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Into the West

Niterói, 15 de novembro de 2010



A melodia toca lentamente em meus ouvidos, e sinto-me desvanecendo a cada novo acorde. Sou invadido por uma vontade de transcendência, como que chamado por uma viagem longa, bela e sem volta. Em meu peito arde a chama desse mistério que me atrai até si, me convidando a descortinar a existência e a responder minhas perguntas.

A melodia ressoa dentro e mim e já vejo meus pés caminhando pelo Oeste. Há longo caminho a ser percorrido até as praias mais distantes e ao porto mais belo. Sou movido a encanto e todo meu corpo age pela magia contida entre cada nota dessa canção dos deuses.

Há em mim vontade de transcender, mas é preciso esperar a minha hora e àqueles que me vem buscar de tão longe. E nessa espera vou deixando a cada segundo um pouquinho mais de mim. Vou andando à passadas lentas, inspirado pela canção...

Pelo Oeste há magia ao meu redor e sons dentro de mim! Acredite, sou conduzido e nem se quer faço força para caminhar. Isso age dentro de mim e por mais que possa tentar não há por onde escapar. Eu apenas me entrego à melodia e me deixo ser levado...

Antes mesmo de chegar meus olhos já vislumbram meu fim. Com alegria e atônito vejo a chegada do último navio vai em direção ao fim do Oeste. Em direção à Valinor, morada dos deuses.

Quando eu chegar ao Porto, a melodia continuará ressoando dentro do meu coração, mostrando-me minhas perdições e minhas glórias. Embalado por essa magia, uma última olhadela darei para aquele que um dia fui; e num ato de adeus porei meus pés dentro do navio chamado transcendência!

Da praia até Valinor um grande oceano se apresenta à mim como um último caminho a ser percorrido. Entre o vai e vem das ondas e ao som da melodia que sai da boca desses seres de sabedoria que pilotam o navio, vou me despindo da existência. Não imponho entraves... Apenas me abandono nesse momento.

Ao que vejo as encostas da cidade dos deuses, a melodia soa mais forte ao meu redor, como que a dar-me boas vindas ao reino dos imortais, minha nova casa, lugar de meu descanso. O navio vai se aproximando...

Já posso distinguir rostos iluminados com sorrisos nos lábios. Minha hora se aproxima, devo deixar minha existência de lado...

Agora a canção sai da boca dos habitantes da cidade iluminada! Não me restam dúvidas. Minha hora chegou!

Corpo, já podes descansar! Coração, já podes parar de bater! Alma, já podes transcender! A melodia está a te guiar...

♦♦♦

Into the West

Lay down
Your sweet and weary head
The night is falling
You have come to journey's end
Sleep now
And dream of the ones who came before
They are calling
From across the distant shore

Why do you weep?
What are these tears upon your face?
Soon you will see
All of your fears will pass away
Safe in my arms
You're only sleeping

What can you see
On the horizon?
Why do the white gulls call?
Across the sea
A pale moon rises
The ships have come to carry you home

And all will turn
To silver glass
A light on the water
All souls pass

Hope fades
Into the world of night
Through shadows falling
Out of memory and time
Don't say
We have come now to the end
White shores are calling
You and I will meet again
And you'll be here in my arms
Just sleeping

(Chorus)

And all will turn
To silver glass
A light on the water
Grey ships pass into the west

Do mistério da existência

Niterói, 10 de novembro de 2010

Penso cá comigo: que mistério é esse o viver? Que surpresas estão escondidas em cada curva de nossa existência? O que enxergamos são sorrisos, lágrimas, olhares brilhantes, semblantes tristes. Mas, o que no fundo há por trás disso tudo? Quais mistérios estão escondidos em cada mente? Qual o mistério de viver por 100 anos? Ou no meu caso, o mistério de se ter 20 anos?

Eu sinto dores tentando existir! Mas mesmo martirizado não consigo ainda desvelar o mistério que envolve o viver...

Confesso que às vezes fico perdido! Muitos falam muitas coisas. A quem seguir? Uns falam em Deus, outros em homens; uns afirmam pós-vida, outros em vida. Porém, ainda assim não conseguem me responder: Que mistério é esse de viver?

Talvez eu que não os queira ouvir, ou talvez nem precise, mas o que mais quero é captar a essência da vida. Quero desvelar esse mistério!

O que é viver? Não pode ser apenas o passar de um dia após o outro; existe algo por trás, algo que ainda não nos contaram. Mas não é algo mágico, divino ou fantasioso; isso seria simples demais. É apenas humano!

Eu fico agoniando! O que será que ele pensa? O que será que o amor da minha vida pensa quando olha para o nada, numa dança de olhares? O que é isso que ele busca? Será o mesmo que busco? Isso é mistério! Que mistério é esse que envolve a existência dele?

Tenho dores. Alivio-as escrevendo! Mas eu preciso saber....

Quero rasgar esse véu; quero quebrar essa fôrma; quero matar essas fórmulas; quero esquecer o estabelecido; quero furar meus olhos e não enxergar os muitos que apontam vários caminhos. Quero andar com minhas próprias pernas e não ter um tutor. Quero fazer o meu mapa do tesouro escondido. Quero a essência de cada momento. O corriqueiro já me cansou!

