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Da imagem do passado

Cachoeiro de Itapemirim, 26 de Janeiro de 2011

Revirando algumas folhas antigas em gavetas esquecidas achei um pequeno retrato meu, datado do ano de 2008. Não um retrato pintado, desenhado ou fotografado; um retrato escrito. Uma imagem fiel do garoto tão confuso e contraditório que era. Uma pequena imagem parada do tempo que recusou a auto-destruição. Esta imagem chega pois a mim, três anos depois de ter sido escrita, mostrando-me a realidade de meu passado tão conflitante.

Eu, que vivi cada letra, me emociono ao reler frases que refletem o que hoje chamo de “vontade de existir”. Nessa ínfima imagem vejo-me iniciando o processo da ruptura; o processo que me tiraria de minha prisão existencial. E não posso deixar de me alegrar ao notar que há alguns anos atrás eu já começava a respirar os ares do Esclarecimento.

Eis a Imagem:

“Bem... meu nome é Alan.

Sou quem eu quero ser, não quem me ensinaram! Sou apaixonado pela vida, pela natureza, e por todos seres viventes.

Gosto de deixar as coisas fluírem por elas mesmas; da forma como lhes convém.

Na verdade, sou uma interrogação!

Interrogação com espaço para o paradoxo, para a hipérbole, paro o eufemismo, para a metáfora, para a sinestesia.

Sou uma mistura...

Sou o constante avanço, e o persistente retrocesso.

Vivo as vezes num plano platônico, e outras vezes no plano físico.

Você pode me perguntar o porquê d’eu simplesmente não me decidir...

Eu já te disse... sou uma interrogação!”

Do Holocausto e da morte de Deus

Guarapari, 15 de Janeiro de 2011


“Sempre imaginei que, ao dar com Sofia, o Dr. Jemand Von Niemand estava passando pela grande crise da sua vida, sentindo-se desintegrar no momento exato em que procurava a salvação espiritual. Podemos apenas especular sobre a carreira posterior de Von Niemand mas (...) em geral, classificara-se como um Gottgläubiger – isto é, rejeitara o cristianismo, embora exteriormente professasse fé em Deus. Mas como era possível crer em Deus após praticar a medicina, meses a fio, num lugar tão terrível (Auschwitz)? (...) O renovado horror voltava a atormentar a alma do médico, ameaçava-lhe a razão. Começou a beber, a adquirir o hábito da glutoneria e a sentir a falta de Deus. Wo, wo ist der lebend Gött? Onde está o Deus dos meus ancestrais?” (A escolha de Sofia, p. 594-595)

Apenas para situar: O doutor Von Niemand era o médico responsável pela seleção dos prisioneiros chegados à Auschwitz. Os aptos à servirem de mão-de-obra aos propósitos malignos dos nazistas, ficavam a direita do doutor; os inaptos, judeus ou qualquer outro povo, ficavam do lado esquerdo. Estes do lado esquerdo eram imediatamente enviados para as câmaras de gás, e em seguida, para os crematórios. Durante alguns anos, o doutor ficou responsável por essa tarefa de seleção, mas antes, quando ainda jovem, freqüentava muito a igreja e pensava em entrar para um seminário; seu pai, mercenário, obrigou-lhe a fazer medicina. E nesse momento de crise existencial, Sofia, aparece em sua frente para proceder à seleção. E uma fato atípico, que Sofia percebe, é que o doutor estava ligeiramente bêbado, o que era contra os princípios da SS. Mas este estado é explicado pela crise que ele estava enfrentando.

Deus está presente apenas na consciência dos seres humanos! Se não fosse assim, os animais, as plantas, e todo o resto edificariam altares à esse ser divino; o que, factualmente, não acontece. Por isso, Deus está apenas na mente de cada homem, seja como um anseio, como um desejo, como uma vontade, ou como uma segurança. Deus, como diria Mircea Eliade, é uma parte constitutiva da psique humana. O ser humano se completa em Deus pelo fato de esse Deus ser parte dele mesmo. O homem quando olha uma incrível paisagem, sente-se compelido a agradecer à alguém, mas como não foi ele próprio que criou toda essa beleza, atribui a Deus a criação, rendendo-lhe graças. Ou quando o homem se encontra no meio de uma tragédia, ele procura força em algo que não seja ele – o acometido pela tragédia – para se sustentar, restando-lhe apenas a figura de Deus. No entanto, o homem só assim procede, enquanto se encontra no esquecimento do real criador dessa figura transcendental: ele mesmo.


