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Do medo e da aceitação

Niterói, 01 de Fevereiro de 2010

Medo é um dos extintos de sobrevivência dos animais, e consequentemente, dos seres humanos. Tal extinto preservará a vida de um homem diante de um acidente, ou numa situação de perigo. O medo é um estado de alerta que muitas vezes serve como mantenedor da vida.

Aceitação de forma distinta, se relaciona com a coragem, ousadia, persistência. Aquele que aceita uma luta deve conhecer os seus pontos fortes e os pontos fracos do inimigo; quem aceita correr uma maratona deve enxergar que serão 42 km. Quem deseja vencer na vida, deve prever que enfrentará obstáculos.
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Na aceitação dos sentimentos não seria diferente. Quando alguém se percebe, como foi no meu caso, que é diferente, que gosta de coisas paradoxais ao conveniente, que sente atração pelo mesmo sexo, pensa que por tudo isso não haverá outra saída a não ser viver uma vida de sofrimento e de "esconde-esconde", sendo nesse caso, naturalíssimo sentir medo. Afinal, tudo o que a sua família e os seus amigos idealizaram para você pode vir a não se cumprir se não se esconder. O medo de não corresponder as expectativas, aliado a falta de força para dizer para si e para os outros quem se é realmente, culmina na desesperança. E esta, numa vida falsificada.
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O medo, que até então era um extinto natural a lhe proteger, se transforma numa síndrome de pânico, onde tudo e todos estão prestes a descobrir a sua verdade. Portanto, máscaras e mais máscaras são colocadas sobre o rosto para esconder o monstro que lá no fundo habita. E, com o passar do tempo, se esquece de quem se é realmente.
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Nessa altura, ouvir alguém dizer que se libertou desses medos e paranóias te causa, no mínimo, um ataque de inveja camuflado de não-aceitação para o êxito do outro. O medo via cavando mais e mais fundo o poço da falsidade.
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Ademais, quando o medo hiperbolizado em paranóia sufoca, lhe é injetado uma dose concentrada de coragem que faz com que se consiga confessar seus pesadelos à alguém íntimo. Por uns instantes você consegue sentir a brisa suave que passa lá fora do poço, mas assim que esse alguém íntimo começa a te dizer o que pensa sobre aquilo que você contou, novamente seu medo, encarnado na não-aceitação volta a cavar o seu túmulo.
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Para alguns, que o caminha da aceitação é impossível demais, não há outro caminho a não ser abandonar essa vida por vontade própria. Se matar é muito menos incômodo do que ouvir e ver as pessoas matarem sua dignidade, seu respeito, seus sentimentos, seus sonhos, sua verdade. Nesses casos, o medo de ter todos contra si, cava-lhe seu próprio túmulo, e em sua lápide escreve: Viveu com medo dos outros, se matou com medo de si.
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Felizmente, em outros, observar tal cenário trágico que é o suicídio, faz com que decidam pela esperança. Mesmo que a aceitação cause constrangimentos em todos que estão a volta, achar liberdade dentro de si concederá forças suficientes para derrubar as barreiras do tabu, para não ouvir a desesperança daqueles que ainda estão em prisões, para ser feliz em meio ao choro e, finalmente, para amar sem padrões.
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"Só existe nós, só existe o aqui, renda-se ao amor ou viverá com medo", diz uma bela música. O caminho da aceitação passa pelo medo, mas não se restringe a isso, antes faz dele uma máquina propulsora que o impulsiona à uma vida de amor próprio, amor para com a vida, de amor para com as pessoas, de uma vida de liberdade dos requalques, dos complexos, da paranóia, da depressão, da não-aceitação.
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Termino, por fim, dizendo que retornarei a esse assunto outras vezes, e alerto àqueles que querem se decidir pela esperança e ser quem realmente são, que se atentem ao custo da liberdade, mas que ao mesmo tempo, não se deixem intimidar.

Das andanças pelo mundo

Niterói, 30 de Janeiro de 2010


Há venho manifestando há algum tempo o seguinte pensamento: Qualquer lugar é caminho quando se quer chegar lá. Cada indivíduo é único, não cabendo a outros dizer onde devem ir ou fazer, afinal, cada um conhece seus limites e suas forças. Nao obstante, para aquele que quer chegar, qualquer caminho o levará.
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Andar pelo mundo à procura das respostas para os mistérios, da fórmula de um elixir, do túmulo de um rei, do amor de um Deus, das virtudes dos seres humanos, é digno quando houver a disposição de sofrer para conhecer.
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Os caminhos são tortuosos e estreitos, não tão acessível o que leva a muitos não transitarem por ele. Eu conheco, mas não de todo, os obstáculos que me esperam, creio viver todos os meus dias nessa busca, e morrer sem obter uma única resposta satisfatória.
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A viagem é muito longa, além de incerta. Tavez o que me sirva de consolo seja o que diz um filósofo: "Por menos que eu tenha ainda me sobraria mais provisão do que via, até porque não é necessário que percorramos até o fim a via em que ingressamos. Seria uma viagem incompleta se parassemos na metade ou anes do lugar estabelecido? A vida não é incompleta se é honesta. Onde quer que pares, se parares bem, estará completa." (Sêneca, do suicídio, carta LXXVIII)
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Se muito me fatigar os mistérios, descansarei na ignorância.

