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Da fuga e da aceitação


Niterói, 07 de março de 2010



Pensas que só a ti aconteceu e te admiras como se fosse uma coisa nova o fato de em tão longa peregrinação e em tanta variedade de lugares não teres tirado a tristeza e a gravidade da mente? Deves mudar o ânimo, não o céu (...) Perguntas por que essa fuga não te ajuda; ora, tu foges de ti mesmo. É o peso da alma que deves deixar: antes disso, nenhum lugar te agradará.” (Sêneca, Carta VIII)

Lembro-me de muitas fugas! Por considerar o ócio o prenúncio de uma situação que me levaria ao pecado, que consiste num ato contra Deus, entupia-me de atividades. De segunda a domingo ajuntava mais e mais tarefas para que minha mente não possuísse tempo para pensar sobre si mesma, enxergando que onde quer que fosse eu continuava a ter os mesmos desejos, de que tanto fugia.

Havia em mim um peso, como afirmaste o filósofo Sêneca: um peso na alma! Este peso era simplesmente devido à realidade de ser alguém, mas ao mesmo tempo não poder ser. Todos os amigos, a família, a decadente instituição religiosa, e minha mente recalcada deixavam bem claro que era inadmissível eu me aceitar, e que era muito melhor me “curar deste distúrbio de personalidade”, além de afirmarem da necessidade da oração para expulsar os demônios.

Minha alma, quando não atarefada com assuntos alheios, pesava e não conseguia descansar. Por uns momentos, quando minha fé – da forma antiga que acreditava – vacilava, eu deixava meu ser vir à tona e permitia-me ceder as minhas vontades. O que, em consecutivo, pesava ainda mais em minha alma, que por fim se ardia em remorsos e arrependimentos, afundando-me ainda mais nas fugas.

Eu fugia porque aceitar-me era o que sempre me ensinaram: decepcionar a Deus, em primeiro lugar, e todas as pessoas que me eram queridas. E, por mais que fugia a fuga não adiantava em nada, pelo contrário, só me criava mais traumas.

Lamentável, a mim, é dizer que durante muitos anos fugi de mim mesmo! Todos os lugares que ia, ia para não me encontrar. Não fazia outra coisa em secreto a não ser chorar, enxugar rios de lágrimas, e dormir vencido pela tristeza.

O que se sucedeu, após tantos anos nessa angústia, foi a decisão de parar de correr de mim mesmo e encarar olho no olho minha verdadeira identidade. A princípio, muito hesitei, e tinha constantemente vontade de voltar atrás, porém, já tinha ido longe de mais para regredir. Fiz exame de minha consciência e de tudo mais a volta, reconheci os riscos e as conseqüências. E como estes eram muito menores do que a perda de uma existência toda, travei um grande combate dentro de mim mesmo, e após muito sangue e fadiga, aceitei-me; aceitei toda a história que precedeu este momento e aceitei toda a incerteza do futuro. Retirei toda a armadura que me prendia por dentro e pus-me a caminhar!

Confesso para que lê estas linhas: o mundo todo tinha mudado, e, mudado para melhor.

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