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Do nascer Póstumo

Niterói, 20 de agosto de 2010



Nietzsche em todo seu caminho na filosofia afirmou que nascera póstumo. Toda a sua filosofia, fruto de uma mente brilhante, consistem em algo totalmente subversivo; numa crítica ferrenha à metafísica, à religião, e à ciência. Seus escritos, por serem tão conflitantes aos outros, não deram-lhe popularidade, e sua filosofia foi posta de lado por toda academia filosófica. Por isso, afirmara: “Há homens que já nascem póstumos”. Póstumo porque acreditava que seus escritos eram para o porvir, para as pessoas futuras – que entenderiam seus textos. Nietzsche estava totalmente certo...

Não obstante Nietzsche, hoje começo a perceber que os grandes pensadores, não só na filosofia, mas em todos os saberes, nasceram póstumos. Aos montes são os poetas que só depois de sua morte é que tiveram seus versos lidos e estudados; igualmente os cientistas que foram ao escárnio com suas teorias, e que só muitos anos depois elas foram confirmadas e aceitas; além de outros filósofos que como Nietzsche, também foram ridicularizados e hoje são referência.

Interessante é que nós, pensadores em formação, quando olhamos para dentro de nós mesmos e enxergamos toda nossa complexidade, toda subversão, todas as idéias não convencionais, somos tomados por desespero. Afinal, sabemos – como se fosse uma intuição – que a maioria dos que nos lêem, ouvem ou nos conhecem não entendem o que dizemos. Assim, o que nos é particular, brilhante, desejável e único, se torna uma maldição. E dessa maldição sai veneno: veneno que sentimos na boca, veneno que afasta as pessoas, veneno que nos põe a chorar.

Nietzsche é apenas uma personificação de um grupo de muito que também se consideram póstumos. O que era duma dádiva e se tornou em maldição nos torna póstumos. Muito pensadores morrem em descrédito, sozinhos, em desonra e vergonha. Nietzsche morreu em 1900, solitário; mas não solitário de familiares, porém, solitário de pessoas que o compreendessem. Eu nasci póstumo, qual meu futuro?

Do recente

Niterói, 20 de agosto de 2010


O que acontece é que geralmente algo de recente chama-nos mais atenção do que algo que já se encontra um pouco no passado. Eis assim o homem. Este, a todo o momento se relaciona, seja com alguém, com algo, ou consigo mesmo. E nesse relacionar humano, o recente impressiona mais do que o passado.

Observe: lançada uma nova tecnologia, a anterior se torna obsoleta – a exemplo, o DVD que substituiu o VHS; estreando um novo remake de um filme, poucos ainda preferirão a versão antiga; acontecendo uma tragédia, a que veio antes dela é esquecida – com exceção dos familiares e amigos de alguém que morre na tragédia anterior; um novo amigo, pode acabar substituindo o antigo, afinal, são novas histórias, novos gestos, novas risadas, novos programas, novos pontos de vista.

Ou seja, o mundo é Heraclídico. Tudo está em constante transformação. Uma transformação sucede a outra, criando uma espécie de ciclo. E enquanto vivemos essas transformações, o presente, o novo, sempre chama mais atenção do que esse antigo, que ainda não desapareceu, mas está lá de forma tímida.

Bem, há quem diga que “passado, só museu”! Eu gosto de museus, gosto do antigo, gosto da mente dos antigos, gosto dos costumes dos antigos. Prefiro uma carta a um email; uma conversa pessoal a um telefonema; um baile a uma boate; uma guerra de espadas a uma guerra de tiro; os valores dos antigos aos valores da high tecnologia.

O recente sempre chama mais atenção do que o antigo, mas parece que sou oposto. Como se tivesse nasci em época errada...

Cachoeiro de Itapemirim, 05 de agosto de 2010

(A caravela - Salvador Dalí)

Já havia comentado na postagem antiga – “O ser humano como Ser complexo” – da complexidade que é o homem. Como ser racional, dotado de sensações, emoções, vontades, desejos e todas as demais instâncias existentes dentro de si, não existe respostas simples que possam defini-lo por completo. Existem pormenores a serem discutidos e para se chegar a um mínimo de concordância na resposta para a pergunta: “Quem é o homem?”.