Da independência dos homens

Niterói, 30 de Janeiro de 2010


Não se sabe ao certo os motivos que levaram os seres humanos a inventarem seus mitos, seus deuses, suas superstições. No entanto, sabe-se quando o homem passou a pensar em si mesmo e se questionar.

A história da filosofia dirá que no séc. 6 aC, com Tales de Mileto, o homem começou a interpretar de forma dessacralizada seus mitos cosmogônicos. Eis que se iniciou a "era dos homens crescidos", a era dos adultos, onde o indivíduo deixava de pensar como queriam que pensasse, para assumir a responsabilidade de pensar com autonomia, mesmo que isso lhe custasse muitas noites em claro.

Por mais que essa era deu lugar para as eras da manipulação intelectual, ela continua a formar seus pensadores ao longos dos anos. Sêneca foi um destes que nos anos de 63-65 aC deixou cartas, para que outros entrassem em contato com sua visão. Num desses escritos, ele escreve sobre a independência dos homens: "Até quando pediremos algo aos deuses? Não podemos ainda manter a nós próprios? Até quando encheremos de sementeiras os campos ao redor das grandes cidades?" (das preces nocivas, carta LX)

Tal é o clamor de Sêneca por liberdade. Liberdade que não é, necessariamente, ter domínio sobre o destino, sobre o oculto, e a vontade dos deuses, mas reconhecer que dos homens é o mundo dos homens, dos deuses é o mundo desconhecido. Como pois oferecer sementeiras a alguém que não se sabe o que lhe agrada?

Das imagens distorcidas

Niterói, 28 de Janeiro de 2010



"Nem tudo o que é ouro fulgura,
Nem todo vagante é vadio;
O velho que é forte perdura,
Raiz funda não sofre frio."

John Ronald Ruel Tokien escreveu esses versos em sua Trilogia, O Senhor dos Anéis. E esses versos captam a essência desse post. De todos os sentidos humanos, a visão que percebe tudo a sua volta é responsável pelas primeiras impressões, e, constantemente, a responsável pela formação dos primeiros aspectos de nossa cosmovisão. Dos relacionamentos pessoais à mídia, a visão é responsável pelo êxito e pelo consumo.

Contudo, até onde o que se vê é o que realmente parece ser? Até onde o que os olhos vêem, ou pensam que vêem, corresponde a existência de algo ou de um ser? Na era onde a primeira impressão é sinônimo de pré-conceito aqueles que são diferentes, não-convencionais e, nada ortodoxos, se tornam a minoria, a escória, vítimas dos poderosos, da maioria, do sistema que esmaga, ridiculariza e dizima estes que são tão pequenos.

No mundo onde o parecer precede o ser, as imagens das pessoas diferentes como os heavy-metal, os emos, as prostitutas, os negros, os asiáticos, os latinos, os gays, as lésbicas, os travesti, os ateus, os hare-cristinas, os budistas, e muitos outros, são distorcidas de forma tão indigna que todas essas projeções apenas refletem a maldade daqueles que as elaboram.

As imagens distorcidas só tornam um mundo num palco de disputas étnicas, religiosas e políticas, beirando à uma guerra mundial, onde o amor ao próximo e a paz a todos os homens, como muitos pregam, permanecem apenas em papiros da antiguidade, escritos em língua morta.

Como disse muito bem meu querido Tolkien, nem todo ouro fulgura, nem todo vagante é vagabundo. Nem todo ser humano é o que parece ser, nem é o que disseram ser.

