Cachoeiro de Itapemirim, 02 de agosto de 2010
Muitos se encontram decepcionados com o discurso religioso! Vindo de um meio religioso, com família religiosa, amigos religiosos e sociedade religiosa, posso dizer que não foi uma única vez que ouvi alguém dizer que determinada pessoa deixou de comungar de uma religião para vir a ser de outra religião, ou num caso extremo, deixou de ser religioso para se tornar ateu.
Eu me pegava questionando a possibilidade de alguém que era cristão, este alguém que possuía um relacionamento com o Deus cristão, que vivenciou várias experiências com esse Deus, se tornar ateu ou mudar de religião. Tal possibilidade era inexistente em minha mente. No entanto, como as estatísticas não mentiam para mim, procurei um consolo no livro “Alma Sobrevivente – sou cristão apesar da igreja” de Philip Yancey, para tentar entender como tal mudança de pensamento se processa. Tal leitura não me proporcionou nenhuma resposta, mas me instigou a continuar na busca pelas respostas.
Ao que fui a fundo nessa questão, percebi que a maior parte das pessoas que migram do cristianismo para outra religião ou para o ateísmo – caso de Yancey, antes de voltar pro cristianismo –, assim o fazem por uma decepção que tiveram. Estes que se puseram a ver, enxergaram com muito desgosto a hipocrisia dos líderes cristãos, e por isso se decepcionaram. O famoso “faça o que digo, mas não faça o que faço”, a manipulação de conhecimento e psicológica, o dinheiro rolando por debaixo dos panos, o sexo com a secretária, enfim, todos os males condenados e praticados simultaneamente pelos líderes e fiéis, constituem a principal causa de decepção das pessoas para com o cristianismo.
No entanto, existe uma pequena parcela, a qual me encaixo. A parcela dos decepcionados por uma questão filosófica. Nesse grupo a decepção por conta das atitudes dos religiosos não constitui causa para uma mudança de credo; a causa é o conhecimento. Não foram poucos que me alertaram para fato de o conhecimento poder trazer uma espécie de “afastamento de Deus”. Afirmavam que se ater a letra causa esfriamento espiritual, o que seria desastroso, causa me seduzisse. Se foram videntes ou não, a realidade é que mudei minha forma de pensar ao estudar mais a fundo aquilo que me era dito.
Os estudos da teologia somados ao estudo filosófico permitiram-me enxergar as contradições daquilo que desde criança me ensinavam, tal como a medicina desmitifica ao universitário que manga e leite, consumidos simultaneamente, não ocasiona morte. Ao que observei que aquilo que aprendi a acreditar não se passava de uma forma de ver num universo de milhões, não tive medo de largar as antigas crenças. Ao que passei a entender que essa máquina cognitiva humana é incapaz de processar a metafísica por conta da limitação dos sentidos, como afirmara Kant, deixei de ser cristão para me tornar agnóstico. Sair da ignorância me legou essa conseqüência. Assim como um médico nunca mais vê o corpo humano da mesma forma, depois da filosofia e teologia parei de enxergar deus na forma como o vêem nas igrejas.
Contrário do que pensam, abandonei a religião não porque esta entra em conflito com minha orientação sexual, ou porque foram “intransigentes” comigo. A minha mudança foi radical, firme, profunda e racional. O estudo da sabedoria – a filosofia – e o estudo de deus – ou daquilo que pensam ser deus (teologia) – formaram minha nova cosmovisão. E uma vez que ”a mente que se abre a uma nova idéia, jamais voltará ao seu tamanho original" (Albert Einstein).