Fácil de observar é o fato de que uma simplicidade na resposta a questão mais problemática do ser humano, poupa um contínuo “bate-cabeça”. A simplicidade no pensar nos reserva tempo para aproveitarmos todo o resto do universo de assuntos sobre o homem. Simplicidade livra-nos do incômodo que é quebrar padrões, conceitos, sistemas. Simplicidade garante uma vida mais despreocupada.

Contudo, simplicidade não dá conta do ser humano. Simplicidade não responde questões essenciais. Simplicidade não implica avanço intelectual, afinal, qualquer teoria, máquina ou pensamento criado implicou na elaboração de uma complexidade. Simplicidade não possibilita a formulação de uma visão ampla do homem e do que o cerca. A simplicidade apenas restringe.

Há quem diga, e com total razão, que com a complexidade advém a crise existencial, a subversividade, a dor, a solidão. E também há aqueles que afirmam serem mais felizes indivíduos ignorantes. Sim, haveria felicidade vivendo assim, mas ainda viveríamos na idade das cavernas, e nem mesmo o fogo teríamos descoberto. Há quem prefere a simplicidade... Eu, gosto da complexidade!

Da mesquinharia

Cachoeiro de Itapemirim, 05 de agosto de 2010


Impressionante o fato dos seres humanos serem tão mesquinhos! O mundo que nos cerca é suficiente para nos fazer esquecer que a matéria nada mais é do que materialidade. Não pense que a partir de agora afirmarei uma doutrina platônica, onde o real sentido da existência se encontre num mundo metafísico. Pelo contrário, o sentido de tudo se encontra neste mundo, e restrito a ele. No entanto, esse sentido não se está nos objetos, mas no próprio Homem. Por isso, volto a afirmar que no presente estado da história mundial, o homem se tornou mesquinho!

Em vez de o ser humano ser a medida de todas as coisas, e por isso detentor de todos os sentidos de existência, transferiram para os objetos inanimados a medida de todas as coisas. A moral é moral do mais rico. A ética é a ética do orgulho do sucesso financeiro. O homem serve ao que é externo a si, em vez do externo servir a si mesmo. Esqueceram que um objeto é um simples objeto, e que a importância que ele possui, nós é quem o conferimos. Esqueceram que carro é meio de transporte, e que dinheiro é simplesmente um papel. Não há problemas com padrões de sucesso financeiro, ou com o uso que fazemos dos objetos, mas existem problemas quando se esquece de que esses padrões o ser humano é quem os cria. Parece que tudo a volta deixou de ser tais como são, para tornarem algo superior.

Como conseqüência, o próprio homem é banalizado. Sai do centro de formação dos conceitos para se tornar produto desses conceitos. O ser mais fantástico de toda natureza perde lugar para suas próprias criações. Esquece quem é a causa e quem é a consequência. Tornamo-nos mesquinhos: não somos seres humanos, somos o que temos enquanto seres humanos.

De Franz Kafka

Cachoeiro de Itapemirim, 03 de agosto de 2010



"Na época isso foi só um pequeno começo, mas esse sentimento de nulidade que frequentemente me domina (aliás, visto de outro ângulo, um sentimento nobre e fecundo) deriva, por caminhos complexos, da sua influência. Eu teria precisado de um pouco de estímulo, de um pouco de amabilidade, de um pouco de abertura para meu caminho, mas ao invés disso você o obstruiu, certamente com a boa intenção de que eu devia seguir outro. Mas para isso eu não tinha condições. Você me estimulava, por exemplo, quando eu batia continência e marchava direito, no entanto eu não era um futuro soldado; ou me estimulava quando eu comia vigorosamente e além disso conseguia beber cerveja (...) nada disso, entretanto, fazia parte do meu futuro. E é significativo que até hoje você só me encoraje de fato naquilo que o afeta pessoalmente, quando se trata do seu amor-próprio, que eu firo (...) ou que é ferido em mim.". (Franz Kafka- Carta ao Pai)

Enquanto ouço Franz Kafka colocando sua alma no papel, sinto que não é ele, mas sim eu que escrevo. Sinto sua dor; sua solidão me toca; sua indignação me revolta; seu choro eu ouço; sua letra me comove. Não consigo passar despercebido por seu lamento, e seu clamor retumba em meus ouvidos. Minha história confluí com a desse poeta. E para aqueles que seu caminho confluí igualmente, resta fazer das palavras de Kafka as suas.