Quero entender o que o silêncio diz; o que o sorriso esconde; e o que a lágrima lava. Quero simplesmente entender... Mas não quero manuais!

Quero chão a ser percorrido: sozinho ou com bem poucos!

Quero a vida! Não o dizem dela. Quero-a...

Quero que a noite fria e silenciosa me ensine os mistérios das estrelas cintilantes. Quero o que Sol ofuscante mostre-me o interior de cada caverna. Quero que a chuva tímida me faça sentir o cheiro de terra úmida. Quero que a primavera me explique as várias cores das muitas flores; e o outono a razão das folhas despencarem dos braços de sua mãe.

Quero poesia e filosofia!

Quais são os mistérios? O que eles querem nos dizer? Querem nos ensinar a ousadia do muito falar ou a humildade do silêncio? Que mistério é esse que está em sua mente? Conte-me, eu só quero saber! Explique-me e talvez sejamos um só...

Queres viver comigo? Arrume as malas... Muito caminho há pra se percorrer e a hora já vai alta...

Niterói, 26 de outubro de 2010

OBS: Esse texto foi escrito por volta da meia-noite e não possui nenhuma pretensão de ser coerente! Apenas buscava uma experiência mística! O que sentia ou pensava, escrevia...

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Cerveja gelada, fim de dia, chuva, pessoas dormindo, penumbra, eu escrevendo. O que acontece a partir daí?

Bebo mais um gole... o gosto é meio amargo.

Outro gole... meus braços doem! É a malhação...

Continuo esperando...

O que vai acontecer?

Barulho de gotas caindo ao chão! Céu alaranjado...

Arroto! O que significa isso? Gases? Não... acho que meu estômago quer me dizer algo de moralizante, mas estou sem paciência para ouvir...
Dois goles! Copo vazio...

E aí? Alguma coisa?

Ainda não...

Peraí, acho que senti uma leve tonteira... Será que ela aumenta?
Encho o copo...

Antártica para quem curte Merchandising!

Ainda nada... Só gotas! Nem roncos ouço para me tirarem da monotonia...

Novo gole! Cerveja é ruim... Por que será que bebo? Foda-se...

Movimento o pescoço! Por que não consigo mais estalá-lo? Quando era criança fazia direto...

Mais um gole! Mística... Cadê a mística? Cadê o novo mundo se descortinando diante de meus olhos?

Nada... Apenas trovoadas!

“O que a gente precisa é tomar um banho de chuva, um banho de chuvaaa / ai ai ai ai ai ai ai ai ai ai ai ai (2x)”...

Vanessa da Mata... Meu namorado ouvia isso mais cedo...

Foi ela que chamou a chuva?

Ah, esquece! Complicado demais...

Tô com a boca seca...

Gole!

Mais um e esvazio o segundo copo...

Ta prestes a acabar! É apenas uma latinha azul de 350 ml...

Pera! Estou mais tonto...

Mais ainda assim... nada... só tontura!

E gente dormindo... e chuva... e penumbra.

A única luz é a da cozinha! Tá um horror lá...

Louças sujas... Eca!

Me mande varrer e passar pano.. menos lavar louça!

Me molhei... boca furada como dizia meu pai!

Uffa... lá se foi o segundo copo!!!

Engraçado... to sentado na sala, com roupas molhadas pela chuva ao meu lado, apoiando meu copo de cerveja em cima de um livro que Pierre me deu...

Que falta de consideração!

Será que lerão estas minhas frases com a lerdeza de que as escrevi?

Ultimas chances mística... A bebida está acabando!

Estalei!!! Finalmente estalei o pescoço...

É... nada de mais! Pifff

O copo onde está a cerveja é de vaquinha! Era copo de requeijão!

Os que ganhei consegui quebrar...

E falando nisso... ontem foi bizarro! Sem motivos aparentes um prato dentro da pia de louça explodiu do nada!!!

Eu e Reiti ficamos com o coração acelerado na hora!

Quando vimos que não era nada, fui falar do ocorrido com um amigo meu na net, o Cézar...

Eu ainda estava tremendo!

Tenho medo de espíritos, não de homens...

Sou místico ou ateu?

Penúltimo gole!

As divindades brincaram conosco ontem?

Reiti acha que foi GAIA! Pierre a POMBA-GIRA...

Eu acho que foram todas elas!

Por favor, ninguém tem mais nenhuma deusa para dar palpite não?

E por favor, deusas, sexo feminino! Homem que entra aqui em casa é só gay, e pra putaria ainda...

HUAUHAHUAHUUHA

Não tem graça!!! Meus pais ficarão horrorizados...

Perdoem-me... É o álcool!

Vazio... Não encherá mais!

A cerveja acabou...

Cadê a mística?

Merda! Da próxima vez uso algo mais forte...

Desculpem-me a perda de tempo que lhes causei!

Fui...

Sou GAY!

_|_

Perguntas

Niterói, 24 de outubro de 2010

Pergunto-me por que a tristeza nos torna poetas; o luto, sábios; a tragédia, demasiados humanos; o choro alheio, compreensivos; a dor própria, compassivos?!