Deus está apenas na consciência do ser humano! E enquanto este se esquece disso, Ele continua existindo. Mas a partir do momento em que a própria consciência deste homem é posto em xeque, como é o caso do doutor Von Niemand, esse Deus desaparece. Após ano servindo a essa máquina de morte e horror que foi o nazismo, como não se perguntar: cadê Deus? Cadê esse ser de que tanto falam que socorre-nos quando estamos aflitos? Em Auschwitz, não havia esperança; não num ser metafísico, e sim apenas na esperteza e flexibilidade de cada pessoa. Nos campos de concentração, Deus foi banido. Contudo, não é que ele foi banido, porque no fundo, Ele não existe. Mas Ele morreu. Morreu porque a consciência das pessoas em Auschwitz também morreu, e nessa morte, não seriam mais edificados templos em sua homenagem. A constante exposição à crueldade real – sombria, monótona, estéril e tediosa, como diria Simone Weil – presente em cada câmara de gás, em cada crematório, em cada muro de fuzilamento nazista, esmagou a consciência dos internos dos campos, restando-lhes apenas migalhas de razão. Isso causou a morte de Deus. Retire uma boa quantidade de neurônios de um ser humano, e observe se ele terá a faculdade de pensar em Deus e em tantas outras coisas...

Deus é uma resposta do ser humano as suas necessidades. Em alguns, essas necessidades são mais básicas e imediatas, enquanto em outros, elas são mais supérfluas, o que explica a afinidade maior de uns com a divindade, do que outros. Mas em todos nós, determinado tipo de necessidade pode ser preenchida ou não pela figura de Deus. Contudo e, sobretudo em tragédias naturais ou humanas, como foi o nazismo, o homem tende a se estreitar a Deus. E assim ele se estreita cada vez mais a sua consciência, e em como ela vai percebendo Deus a sua volta. No entanto, quando a tragédia é duradoura, a consciência perde a faculdade de enxergar Deus, e Ele, por fim, morre. A consciência dá lugar a um estado de caos mental, em que Deus não está mais nele. Assim ocorreu a morte Deus para o doutor Von Niemand, que de perto enxergou e participou do horror nazista. Assim Deus morreu em Auschwitz e nos demais campos de concentração. Assim Deus morre para aqueles que a consciência percebe que ela mesma é a criadora dessa imagem divina. Assim Deus morreu em minha consciência, restando apenas Eu, o criador de Deus. E assim Deus continua morrendo na consciênica de muitas pessoas... Morte de um ser que nunca existiu, a não ser, na mente!

Dos sonhos e da realidade

Guarapari, 11 de Janeiro de 2011


(Berlim ocupada pela URSS)

As duas últimas postagens que fiz, relaciona-se de uma forma ou de outra com o Holocausto, com Auschwitz, com nazismo, com horror. Ao ler meu romance atual, A escolha de Sofia, pus-me a pensar em tudo quanto aconteceu por aquelas bandas da Europa durantes dos idos do final da década de 30 e inicio da de 40.

Eu nasci no início da década de 90, por isso, 50 anos pelo menos alienado de todo pandemônio da Segunda Grande Guerra. Se não bastasse, apenas por volta de meus 10 anos é que passei, por conta das aulas de história geral, a conhecer um pouco mais desse período tão negro da história. Somo, portanto, 60 de alienação. E agora, este livro veio parar em minha mãos, e com ele, todo o drama de uma sobrevivente dos campos de concentração.

Não cabe a mim dizer agora o que se passa no livro; deixo para a curiosidade do leitor. Mas devo dizer que o livro me perturbou a ponto de nessa manhã, enquanto dormia, minha mente ter produzido um horror parecido com aquele que eu tinha lido. Salvaguardando as devidas diferenças e proporções, durante o sonho eu experimentei a sensação de perda, de impotência, misturada com o medo, a raiva, a eminência da morte. Nunca estive em Auschwitz-Birkenau enquanto durou o terceiro Reich, mas pelo o que experimento na leitura, posso fazer comparações com meu estado onírico.