Da transcendência

Cachoeiro de Itapemirim, 02 de agosto de 2010


Existe, sim, a possibilidade de transcender! Ela se dá quando a realidade é triste; quando viver é enfadonho; quando pensar enche-nos de pesar; quando os olhos já não enxergam as cores do dia; quando o pé se arrasta sem saber para onde ir; quando o coração está vazio.

Transcender. Tornar-nos um com tudo! Olhar para o céu e sentir-se elevado até os cimos. Observar as nuvens e sentir-se dentro de seus espaços brancos acinzentados. Olhar para as montanhas e desejar ardentemente estar entre suas altas árvores. Sentir o Sol namorar a pele, dando beijos calorosos; sentir que seus beijos são uma despedida. Ver a noite chegando, trazendo a mãe Lua e suas filhas, as estrelas. Acenar para os belos pássaros que em vôo sublime se retiram para o conforto de seus ninhos. Sentir o ar entrando nos pulmões, trazendo vigor. Se calar diante da magnitude da natureza. Se unir a tudo, trazendo paz ao coração.

Transcender. E sentir toda sobra dissipar. Transcender. E voltar a sorrir. Transcender. E não se sentir mais sozinho. Transcender. E ser um com todos. Transcender. E encontrar a resposta escondida dentro de si. Transcender. E tornar-se um com o divino. Transcender. E extasiar-se com o nascer do rei Sol. Transcender. E chorar pela beleza sibilante do balé da noite e de suas estrelas. Transcender. E estar pronto para morrer.

Transcendi. Os deuses não me impõem mias medo. Transcendi. O homem não mais me entristece. Transcendi. Encontrei as respostas. Transcendi. Voltei a ser eu. Transcendi. Voltei a amar. Transcendi. Morri. Transcendi. Renasci. Transcendi. Sou um com tudo!

Da lamentação

Cachoeiro de Itapemirim, 02 de agosto de 2010


Encontro-me decepcionado. Frustrado até o mínimo indivisível do meu ser. Sinto vontade de chorar por meus erros e rir de minha lamúria. Pois, pensava estar próximo do ideal de existência, estando na verdade no máximo da presunção de considerar-me no caminho certo. Gabava-me por ter eloqüência e capacidade de convencimento; alegrava-me por ser tomado em alta conta intelectual por alguns amigos. Eis que havia esquecido como é o caminho por onde trilho: esqueci-me do eu que nele adentrou.

No pouco que me distraí com o externo a mim, pago agora uma dura pena. Desviei-me do caminho que me direcionava a plena existência, para ater-me no caminho da medíocre vivência. Deixei de questionar-me para ter-me em alto conceito; considerei-me um ser adulto, quando não passava de uma criança. Comecei a procurar respostas no que está fora de mim, em vez de buscar a mim mesmo. Debati questões aporéticas e irrelevantes para a existência. Tomei-me como missionário contra o avanço da ignorância, ignorando a ignorância existencial dentro de mim.

Muito questionei, tentando mostrar ao outro que seus conceitos não passam de equívocos e alegorias, esquecendo-me de que cada um deve perceber em si mesmo a ignorância. Lutei contra o mostro da precipitação intelectual, mas durante a batalha, tornei-me nele. Não tive cuidado e assim me transformei no ser que eu mais odiava. Tornei-me pretensioso, esquecendo-me de que quanto mais se conhece, mais se conhece que não conhece. Em vez de me trancar num silêncio intelectual e existencial, passei a tagarelar certezas de que nem mesmo as tinha. Propaguei visões de um mundo idealizado por mim, mas não vivido por mim.

No auge de minha prepotência, tombei e dolorosa foi a queda. Li que o homem deve buscar a si mesmo: busca que a muito deixei de empreender. Não me sentia mais sozinho: diagnóstico que provava que estava fora do caminho. A busca pelas respostas que não se sabe se devem existir, se trilha em completa solidão, mas disso também me esqueci. “Aquele que verdadeiramente só quer seu destino já não tem semelhantes e se ergue solitário sobre a terra, tendo ao seu lado os gélidos espaços infinitos”. Tomei modelos, ideais, amores e consolos: esqueci-me que nesse caminho apenas o vazio me acompanha. “Aquele que só quer seu destino já não tem modelos nem ideais, amores nem consolos”. Tive medo da solidão, e ainda tenho, por isso, acovardo-me e deixo de trilhar o caminho da existência humana.

Percebo tudo isso e me encerro em profunda decepção. Refaço minhas malas, bato a poeira do antigo caminho, despeço-me de todos e tento voltar ao caminho do vazio, do eterno retorno.