Por que na alegria está a leviandade, a imprudência, a impulsão, a desmedida, o excesso, o prazer e tudo mais que é tão pueril?

Por que não haveria de ser o contrário? Na alegria tornássemos sábios e na tristeza tornássemos loucos? Por que o riso não nos ensina mais que o choro? Por que o sábio é sempre asceta e o escritor sempre fora da Terra?

Por que a filosofia não combina com simplicidade e conhecimento com prazer? Por que para haver paz deve haver guerra e para haver construção deve haver desconstrução? Por que na paixão “tudo é tão lindo” e no amor a dor é companheira?

Por que água e óleo não se misturam?

Devir

Niterói, 24 de outubro de 2010

Em mim há tanto devir que minha vontade é de sumir!

Com o passar do tempo vou percebendo que ser humano é sofrimento. Tem lá seus momentos de contentamento, mas muito mais são os de lamento.

“Tristeza não tem fim / Felicidade sim.”

Eis o que percebo. Eis o que me torna pessimista. Eis do que tanto tento me curar. Eis porque escrevo.

Contemplei mais uma vez o abismo de minha existência, e a escuridão do ser me deixou assim, sem saber o que viver. É estranha essa impotência, ela transfigura a aparência e martiriza a existência.

Sofrimento! Serás tu que tornas o homem, homem, já que os animais de ti se escondem? E será tu, sofrimento necessário ao homem que não quer viver ao relento?

Tudo isso são só lamentos! Quando será o fim do meu lamento?

Devir, mudança, contradição, esquizofrenia, dúvida, incerteza, tormento, lamentação, pessimismo, tristeza, desespero, insegurança, baixa auto-estima, loucura, doença, euu!

Desabafo

Niterói, 24 de outubro de 2010

Com dor no peito movimento minha pena, na esperança de que nessa dança minha alma descanse.”

Tento expurgar de dentro de mim esse flagelo que tanto me açoita. Tento retirar o peso de minha alma e a contradição de meus pensamentos. Tento me livrar de mim mesmo, e é em mim que sempre retorno. Por que há de ser tão difícil?

Meus olhos ontem, na confusão de meu ser, não cessaram de chorar, e em lágrimas banhei a dor de ser quem eu sou. Ainda assim vou tentando, vou escrevendo, na esperança que de mim mesmo eu me entenda. Será que possível?

Com dores no peito constantes, caminho. Com olhos semi cerrados, pés vacilantes, mãos fracas, coração agonizante. É muito duro ser quem sou, e por isso me dói o peito. Como fazer para que tudo isso passe?

O desespero toma conta de mim! Parece que não vou conseguir. Seria melhor assim?

Choro. Não cesso de chorar. A chaga está muito aberta e é profunda. O que fazer para cicatrizar?
Esse sou eu. Perguntando a mim mesmo sobre mim para tentar aliviar-me. Para meu pranto espantar. Para meu pensamento expurgar. Para minha dor aliviar. “Por que há de ser tão difícil?”, “Será que é possível?”, “Seria melhor assim?”, “O que fazer para cicatrizar?”.

O que vai ser de mim?

Quem serei eu assim?

Eu?

Da tragédia

UFF, 27 de setembro de 2010

Este texto, por mais que postado em outubro, corresponde a um momento vivido por mim em setembro. Tal momento surgiu a partir de conversas entre os filosofantes da UFF. No entanto, ele só a mim corresponde. Se outros assim se sente, já não saberia afirmar...

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Há quem goste de final feliz... Eu, gosto da tragédia. Não que um “feliz para sempre” no final do filme não me alegre, mas o estranho, o incomum, o subversivo, o fim, torna-me reflexivo. A vida feliz é o que há de mais sublime e ideal, porém eu, em muitos momentos prefiro a tragicidade.

Pode ser que almejo o que me falta, assim como um faminto deseja a comida ou como um guerreiro que deseja a paz. Talvez essa falta torne a vida mais intensa, pouco racional. Talvez essa intensidade descortine diante de meus olhos a essência da vida, ou esse pouco racional flagele meu coração. O que sei é que gosto da tragédia: torna-me reflexivo; e essa refletividade alimenta minha existência.

Já cheguei achar que “happy end” é para os fracos, no entanto, hoje vejo que é para os mestres da simplicidade. Nós, complexos, somos apaixonados pela tragédia. Nós que ainda vivemos em duras penas no caminho do existir nos deparamos com a tragédia. E quando a vemos, choramos, lamentamos, vivenciamos, nos tornamos a própria tragédia. Com o passar do tempo deixamos parte da tragédia para trás, o que nos torna triste em alguns momentos e felizes noutros.

Mas a realidade é que sou trágico. Conflitante. Indeciso. Irracional. Bicho. Sou aquilo que amam e aquilo que odeiam. Sou extremos. Não sou o final feliz.

"Eu queria ter amado assim..."

UFF, 21 de outubro de 2010

(Onde sentei-me e escrevi... Porque isso me exauri tanto?

Eu queria de ter amado assim...

