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Da lamentação

Cachoeiro de Itapemirim, 02 de agosto de 2010


Encontro-me decepcionado. Frustrado até o mínimo indivisível do meu ser. Sinto vontade de chorar por meus erros e rir de minha lamúria. Pois, pensava estar próximo do ideal de existência, estando na verdade no máximo da presunção de considerar-me no caminho certo. Gabava-me por ter eloqüência e capacidade de convencimento; alegrava-me por ser tomado em alta conta intelectual por alguns amigos. Eis que havia esquecido como é o caminho por onde trilho: esqueci-me do eu que nele adentrou.

No pouco que me distraí com o externo a mim, pago agora uma dura pena. Desviei-me do caminho que me direcionava a plena existência, para ater-me no caminho da medíocre vivência. Deixei de questionar-me para ter-me em alto conceito; considerei-me um ser adulto, quando não passava de uma criança. Comecei a procurar respostas no que está fora de mim, em vez de buscar a mim mesmo. Debati questões aporéticas e irrelevantes para a existência. Tomei-me como missionário contra o avanço da ignorância, ignorando a ignorância existencial dentro de mim.

Muito questionei, tentando mostrar ao outro que seus conceitos não passam de equívocos e alegorias, esquecendo-me de que cada um deve perceber em si mesmo a ignorância. Lutei contra o mostro da precipitação intelectual, mas durante a batalha, tornei-me nele. Não tive cuidado e assim me transformei no ser que eu mais odiava. Tornei-me pretensioso, esquecendo-me de que quanto mais se conhece, mais se conhece que não conhece. Em vez de me trancar num silêncio intelectual e existencial, passei a tagarelar certezas de que nem mesmo as tinha. Propaguei visões de um mundo idealizado por mim, mas não vivido por mim.

No auge de minha prepotência, tombei e dolorosa foi a queda. Li que o homem deve buscar a si mesmo: busca que a muito deixei de empreender. Não me sentia mais sozinho: diagnóstico que provava que estava fora do caminho. A busca pelas respostas que não se sabe se devem existir, se trilha em completa solidão, mas disso também me esqueci. “Aquele que verdadeiramente só quer seu destino já não tem semelhantes e se ergue solitário sobre a terra, tendo ao seu lado os gélidos espaços infinitos”. Tomei modelos, ideais, amores e consolos: esqueci-me que nesse caminho apenas o vazio me acompanha. “Aquele que só quer seu destino já não tem modelos nem ideais, amores nem consolos”. Tive medo da solidão, e ainda tenho, por isso, acovardo-me e deixo de trilhar o caminho da existência humana.

Percebo tudo isso e me encerro em profunda decepção. Refaço minhas malas, bato a poeira do antigo caminho, despeço-me de todos e tento voltar ao caminho do vazio, do eterno retorno.

"Para o homem consciente só havia um dever: procurar-se a si mesmo, afirmar-se a si mesmo e seguir sempre adiante o seu próprio caminho, sem se preocupar com o fim a que possa conduzi-lo (...) O verdadeiro ofício de cada um era apenas chegar até a si mesmo (...) Aquele que verdadeiramente só quer seu destino já não tem semelhantes e se ergue solitário sobre a terra, tendo a seu lado os gélidos espaços infinitos (...) Aquele que só quer seu destino já não tem modelos nem ideais, amores nem consolos (...) Também não deve querer ser revolucionário, exemplo ou mártir (...) Só podemos aspirar a nós mesmos, a nosso próprio destino." (Demian – Hermann Hesse)

2 Comments:

  1. Wit said...
    Parabéns pelo blog! Muito massa mesmo.

    É isso aí. "Follow your bliss", man.
    Nascemos póstumos? Talvez, mas nunca deixemos de viver o agora. E, pra mim, este agora só pode reunir sentido se pudermos vivê-lo com bom humor e Amor.

    Pessoalmente creio que "sem Amor não há sentido na vida". Pois só o Amor pode conciliar o "inconciliável" e transcender os paradoxos de nossa cansada existência sobre a terra.

    O resto é capricho.
    Abraços amigo.
    Alan B. Buchard said...
    Obrigado pela participação Wit....

    Fique sempre a vontade!!

    Abraços amigo

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