Da apologética

Niterói, 27 de Janeiro de 2010


Não raro apanho-me em confusão. Se por um lado considero não haver a necessidade de elaborar uma defesa em meu favor, por outro não consigo não deixar de observar, e além, de imaginar que as pessoas que lêem meus escritos, constantemente, criam uma imagem distorcida sobre mim, seja pela incapacidade de interpretação de minhas palavras, seja pela precipitação de concluir um assunto sobre qual não coloquei um ponto final. Sendo assim, elaborei mais este post.
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Muitos podem achar que, devido ao que escrevo abaixo, estou beirando ao ateísmo. Minha postura de iconoclastia, somada à criticidade leva muitos a pensar que tudo o que é metafísico ou não empírico, por mim deva ser considerado falso, ou no mínimo, inexistente. Tal erro é grave.
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Posso me gabar que contenho em mim uma centelha de misticidade. O que, apesar de confiar no meu intelecto, me leva a confessar que este não possui resposta a todas as perguntas. Além de, tampouco, eu poder fechar os meus olhos para aquilo que é chamado de interferências sobre-naturais.
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Se existe um absoluto deva ser que se nossa mente é limitada a nós mesmo, e o que não possui relações com os sentidos não pode ser alvo de nenhum estudo empírico. Por isso, concordo piamente com Shakespeare, quando este diz em Hamlet: "Há mais coisas entre o céu e a terra do que pensa nossa vã filosofia.

Dos deuses e de suas caricaturas

Niterói, 27 de Janeiro de 2010



Mahatma Gandhi disse certa vez: "Na verdade, há tanta religiões quanto forem os indivíduos". Nesse mundo onde existem quase 7 bilhões de seres humanos, não é de se espantar que exista tantos religiões, o que consequentemente traz a existência milhões de deuses. Cada cultura, em cada época construiu deus/deuses para que saciassem suas necessidades, seja ela de explicar fenômenos da natureza, seja de culpar alguém pelas tragédias, ou agradecer pela prosperidade.
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Nos deuses do Olimpo está a personalidade humana, corpo humano, relações como dos humanos; nos hebreus, está o deus que traz tudo à vida e à morte; no catolicismo, o deus que salva pela tradição; no hinduísmo, o deuses das oferendas; no budismo, o deus da meditação e iluminação; nos egípcios, os deuses da pós-morte, em todos eles, e nas demais milhares religiões, está o que o ser humano criou, e o que pensou.
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Independente de ser mais bonito que os outros, ou mais forte, ou mais cruel, ou mais divino, ou mais humano, ou mais aceito, ou mais rejeitado, todos, infelizmente, são representações humanas, já que estamos presos na incapacidade de nosso intelecto, e nos limites de nossos sentidos, dado que nunca poderemos imaginar um deus que não possua características humanas, animalescas ou da natureza.
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Diante disso, como se abandonar por inteiro à essa imagens que são reflexos de um determinado povo, de uma determinada cultura, numa determinada época? Como crer, sem um fé cega, num deus/deuses sendo que não sabemos com toda certeza qual deles é o certo, ou que pelo menos existe? Como oferecer preces adequadas à alguém que não conhecemos a fundo? Como adorar, louvar, ofertar à um deus que não se sabe se é deus ou se é caricatura.
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Fica portanto, racionalmente, estabelecido que podemos acreditar na existência de Deus, mas não credibilizar como absoluto qualquer uma dessas caricaturas.
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Como diria Rubem Alves: "Acredito em Deus, não nas caricaturas que os homens fizeram dele."

Do veneno e da morte

Niterói, 27 de Janeiro de 2010
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Poucos foram aqueles que tomaram veneno, mesmo sabendo que este mata. Foram corajosos, como Sócrates que sabendo que ia morrer pela cicuta, tomou o veneno sem hesitar. Ou desavisados, como as crianças que bebem veneno achando que era água ou bala. Fato é, veneno mata, se não extraído do corpo a tempo.
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Hoje, todos sabem que veneno criado pelo homem, ou de animais, é destrutivo. Contudo, antes que alguém obtivesse esse conhecimento, algum indivíduo movido pela curiosidade, inocência, ou em nome da ciência manipulou determinado tipo de veneno.
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Usando-me do escrito acima, faço analogias comigo. Pois, ao olhar todo o caminho que percorri e percorro rumo ao desconhecido e incerto, percebo que com razão me aconselharam a não ser tão independente, nem a buscar tão fundo, muito menos questionar com tamanho afinco. Por essas, dizem que tomo aos poucos pequenas doses de veneno, que por fim, me conduzirão à morte.
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Não que isso seja mentira, mas não condiz com a verdade. Afinal, esqueceram de observar que só se produz antídotos, se manipular veneno. Percorrendo caminhos solitários e remotos é que posso encontrar uma nova saída. Bebendo o veneno cicuta é que posso morrer e descobrir o que existe além daqui.
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Podem acusar-me de irresponsabilidade ao beber o cálice do veneno do conhecimento e dos mistérios, mas não poderão dizer que não fui um homem livre. Em face da morte, encontrarei-me justificado diante de mim, dos homens, e dos deuses.

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