Deus é fruto dessa consciencia humana (porque se não fosse, até os animais teriam deuses e altares), Ele só pode ter morrido na consciencia de mtas pessoas.
Diferencio fé de consciência: é possível um ser humano ter sua consciência esmagada e ainda ter fé. Até porque, a consciência reflete mais a razão, o encadeamento lógico das coisas. E como jã sabemos, fé não está ligada com a razão. Por isso, uma coisa não intefere na outra. Um judeu pode ter escrito belas frases sobre Deus no campo de concentração, mas isso não significa que em sua consiciência, esse deus jã não esteja morto.
Outro ponto a se pensar: em épocas de crise, perseguição e rompimento, a fé das pessoas é potencializada, justamente pelo fato de que sua mente, sua razão, sua consiciência já não consegue dar mais conta da realidade. Ficam portanto com a emoção, que é onde reside a fé.
O que sente é esse misto mesquinho de culpa atrasada (milênios os separam) e esse compadecimento fingido, afinal, se alguém nunca sentiu algo na pele, como poderia se compadecer? Quando compadecer é padecer junto? Você nunca padeceu nada...
E o sofrimento que afirmo é existência. Mas como sua existência está em algo fora de si, isso não existe para ti, pois você mesmo não existe! Pêsames...