"Para o homem consciente só havia um dever: procurar-se a si mesmo, afirmar-se a si mesmo e seguir sempre adiante o seu próprio caminho, sem se preocupar com o fim a que possa conduzi-lo (...) O verdadeiro ofício de cada um era apenas chegar até a si mesmo (...) Aquele que verdadeiramente só quer seu destino já não tem semelhantes e se ergue solitário sobre a terra, tendo a seu lado os gélidos espaços infinitos (...) Aquele que só quer seu destino já não tem modelos nem ideais, amores nem consolos (...) Também não deve querer ser revolucionário, exemplo ou mártir (...) Só podemos aspirar a nós mesmos, a nosso próprio destino." (Demian – Hermann Hesse)

De uma questão filosófica

Cachoeiro de Itapemirim, 02 de agosto de 2010


Muitos se encontram decepcionados com o discurso religioso! Vindo de um meio religioso, com família religiosa, amigos religiosos e sociedade religiosa, posso dizer que não foi uma única vez que ouvi alguém dizer que determinada pessoa deixou de comungar de uma religião para vir a ser de outra religião, ou num caso extremo, deixou de ser religioso para se tornar ateu.

Eu me pegava questionando a possibilidade de alguém que era cristão, este alguém que possuía um relacionamento com o Deus cristão, que vivenciou várias experiências com esse Deus, se tornar ateu ou mudar de religião. Tal possibilidade era inexistente em minha mente. No entanto, como as estatísticas não mentiam para mim, procurei um consolo no livro “Alma Sobrevivente – sou cristão apesar da igreja” de Philip Yancey, para tentar entender como tal mudança de pensamento se processa. Tal leitura não me proporcionou nenhuma resposta, mas me instigou a continuar na busca pelas respostas.

Ao que fui a fundo nessa questão, percebi que a maior parte das pessoas que migram do cristianismo para outra religião ou para o ateísmo – caso de Yancey, antes de voltar pro cristianismo –, assim o fazem por uma decepção que tiveram. Estes que se puseram a ver, enxergaram com muito desgosto a hipocrisia dos líderes cristãos, e por isso se decepcionaram. O famoso “faça o que digo, mas não faça o que faço”, a manipulação de conhecimento e psicológica, o dinheiro rolando por debaixo dos panos, o sexo com a secretária, enfim, todos os males condenados e praticados simultaneamente pelos líderes e fiéis, constituem a principal causa de decepção das pessoas para com o cristianismo.

No entanto, existe uma pequena parcela, a qual me encaixo. A parcela dos decepcionados por uma questão filosófica. Nesse grupo a decepção por conta das atitudes dos religiosos não constitui causa para uma mudança de credo; a causa é o conhecimento. Não foram poucos que me alertaram para fato de o conhecimento poder trazer uma espécie de “afastamento de Deus”. Afirmavam que se ater a letra causa esfriamento espiritual, o que seria desastroso, causa me seduzisse. Se foram videntes ou não, a realidade é que mudei minha forma de pensar ao estudar mais a fundo aquilo que me era dito.

Os estudos da teologia somados ao estudo filosófico permitiram-me enxergar as contradições daquilo que desde criança me ensinavam, tal como a medicina desmitifica ao universitário que manga e leite, consumidos simultaneamente, não ocasiona morte. Ao que observei que aquilo que aprendi a acreditar não se passava de uma forma de ver num universo de milhões, não tive medo de largar as antigas crenças. Ao que passei a entender que essa máquina cognitiva humana é incapaz de processar a metafísica por conta da limitação dos sentidos, como afirmara Kant, deixei de ser cristão para me tornar agnóstico. Sair da ignorância me legou essa conseqüência. Assim como um médico nunca mais vê o corpo humano da mesma forma, depois da filosofia e teologia parei de enxergar deus na forma como o vêem nas igrejas.

Contrário do que pensam, abandonei a religião não porque esta entra em conflito com minha orientação sexual, ou porque foram “intransigentes” comigo. A minha mudança foi radical, firme, profunda e racional. O estudo da sabedoria – a filosofia – e o estudo de deus – ou daquilo que pensam ser deus (teologia) – formaram minha nova cosmovisão. E uma vez que ”a mente que se abre a uma nova idéia, jamais voltará ao seu tamanho original" (Albert Einstein).