Às vezes me esqueço de que minha própria história testemunha em favor de mim mesmo e daquilo que vivo. Se me esqueço é porque de mim mesmo me esqueci. Estando eu esquecido, coube a uma pessoa por mim querida, despertar-me.

Eis o que posso ver: uma pessoa que os muitos dias foram distraindo a atenção; uma pessoa em que o excepcional tornou-se corriqueiro; uma pessoa onde o impulso tornou-se inércia; um ser humano que de incêndio tornou-se fogueira; e onde o amor tornou-se simples rotina.

Eu queria de ter amado assim...”, bastou para que eu mergulhasse novamente nesse mistério que é a loucura de amar. Uma única expressão, fruto de um coração admirado e nostálgico, dita com brilho nos olhos, foi capaz de me envergonhar. E da vergonha, me trazer de volta a esse intenso devir que é o estar amando.

Ponho-me a refletir e a relembrar: minha própria história está em favor de meu amor. Não que isso significasse uma dependência com o passado, que não deve ser quebrada, antes, consiste numa fonte de inspiração para quanto o poeta não tiver sobre o que mais escrever, e para o amante quando se esquecer de porque ama.

Daquilo que havia em mim havia me esquecido. E agora lembrando, afundo-me em nostalgia pelo tempo do esquecimento. Mas ainda assim, sinto-me retornando ao caminho disso que é totalmente incompreendido pelo homem, o amor. E por mais que os ombros estejam encolhidos e os olhos postos ao chão pela tristeza, sinto o coração renovando-se, e sei que em breve voltará a pulsar nos ritmos da dança epifânica que é o amor.

Minha amiga, esta que me despertou do sono do esquecimento, uma vez afirmou que uma única frase dita por mim em resposta a uma de suas perguntas, trouxe a ela uma nova forma de compreender alguns mistérios deste mundo. Mal sabia ela que meses depois seria eu quem despertaria a partir de uma de suas frases.

Minhas sinceras homenagens a você M. E. P.

Do lugar místico

Cachoeiro de Itapemirim, 09 de Outubro de 2010

(Stonehenge - Mystic Place)

Alguns lugares nos tornam místicos. Até o mais ateu reconhecerá que existem lugares que despertam nossa sensibilidade para algo que nos foge da razão. Eu tenho o meu. Não é qualquer lugar, é o meu lugar. Meu refúgio de mística e espanto.

Este lugar me conhece bem! Ele lugar com a vista para a cidade já assistiu as maiores crises que um jovem pode ter. Com sua vista privilegiada, com as árvores aos seus pés, com os pássaros acima de sua cabeça, com as nuvens dançantes no mais longe donde a vista pode alcançar meu lugar já me abrigou durante muitas tempestades. Durante dias revoltos e noites confusas, me abriguei no meu mirante.

Neste lugar já me senti perto de Deus e longe dos pecados. Este lugar que depois de muito tempo retorno, já me fez sentir o ser mais insignificante do planeta; e também me fez sentir o homem mais feliz do mundo. Neste lugar chorei as chagas da infelicidade familiar. Neste lugar me fechei na solidão de uma pessoa que não é compreendida. Neste lugar me senti esperançoso. Neste lugar me desesperei. Neste lugar quis morrer. Neste lugar quis viver.

Sim, este lugar me é místico.

Por uns momentos, neste lugar, sinto que as coisas fazem sentido, e que não são tão caóticas quanto parecem. Por uns momentos não preciso mais de ninguém. Por uns momentos contemplo o canto do universo que ecoa ao meu redor. Por uns momentos, estar completamente sozinho é bom. Por alguns instantes rio de algo sem sentido. Por ínfimo que seja, por uns momentos descanso em mim mesmo.

Neste momento em que o Sol morre, o vento é brisa gélida e as gaivotas voam em retorno aos seus lares, posso morrer que tudo terá feito sentido. Posso morrer em mística.

Do Astro rei

Cachoeiro de Itapemirim, 09 de outubro de 2010


Ó Sol, vais morrendo, e eu não quero sair daqui. Quero que você pare no tempo e não roube de mim esse final de tarde. Quero contemplá-lo eternamente. Quero que esta imagem, do dia que vai morrendo, continue me mostrando o sentido de todas as coisas.

Não quero que a escuridão chegue; a terrível escuridão da noite. Nem quero a claridade cegante da manhã; quero esses preciosos segundos, quando tu Sol, beijas a terra, sua amante.

Que os pássaros voem eternamente em direção aos seus lares, e que o balé de seus corpos não se apague de minha mente. Que as nuvens continuem passando pelo céu, mas que não me separem de ti, meu querido Sol. Que elas não o escondam, porque seu calor já não queima minha pele, e o seu brilho não ofusca meus olhos.

Não quero que Tu morras, quero sua companhia. Quente companhia! À noite o riso é estridente e as conversas, sussurradas. À noite o sábio se torna louco, e o louco há muito já se diz sábio. À noite os passos são rápidos e a paixão apressada. À noite a claridade da penumbra não é encantadora e o breu enche os corações de medo.