Eis o relato: Cachoeiro de Itapemirim, cidade natal. Mas não era Cachoeiro que eu conhecia. Eram apenas ruínas. Em semelhanças com as ruínas de uma Europa em guerra, Cachoeiro era formado apenas por escombros. E caos. Gente para todos os lados; civis armados; barricadas; carros que mais pareciam tanques de guerra; crateras nas ruas. Eu, se não me esqueço dos detalhes, estava com meu pai num tipo de caminhão, em que ele dirigia pelas ruas caóticas. Como todo sonho é meio desconexo, após esta cena, me vi aproximando de onde deveria ser a casa dos meus pais. Eu estava sendo preso. Sem direito a reação, impotente, e com a quase certeza que meu fim estava próximo, implorei uma última vez para que me soltasse. Mas contrário as minhas súplicas, meus carrascos só me roubavam ainda mais. Roupa, calçados, dinheiro, acessórios... tudo. Fiquei apenas com minha carteira de motorista e meu cartão de crédito: ambas as coisas que não tinham mais sentido de serem usadas. Não sei porque me permitiram ficar com elas. Mas por fim, fui sendo arrastado para um subsolo, familiar a mim: era o subsolo da loja de meu pai. Junto comigo, haviam várias outras pessoas capturadas. Contudo, para meu espanto, os carrascos vieram para cima de mim, insinuando movimentos sexuais, mexendo em seus órgãos genitais. Fiquei confuso, muito temeroso, sabendo o que me aguardava. Contrariamente a esse meu pavor, eu estava estranhamente excitado, como se aquela overdose de acontecimentos turbulentos produzissem em mim uma descarga de adrenalina e libido. Porém, mesmo assim, sentia muito medo e raiva por saber das pretensões daqueles homens nojentos. Já haviam me posto de cueca, e praticamente já estavam de cueca igualmente, quando um homem muito gordo começou a descer a rampa, indo para o lugar onde estávamos. A presença dele deixou a todos pasmos, e pronunciando umas palavras de que não me lembro agora, mas que deixavam a entender que ele estava procurando alguém em específico, retirou um fuzil de debaixo de sua roupa e começou a matar todos em volta. Eu tentei correr e me proteger dentro de um cubículo, mas eu era demasiado grande para caber lá. Não me restando alternativa, tive que sair correndo pela mesma rampa que o gorducho descera, e tive êxito. A salvo, entrei dentro na casa de meus pais. E aqui, nesse momento, o sentimento que experimentei no sonho foi o mais pungente. Não encontrei ninguém em casa, apenas a destruição completa de tudo o que havia dentro dela, à semelhança com o estado das ruas. Senti uma dor no peito e chamei pelos meus pais e irmãos. Nada! Apenas um silêncio. Eles também foram levados, eu pensei. E, instantaneamente após esse pensamento, senti a dor da perda. Impotente, quase violentado, sem expectativas, com medo, raiva, e num meio todo de pura destruição, senti que ia morrer. Por fim, acordei. Já era meio-dia.

Nietzsche em seu tratado sobre Verdade e Mentira no sentido Extramoral, afirma que se um rei sonhasse por doze horas à fio que era um plebeu, e seu um plebeu sonhasse doze horas à fio que era rei, como ele decidiriam qual é a realidade verdadeira e qual a realidade mentirosa, pois ambas eram realidades? Isso mostra que apesar de sabermos que estamos dormindo porque ora acordamos, o sono e a vigília são dois lados de uma mesma moeda. Duas realidades igualmente verdadeiras, onde uma foi apenas chamada de sonho por mera convenção.

O sonho que tive me permitiu todas essas sensações pungentes. E induzido ou não pelo livro, eu experimentei, ou penso que assim seria – apesar de uma forma muito mais simples –, a realidade daqueles que passaram pelo holocausto. Daqueles que foram retirados de suas casas e postos em trens que os levaram até Auschwitz e tanto outros campos de concentração.

Mas será que eu estive sonhando, ou isso aqui que vivo não seria ele sim um sonho? Sobre isso, indico o filme A Origem – o filme do ano de 2010.

Guarapari, 02 de Janeiro de 2011

(Auschwitz-Birkenau atualmente)

Alguns textos e livros provocam a reação dos leitores, como se, uma vez lidos, o problema posto em questão não fosse mais de responsabilidade apenas do autor. Textos, livros ou confissões – como as do post anterior – mechem com a humanidade de cada indivíduo, só não causando efeitos em analfabetos funcionais e homens insensíveis.

O livro de William Styron, A escolha de Sofia, é um romance que trata do Holocausto. Tirando o que é ficção, o relato feito por Höss – enforcado em 1946 – é verídico e, por isso mesmo, tão perturbador.

Há que se espantar, embora não seja novidade alguma, que grande parte das atrocidades feitas pelo nazismo não provinham de soldados, mas de civis: homens e mulheres de afazeres comuns e cotidianos, persuadidos por uma mente sadicamente doente. Como mostrou Styron, o chefe da Gestado, o maior órgão de espionagem nazista responsável por milhões de mortes, foi um criador de galinhas. Himmler, um homem do campo, sem grandes realizações até então, e sem nenhum pingo de auto-crítica promoveu o extermínio de um povo. Contudo, Himmler e Hitler não teriam causado tão grande mal se não fosse o apoio de toda uma população, brilhantemente persuadida.