Da polêmica televisiva IV

Cachoeiro de Itapemirim, 02 de agosto de 2010


Para terminar, minha consideração a cerca das afirmações das igrejas ditas “ normais”.

A primeira baboseira foi dita pelo pastor assembleiano, que em suas palavras afirmar ser a homoafetividade um comportamento. Ele afirma ser uma opção. Ora, se a homossexualidade é opção, a heterossexualidade também é, obrigatoriamente, já que todos esses termos se refere a sexualidade humana. Contudo, o mais impressionante foi que esse ser humano afirmou e enfatizou categoricamente que a ciência já COMPROVOU que o homossexual não nasce homossexual. Para contradizê-lo, abaixo segue alguns dados científicos:

1- “No ramo da ciência da genética vários estudos têm sido realizados no sentido de investigar origens hereditárias para a homossexualidade. Um dos estudos mais conhecidos nesse sentido tenta estabelecer uma correlação entre a homossexualidade masculina com o gene Xq28. É efetivamente uma tese que coloca a homossexualidade não como uma opção ou estilo de vida, mas sim como resultado de uma variação genética. (Hamer DH, Hu S, Magnuson VL, Hu N, Pattatucci AM (jul 1993). "A linkage between DNA markers on the X chromosome and male sexual orientation." 261 (5119): 321-7. Science. PMID 833289)



2- “A tese de que a homossexualidade pode ter origens genéticas tem sido usada bem como recusada tanto por aqueles que consideram a homossexualidade como algo negativo como os que consideram algo a defender. (Drauzio Varella (2004). Causas da Homossexualidade)

3- “Estimamos que a contribuição dos genes para a orientação sexual seja na casa dos 40%. Então as contribuições de outros fatores, sejam eles biológicos ou sociais, podem ser igualmente importantes." (Alan Sanders à revista Galileu)

4- Não há estudos empíricos ou pesquisas que suportem teorias que atribuem a orientação sexual a disfunção familiar ou traumas (Bell et al., 1981; Bene, 1965; Freund & Blanchard, 1983; Freund & Pinkava, 1961; Hooker , 1969; McCord et al., 1962; Peters & DK Cantrell, 1991 Siegelman;, 1974, 1981; Townes et al., 1976)

Além desses dados, há estudos que comprovam a existência de homossexualidade no reino animal, o que contraria a tese dos religiosos de que homoafetividade não seria natural:

1- O comportamento sexual dos animais assume muitas formas diferentes, mesmo dentro da mesma espécie. As motivações e implicações para estes comportamentos têm ainda de ser totalmente compreendidas, uma vez que a maioria das espécies ainda não foram totalmente estudadas. (Gordon, Dr Dennis (10 April 2007). ‘Catalogue of Life’ reaches one million species. National Institute of Water and Atmospheric Research)

2- Um estudo publicado pelo periódico "Trends in Ecology and Evolution" concluiu a importância do comportamento homossexual para a evolução de muitas espécies animais, como entre as fêmeas do albatroz-de-laysan (Phoebastria immutabilis), do Havaí, que se unem a outras fêmeas para criar os filhotes, especialmente na escassez de machos, tendo mais sucesso que as fêmeas solteiras. O estudo conclui que a homossexualidade ajudou as espécies de diferentes maneiras ao longo da evolução. (Homosexual behaviour widespread in animals according to new study. The Daily Telegraph)

Portanto, pode ser que esse pastor pouco estudou de ciência antes de ir ao superpop, ou andou lendo muitos artigos de pastores que tentam ser cientistas ou de cientistas que tentam se passar por pastores.

Outro ponto diz respeito a disposição na mudança de homossexual para heterossexual. Antes de falar sobre isso, deve-se perguntar sobre a origem dessa vontade de mudança. Estatísticas mostram que o motivo de tal disposição tem como causa todo um fator social (sociedade ainda heternomista), fator familiar (família que não aceita a sexualidade de um filho), fator religioso (proibições nos livros ditos sagrados) e fator emocional (a soma do todo o resto). Portanto, se agressões verbais e físicas, exclusão de círculos sociais, perda de dignidade, perda de amigos, medo de decepcionar a família, poucos direitos civis, ameaças de inferno, sentenças de pecado e tantas outras barbáries fazem parte da realidade do povo LGBT, não é de se surpreender que estes querem se tornar héteros. A realidade é que muitos LGBT’s por não suportarem esses “ contras” procuram mudar sua orientação sexual, porém, como NÃO HÁ possibilidade, eles se abstêm de sua sexualidade para viver uma pseudo-heterossexualidade, assumindo assim o caminho mais cômodo.