Não morra Sol! Sem o brilho de seus olhos a iluminar a Terra, as pessoas perdem seu encanto e os contornos, sua beleza. Não morra... Mas o vento já sopra gelado anunciando que seu fôlego está no fim. As nuvens, cada vez mais escuras, me mostram que este meu presente que lhe entrego não foi suficiente para impedir sua morte.


Ó Sol, querido Sol, estou com frio! Já não sinto mais seu calor acolhedor em minha pele! Ó Sol, também estou morrendo! Ó Sol, te espero ansiosamente para renascermos juntos pela manhã...

Niterói, 13 de setembro de 2010

(Gods Panteon - Grizzli)

Quando me ponho a observar o cosmo, a natureza, que me cerca como faço agora ao olhar para o céu e enxergá-lo em tons de cinza e dourado, num típico final de tarde, ao mesmo tempo em que vejo o calmo mar da Baía de Guanabara fazendo-lhe reflexo, sou tomado de admiração, de inspiração, de espanto. Este mundo que vejo é harmonioso, e todas as peças se encaixam. Se porventura alguém mudasse um milímetro que fosse da inclinação do globo, ou invertesse as ordens da estação, tudo deixaria de existir instantaneamente. Num mundo tão ordenado, não poucos disseram: “Os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia as obras de tuas mãos” (Sl 19.1). Neste mundo onde os seres humanos se sentem tão ínfimos, tão pequenos diante de uma natureza tão poderosa, algo neles aflora: a necessidade de transcendência.

Como diria Mircea Eliade, um grande historiador e filósofo das religiões: “Basta dizer que ‘o sagrado’ é um elemento da estrutura da consciência, e não um estágio na história da consciência. Um mundo com sentido – e o Homem não pode viver no ‘caos’ – é o resultado de um processo dialético a que se pode chamar manifestação do sagrado. A vida humana adquire sentido ao limitar os modelos transumanos constitui uma das características primárias da vida ‘religiosa’.” (Mircea Eliade, As Origens, p. 9). Fica explicito na fala do historiador a causa da “necessidade de transcendência”. Um homem que vive num mundo, tal como posto acima, onde tudo é ordenado e tudo se encaixa perfeitamente; e neste mundo que o homem não consegue explicar como tudo isso se processa, uma coisa ele faz: cria um ser divino, transcendente, metafísico; ser este que dará conta das explicações que este homem não consegue dar.

Lamentavelmente, esta postura histórica da humanidade a poupou dos questionamentos e da dor de cabeça que é buscar respostas. Abrimos mão da capacidade do questionamento, para acomodarmos na transcendência e na revelação das respostas para aquilo que não compreendemos. Certa vez li que “Não é necessário compreender, mas sim confiar”; ora, confiar em quem? Confiar num deus que dará as respostas para nós seres humanos ignorantes. Não é difícil perceber o quanto a falta de conhecimento nos objetos observados leva o indivíduo a tecer argumentos que colocam em deus a origem do conhecimento.

A necessidade por transcendência a que me refiro aqui tem sua origem na ignorância de um ser humano, contudo, existem outras causas – que falarei mais tarde em outras postagens – como a esperança: esperança diante de uma tragédia, esperança diante de uma doença, esperança diante de uma oportunidade, enfim, esperança; com a gratidão: gratidão pelo sucesso, pela paz de espírito, por um relacionamento amoroso e por ai vai; (certa vez li também que o pior momento de um ateu é não ter a quem agradecer). Enfim, muitas são as causas, mas um dado é fato: a origem da transcendência não tem origem na idéia do ser divino, mas numa expectativa humana. Ou seja, deus não surge por ele mesmo na história da humanidade: o homem o inventa (seja com a fé, seja com argumentos racionais).

Não obstante, pergunto-me se uma vez sabendo da origem da transcendência, ainda recorreríamos a ela para estruturar nosso mundo. Qual o motivo de esperarmos que um deus exista, se não for para nos consolar, ou para nos fazer justiça, ou para lhe agradecermos, ou para cuidar de nós, ou nos fazer companhia? E assim sendo, como pensar que esse deus não é humano/parte do humano? Se quisermos algo contrário a isso, só haveríamos de pensar num deus alheio a tudo isso daqui, completo em sua perfeição, tal como pensaram os epicuristas.

Por que esperar um pós-vida se não for considerando essa vida decadente, injustiça, ínfima, trágica, contingente? Por que esperar um messias se não for considerando que nós não temos peito o suficiente para resolvermos nossas questões sem nos matarmos ou reduzir-nos a bichos? A necessidade transcendência não faz sentido se formos sinceros suficientes com nós mesmos, entendendo que se existe algo que nos transcende, nossa mente não consegue processar, dado a limitação de nossos sentidos (visão, olfato, paladar, tato e audição).

Não quero também ser radical ao extremo e afirmar que acontecimentos “sobrenaturais” não ocorrem. A racionalidade tem seus limites. No entanto, o que discuto é essa “necessidade” de deus, de transcender, de acreditar em algo superior ao próprio homem. Muito bem podemos viver num mundo que está aí, diante de nós, mesmo que nossa vida seja tão curta para usufruir de tantas coisas. Existe sim a possibilidade de tornar as poucas décadas que temos em vida mais compensadora do que toda uma eternidade. Não há necessidade de transcendermos se soubermos como viver e como morrer...