O efeito da falta de auto-exame aliado a facilidade de persuasão de um povo com o ego condoído, foi desastrosamente responsável pelo maior crime contra a humanidade. Cômico, para não dizer trágico, porém, é a declaração de Höss: “... o ódio é estranho à minha natureza”. Homens como Höss, oficiais nazista, não eram esses monstros que a mídia costuma fazer deles. Pelas confissões é possível perceber que eram homens de carne e osso, sofrendo dilemas de pessoas comuns. “Quando algo me afetava profundamente (...) Minha mulher não podia entender essas minhas depressões...”.

Seres humanos comuns... Por que então permitiram tamanho absurdo? A monstruosidade estava na obediência cega ao Führer, ao partido nazista, à causa ariana. “Tinha recebido uma ordem e cumpria-me levá-la a cabo. Se a exterminação em massa dos judeus era ou não necessária, não cabia a mim opinar, pois me faltava a visão necessária. (...) Eu tinha que parecer frio e indiferente (...) Minha resposta era sempre que a determinação férrea com que tínhamos de cumprir as ordens de Hitler só podia ser conseguida sufocando todas as emoções humanas.

(Holocausto)

Está aí o flagelo da humanidade: mentes irrefletidas, fechadas em seus absolutos, intolerantes com a diversidade alheia com o ego exacerbado, massageado por mentes sádicas e prepotentes. Foi assim com Hitler, foi assim com os atentados de 11 de setembro; é assim com os homens bombas e tantos outros movimentos políticos e religiosos que promovem morte de milhares de pessoas.

Os oficiais de Hitler eram comumente humanos, mas sua determinação em sufocar sua humanidade os impedia de enxergar o mal que faziam. Estavam cegos sabendo, eram monstros sabendo, mas ainda assim, era melhor ser Nazista e lutar pela causa ariana.

Estúpidos...

O Holocausto ficou para trás e hoje Auschwitz-Birkenau é um patrimônio da humanidade pela Unesco, mas o perigo de uma tão fechada em si própria está em todos os lugares, inóspitos ou comuns. Em todos os cantos da sociedade. Em pessoas não exóticas. Pessoas que criam galinhas como criava Himmler.

Judeus, negros, ciganos, gays, todos morreram nas câmaras de Auschwitz... Muitos continuam a morrer. E antes mesmo de eu terminar de escrever este texto, vi na TV sobre paulistas separatistas que agem com violência contra nordestinos, e cariocas que promovem a eugenia. Segunda Guerra foi há 66 anos, mas o flagelo ainda é recente. E se algo não for feito para a repressão e a punição de atitudes tão patológicas, não tardará uma nova Auschwitz!!!

Guarapari, 01 de Janeiro de 2011

(Rudolf Franz Höss - Obersturmbannführer SS)

Os relatos a baixos foram retirados do livro A Escolha de Sofia, de William Styron, e corresponde às confissões do Obersturmbannfürher Rudolf Franz Höss, Comandante do Campo de Concentração Auschwitz-Birkenau, durante os dois anos em que ele esteve à frente daquele lugar. Apesar da fonte donde retirei os relatos possam ser de um romance, eles estão contidos no livro de Constantine FitzGibbon, disponíveis em inglês.

Este post só utilizo para as citações, que por si só são longas. No post posterior a esse farei uma breve análise disso tudo que li.

Que o leitor aproveite a leitura, se enraivecendo ou comovendo, conforme convém a cada um....

♦♦♦

“A crueldade real, a crueldade sufocante de Auschwitz – sombria, monótona, estéril, tediosa – foi perpetrada quase que exclusivamente por civis. Daí descobrimos que as folhas de funcionários e membros das SS destacados para os campos de Auschwitz-Birkenau quase não continham soldados profissionais, mas eram compostas de um pot-pourri da sociedade alemã, incluindo garçons, padeiros, carpinteiros, donos de restaurantes, médicos, um guarda-livros, um empregado dos correios, uma garçonete, um bancário, uma enfermeira, um serralheiro, um bombeiro, um oficial da alfândega, um advogado, um fabricante de instrumentos musicais (...) a lista prossegue com essas ocupações comuns e bem civis. Basta apenas acrescentar que o maior exterminador de judeus da história, o medíocre Heinrich Himmler (Chefe da Gestapo), era criador de galinhas.” (William Styron sobre a situação civil na Alemanha nazista - A escolha de Sofia p. 191)