E por fim, a questão da Heterofobia. Muitos têm medo do movimento LGBT que vem conseguindo espaço cada vez maior. Com a política de inclusão cada vez maior na mídia com filmes, novelas, personagens de temática lgbt, a sociedade começa a entender que não existe ameaça da parte dos gays/lesbicas/bi. A sociedade não deixará de existir porque gays terão filhos e esses filhos conviverão com os filhos dos héteros. Sexualidade não é contagioso!!! Cada vez mais as pessoas se conscientizam que ser gay é ser ser humano também; é ter dignidade. A sociedade vive um momento histórico, e eu viverei para ver essa sociedade isônoma, convivendo com as diferenças. Contundo, os religiosos vêem esse momento como escatológico: o fim dos tempos. Todas essas características são prenúncios de um fim que já foi dito a milhares de anos atrás. Por isso, se sentem ameaçados – ainda mais que os cristãos têm uma mania de perseguição. Nesses momentos, estes invocam a democracia e dizem de seus direitos de propagar seus dogmas. No entanto, assim como racismo é crime, homofobia também será, e sendo assim, é melhor propagarem seus dogmas com muito cuidado.

Depois de exaustiva série de postagens, termino-as aqui. Ao bom leitor: Pense com Autonomia.

Da polêmica televisiva III

Cachoeiro de Itapemirim, 02 de agosto de 2010


Este foi então o picadeiro do Superpop. Ambos os lados discutiram e colocaram suas opiniões, para assim terminarem em aporia, ou seja, não chegando a nenhuma conclusão ou acordo. Sendo assim, como prometido, esse post é o meu parecer sobre essas questões levantadas pelos inclusivos.

Em primeiro lugar, admiro muito a iniciativa da ICC de trabalhar com o público LGBT. Levar amor, aceitação, carinho às pessoas mais que machucadas emocionalmente é um ato louvável; ato este que devolve a dignidade às pessoas. No entanto, como a maioria das instituições religiosas, a ICC não deixa de ser um lugar de alienação de fiéis. Eles realizam uma leitura confessional da bíblia que quase todo o resto da cristandade considera absurdo. Porém, não só ela, mas quase todas as igrejas lêem a bíblia segundo sua própria ótica, a ótica que convém: seja ela da libertação, da prosperidade, do livre arbítrio, da predestinação, da inclusão e etc. Sendo assim, o estudo sistemático da bíblia é comprometido pela confessionalidade, que aliena as pessoas. Além disso, a ICC possui suas doutrinas, dogmas e “pode-não-pode”, que me dá ânsia de vômito.

Com relação ao “nascer gay”, posso dizer - por experiência – que desde muito cedo o indivíduo se percebe gay. Por conta de nossa memória consciente só conseguir se remontar aos 4 anos de idade, não posso afirmar se alguém nasce gay com total certeza, porém, existem estudos que dizem existir grande probabilidade de uma pessoa já nascer com sua sexualidade definida. Contudo, tratarei disso na próxima postagem.

Existe sim homofobia na igreja. O discurso – falacioso? – é que todos podem estar na igreja, que a igreja, como corpo de cristo, a todos quer abraçar. No entanto, isso não é realidade, já que quando um gay assumido entra na congregação, ele é bombardeado de olhares inquisitivos, ou o que é pior, com olhares de pena – como se essa pessoa não fosse um ser humano. Por mais que digam, não existe lugar para um gay numa igreja “normal”. Muitos irão falar que existe sim, lugar para gays, mas gays que querem mudar. Contudo, a questão é que estes muitos que confusamente querem mudar, dentro da igreja são tratados como doentes. O que não posso deixar de observar é que cada igreja possui seus dogmas e suas crenças, e só deve ficar nela quem quiser se submeter a esse jugo.

Ao bom observador, não é surpresa que a igreja nunca pregou liberdade. Ela sim, pregou liberdade no sentido platônico – liberdade num mundo metafísico –, mas nunca no âmbito terreno, á exceção da corrente da libertação. Além disso, ela é difusora da intolerância religiosa e da homofobia, mesmo que isso esteja mascarado pela assertiva de que isso é bíblico.

Seja a ICC ou as igrejas normais, a realidade religiosa não muda, pois no fundo, é tudo farinha do mesmo saco. Eu, em nenhuma vou...

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