De "Entre Nós"

Niterói, 13 de setembro de 2010


Quero dizer, antes de mais nada, que esse texto foi escrito no final de julho desse ano, e que ele corresponde a lutas vivenciadas por mim lá trás! Essas lutas, digo, não deixaram de existir, mas se encontram um pouco adormecidas. Não existe nenhum mistério nessas palavras, nem uma frustração em meu relacionamento, mas posso dizer que nenhum relacionamento vive eternamente no auge, e esse texto é fruto de um momento intenso de desprazer e solidão. Pode ser que muitos não entendam ou me considerem radical, ora, contra isso já estou vacinado! Tudo isso aqui é pura estética...

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Entre nós

Pergunto-me se há possibilidade de fazer-te ouvir meu lamento, sem dele considerar-se a causa. Quero que leia minhas palavras inflamadas de pesar, sinta minha agonia e ainda sim vislumbre que não és tu o culpado. Quero fazer que entendas que é meu maior amor, mas ainda assim, meu maior crítico; que em suas palavras estão sintetizadas o que muitos pensam a cerca de mim. Quero que entendas que não há nenhum homem vivente que devo respostas, a exceção de você, e que por isso, desabafo. Quero que entenda que, como disse Nietzsche, eu nasci póstumo: “Alguns nascem póstumos (...) Eu estaria em completa contradição comigo mesmo se já esperasse hoje encontrar ouvidos e 'mãos' prontos para 'minhas' verdades; que hoje não se ouça nada de mim, que hoje não se saiba tirar nada de mim, isto não é apenas compreensível, mas me parece até mesmo normal.” Quero, por fim, que entendas que não possuo prazer na radicalidade ou na superioridade, mas que em mim existe o brado de um soldado ferido em guerra, lutando por sobreviver.

Existe em suas palavras potencia suficiente para me tirar da estagnação existencial. Por suas palavras ponho-me de volta a trilhar meu caminho. Infelizmente- como muitas vezes percebo em seus olhos – meu destino é ser assim: conflitante a você, conflitante a muitos. O que posso mais dizer? É minha essência. É o que me faz póstumo. Como diria o querido Hermann Hesse: “Não é agradável a minha história, não é suave e harmoniosa como as histórias inventadas; sabe a insensatez e a confusão, a loucura e o sonho, como a vida de todos os homens que já não querem mais mentir a si mesmos”. Não sei por que fui escolhido para isso, mas sei que devo sentir a aspereza da solidão ao dar o passo que me desliga dos meus pais e dos meus mestres, embora às vezes creia que não vou suportar.

Pode parecer egoísmo – como muitas vezes disseste – mas existem alguns que aspiram a si mesmos, antes de procurar entender tudo o mais. Talvez tenha que buscar e rebuscar o caminho durante anos a fio e ainda assim não poder chegar a nada, nem alcançar qualquer objetivo. O que quero apenas tentar viver o que brota espontaneamente de mim. Por que me é tão difícil?

É difícil para eu nascer: tenho que lutar para sair da casca do ovo. E para ainda assim, nascer póstumo. Para assim viver com padrões que roubam minha singularidade, minha paixão, minha beleza. E em meio a tudo isso, luto constantemente para ser menos radical. Contudo, não consigo: não posso viver mais o paraíso perdido de minha infância. Luto para ser adulto e ver a vida mais do que pessoas andando, correndo, se alimentando, procriando. Sei que existe algo mais que viver: existe o existir. Como ser maduro, se não romper com a infância? Não é egoísmo, é luta pela existência; luta para encontrar meu próprio caminho.

Ao longo do percurso, não é raro me sentir sozinho – mesmo que a ti isso não fale. Bem que eu queria te ter do meu lado, mas, meu amor, choro por ter de dizer que você não pode trilhar esse caminho comigo. Você não pode responder minhas perguntas, você não pode lutar contra meus demônios. Você tem a luta consigo mesmo, e a ti mesmo se basta. Não é misantropia, mas é saber que os demais também necessitam encontrar seus caminhos por si mesmos. Talvez minhas idéias você ainda não consiga compreendê-las, mas não significam desprezo por você, pelas pessoas e pelos relacionamentos, mas sim a falta de ter a mim mesmo.

Anos vivi em função dos outros, de seus sonhos, de seus desejos, de seus planos, de suas tarefas, e o que encontrei além de frustração?! Seria errado dizer que agora quero a mim mesmo? Que agora quero ser eu? Sim, pode parecer egoísmo e misantropia, mas não passa da tentativa de reconquistar meu amor próprio... eu que muito chorei por frustrar quem mais amava. Portanto, com os olhos margeados por lágrimas, digo que não quero frustrar mais um amor, mas se isso for inevitável, perdoe-me: eu apenas quero ser aquele por quem um dia você se apaixonou...