“Devo deixar bem claro que nunca odiei pessoalmente os judeus. É verdade que os considerava como inimigos do nosso povo. Mas só por causa disso eu não fazia diferença entre eles e os outros prisioneiros e tratava-os todos da mesma maneira. Nunca fiz qualquer distinção. De qualquer forma, o ódio é estranho à minha natureza.” (R. F. Höss - A escolha de Sofia p. 191)

“Quando, no verão de 1941, o Reichsführer SS (Himmler) em pessoa me deu ordem para preparar em Auschwitz instalações destinadas ao extermínio em massa, eu não tinha a menor idéia da sua escala ou das suas consequências. Foi, sem dúvida, uma ordem extraordinária e monstruosa. Não obstante, as razões que a motivavam me pareciam certas. Na ocasião, não refleti sobre elas. Tinha recebido uma ordem e cumpria-me levá-la a cabo. Se a exterminação em massa dos judeus era ou não necessária, não cabia a mim opinar, pois me faltava a visão necessária.” (R. F. Höss - A escolha de Sofia p. 192)

“Eu tinha que parecer frio e indiferente a acontecimentos que teriam partido o coração de algum dotado de sentimentos humanos. Não podia sequer desviar os olhos quando temia que minhas emoções viessem à tona. Tinha que assistir friamente, enquanto as mães, carregando os filhos, risonhos ou chorosos, entravam nas câmaras de gás...” (F. R. Höss - A escolha de Sofia p. 192)

“Tinha de olhar pelo olho-mágico das câmaras de gás e contemplar o processo da morte, porque os médicos faziam questão de que eu assistisse... O Reichsführer SS enviou vários líderes do partido e oficiais da SS a Auschwitz, para verem com os próprios olhos como se processava o extermínio em massa dos judeus... Várias vezes me perguntaram como é que eu e os meus homens podíamos assistir continuamente a essas operações e agüentar firme. Minha resposta era sempre que a determinação férrea com que tínhamos de cumprir as ordens de Hitler só podia ser conseguida sufocando todas as emoções humanas.” (F. R. Höss - A escolha de Sofia p. 193)

“Depois que o extermínio em massa começou, eu já não me sentia feliz em Auschwitz... Quando algo me afetava profundamente, eu não podia voltar para casa e para a minha família. Montava no meu cavalo e galopava até ter apagado da mente a horrível cena. Muitas vezes, à noite, eu ia até as cavalariças, procurar alívio entre meus queridos animais. Quando via meus filhos brincando, felizes, ou minha esposa encantada com o caçula, eu pensava: Até quando nossa felicidade irá durar? Minha mulher não podia entender essas minhas depressões e as atribuía a algum aborrecimento relacionado com meu trabalho.” (F. R. Höss - A escolha de Sofia p. 193)

Do início de 2011

Guarapari, 01 de Janeiro de 2011


(A história de Majnun e Laila - Nizami)

“Só o homem pode conhecer a dor de ter algo de que não precisa e ao mesmo tempo em que precisa de algo que não possui.” (Nizami, poeta persa)

Feliz 2011! Ou para aqueles não tão satisfeitos e não afortunados um apenas... 2011! Para muitos o ano começa com o pé direito, mas para outros tantos, começa num pé esquerdo. O meu... não considero um feliz 2011, apenas um 2011.

Talvez podem não entender minha dor, mas como disse o poeta – autor de conto Laila e Majnun – apenas o homem que sofre por não ter o que precisa, ao mesmo tempo em que tem o que não precisa, me entenderá.

Dor... apenas a simples dor!

Tenha fome e apenas pedras para comer e entenderá do que falo. Sinta frio e tenha apenas um cobertor de gelo para se aquecer e se aproximará do meu sentimento. Agora... Tenha todas as esperanças, todos os sonhos, todo o vigor que um novo ano traz, e não tenha a pessoa que mais ama do seu lado para compartilhar tudo isso, e finalmente entenderá a dor que sinto; a dor chamada saudade.

Tenho muito do que não preciso, e nada do que realmente preciso. Tenho praia, tenho sol, tenho belas paisagens, tenho roupas, tenho dinheiro, tenho um apartamento de oitavo andar virado para praia... Mas do que adianta se falta o sorriso despreocupado dele, os olhares confiantes dele, o abraço apertado dele, o ombro consolador dele, o beijo quente dele, o carinho apaixonado dele, o “eu te amo” dele... Do que me adianta tudo, se me falta ele?

Por isso, não é um Feliz 2011! é apenas um 2011!

2011 à vocês...

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