Do nascer Póstumo

Niterói, 20 de agosto de 2010



Nietzsche em todo seu caminho na filosofia afirmou que nascera póstumo. Toda a sua filosofia, fruto de uma mente brilhante, consistem em algo totalmente subversivo; numa crítica ferrenha à metafísica, à religião, e à ciência. Seus escritos, por serem tão conflitantes aos outros, não deram-lhe popularidade, e sua filosofia foi posta de lado por toda academia filosófica. Por isso, afirmara: “Há homens que já nascem póstumos”. Póstumo porque acreditava que seus escritos eram para o porvir, para as pessoas futuras – que entenderiam seus textos. Nietzsche estava totalmente certo...

Não obstante Nietzsche, hoje começo a perceber que os grandes pensadores, não só na filosofia, mas em todos os saberes, nasceram póstumos. Aos montes são os poetas que só depois de sua morte é que tiveram seus versos lidos e estudados; igualmente os cientistas que foram ao escárnio com suas teorias, e que só muitos anos depois elas foram confirmadas e aceitas; além de outros filósofos que como Nietzsche, também foram ridicularizados e hoje são referência.

Interessante é que nós, pensadores em formação, quando olhamos para dentro de nós mesmos e enxergamos toda nossa complexidade, toda subversão, todas as idéias não convencionais, somos tomados por desespero. Afinal, sabemos – como se fosse uma intuição – que a maioria dos que nos lêem, ouvem ou nos conhecem não entendem o que dizemos. Assim, o que nos é particular, brilhante, desejável e único, se torna uma maldição. E dessa maldição sai veneno: veneno que sentimos na boca, veneno que afasta as pessoas, veneno que nos põe a chorar.

Nietzsche é apenas uma personificação de um grupo de muito que também se consideram póstumos. O que era duma dádiva e se tornou em maldição nos torna póstumos. Muito pensadores morrem em descrédito, sozinhos, em desonra e vergonha. Nietzsche morreu em 1900, solitário; mas não solitário de familiares, porém, solitário de pessoas que o compreendessem. Eu nasci póstumo, qual meu futuro?

Do recente

Niterói, 20 de agosto de 2010


O que acontece é que geralmente algo de recente chama-nos mais atenção do que algo que já se encontra um pouco no passado. Eis assim o homem. Este, a todo o momento se relaciona, seja com alguém, com algo, ou consigo mesmo. E nesse relacionar humano, o recente impressiona mais do que o passado.

Observe: lançada uma nova tecnologia, a anterior se torna obsoleta – a exemplo, o DVD que substituiu o VHS; estreando um novo remake de um filme, poucos ainda preferirão a versão antiga; acontecendo uma tragédia, a que veio antes dela é esquecida – com exceção dos familiares e amigos de alguém que morre na tragédia anterior; um novo amigo, pode acabar substituindo o antigo, afinal, são novas histórias, novos gestos, novas risadas, novos programas, novos pontos de vista.

Ou seja, o mundo é Heraclídico. Tudo está em constante transformação. Uma transformação sucede a outra, criando uma espécie de ciclo. E enquanto vivemos essas transformações, o presente, o novo, sempre chama mais atenção do que esse antigo, que ainda não desapareceu, mas está lá de forma tímida.

Bem, há quem diga que “passado, só museu”! Eu gosto de museus, gosto do antigo, gosto da mente dos antigos, gosto dos costumes dos antigos. Prefiro uma carta a um email; uma conversa pessoal a um telefonema; um baile a uma boate; uma guerra de espadas a uma guerra de tiro; os valores dos antigos aos valores da high tecnologia.

O recente sempre chama mais atenção do que o antigo, mas parece que sou oposto. Como se tivesse nasci em época errada...

Cachoeiro de Itapemirim, 05 de agosto de 2010

(A caravela - Salvador Dalí)

Já havia comentado na postagem antiga – “O ser humano como Ser complexo” – da complexidade que é o homem. Como ser racional, dotado de sensações, emoções, vontades, desejos e todas as demais instâncias existentes dentro de si, não existe respostas simples que possam defini-lo por completo. Existem pormenores a serem discutidos e para se chegar a um mínimo de concordância na resposta para a pergunta: “Quem é o homem?”.

Fácil de observar é o fato de que uma simplicidade na resposta a questão mais problemática do ser humano, poupa um contínuo “bate-cabeça”. A simplicidade no pensar nos reserva tempo para aproveitarmos todo o resto do universo de assuntos sobre o homem. Simplicidade livra-nos do incômodo que é quebrar padrões, conceitos, sistemas. Simplicidade garante uma vida mais despreocupada.

Contudo, simplicidade não dá conta do ser humano. Simplicidade não responde questões essenciais. Simplicidade não implica avanço intelectual, afinal, qualquer teoria, máquina ou pensamento criado implicou na elaboração de uma complexidade. Simplicidade não possibilita a formulação de uma visão ampla do homem e do que o cerca. A simplicidade apenas restringe.

Há quem diga, e com total razão, que com a complexidade advém a crise existencial, a subversividade, a dor, a solidão. E também há aqueles que afirmam serem mais felizes indivíduos ignorantes. Sim, haveria felicidade vivendo assim, mas ainda viveríamos na idade das cavernas, e nem mesmo o fogo teríamos descoberto. Há quem prefere a simplicidade... Eu, gosto da complexidade!

Da mesquinharia

Cachoeiro de Itapemirim, 05 de agosto de 2010


Impressionante o fato dos seres humanos serem tão mesquinhos! O mundo que nos cerca é suficiente para nos fazer esquecer que a matéria nada mais é do que materialidade. Não pense que a partir de agora afirmarei uma doutrina platônica, onde o real sentido da existência se encontre num mundo metafísico. Pelo contrário, o sentido de tudo se encontra neste mundo, e restrito a ele. No entanto, esse sentido não se está nos objetos, mas no próprio Homem. Por isso, volto a afirmar que no presente estado da história mundial, o homem se tornou mesquinho!

Em vez de o ser humano ser a medida de todas as coisas, e por isso detentor de todos os sentidos de existência, transferiram para os objetos inanimados a medida de todas as coisas. A moral é moral do mais rico. A ética é a ética do orgulho do sucesso financeiro. O homem serve ao que é externo a si, em vez do externo servir a si mesmo. Esqueceram que um objeto é um simples objeto, e que a importância que ele possui, nós é quem o conferimos. Esqueceram que carro é meio de transporte, e que dinheiro é simplesmente um papel. Não há problemas com padrões de sucesso financeiro, ou com o uso que fazemos dos objetos, mas existem problemas quando se esquece de que esses padrões o ser humano é quem os cria. Parece que tudo a volta deixou de ser tais como são, para tornarem algo superior.

Como conseqüência, o próprio homem é banalizado. Sai do centro de formação dos conceitos para se tornar produto desses conceitos. O ser mais fantástico de toda natureza perde lugar para suas próprias criações. Esquece quem é a causa e quem é a consequência. Tornamo-nos mesquinhos: não somos seres humanos, somos o que temos enquanto seres humanos.

De Franz Kafka

Cachoeiro de Itapemirim, 03 de agosto de 2010



"Na época isso foi só um pequeno começo, mas esse sentimento de nulidade que frequentemente me domina (aliás, visto de outro ângulo, um sentimento nobre e fecundo) deriva, por caminhos complexos, da sua influência. Eu teria precisado de um pouco de estímulo, de um pouco de amabilidade, de um pouco de abertura para meu caminho, mas ao invés disso você o obstruiu, certamente com a boa intenção de que eu devia seguir outro. Mas para isso eu não tinha condições. Você me estimulava, por exemplo, quando eu batia continência e marchava direito, no entanto eu não era um futuro soldado; ou me estimulava quando eu comia vigorosamente e além disso conseguia beber cerveja (...) nada disso, entretanto, fazia parte do meu futuro. E é significativo que até hoje você só me encoraje de fato naquilo que o afeta pessoalmente, quando se trata do seu amor-próprio, que eu firo (...) ou que é ferido em mim.". (Franz Kafka- Carta ao Pai)

Enquanto ouço Franz Kafka colocando sua alma no papel, sinto que não é ele, mas sim eu que escrevo. Sinto sua dor; sua solidão me toca; sua indignação me revolta; seu choro eu ouço; sua letra me comove. Não consigo passar despercebido por seu lamento, e seu clamor retumba em meus ouvidos. Minha história confluí com a desse poeta. E para aqueles que seu caminho confluí igualmente, resta fazer das palavras de Kafka as suas.

Da transcendência

Cachoeiro de Itapemirim, 02 de agosto de 2010


Existe, sim, a possibilidade de transcender! Ela se dá quando a realidade é triste; quando viver é enfadonho; quando pensar enche-nos de pesar; quando os olhos já não enxergam as cores do dia; quando o pé se arrasta sem saber para onde ir; quando o coração está vazio.

Transcender. Tornar-nos um com tudo! Olhar para o céu e sentir-se elevado até os cimos. Observar as nuvens e sentir-se dentro de seus espaços brancos acinzentados. Olhar para as montanhas e desejar ardentemente estar entre suas altas árvores. Sentir o Sol namorar a pele, dando beijos calorosos; sentir que seus beijos são uma despedida. Ver a noite chegando, trazendo a mãe Lua e suas filhas, as estrelas. Acenar para os belos pássaros que em vôo sublime se retiram para o conforto de seus ninhos. Sentir o ar entrando nos pulmões, trazendo vigor. Se calar diante da magnitude da natureza. Se unir a tudo, trazendo paz ao coração.

Transcender. E sentir toda sobra dissipar. Transcender. E voltar a sorrir. Transcender. E não se sentir mais sozinho. Transcender. E ser um com todos. Transcender. E encontrar a resposta escondida dentro de si. Transcender. E tornar-se um com o divino. Transcender. E extasiar-se com o nascer do rei Sol. Transcender. E chorar pela beleza sibilante do balé da noite e de suas estrelas. Transcender. E estar pronto para morrer.

Transcendi. Os deuses não me impõem mias medo. Transcendi. O homem não mais me entristece. Transcendi. Encontrei as respostas. Transcendi. Voltei a ser eu. Transcendi. Voltei a amar. Transcendi. Morri. Transcendi. Renasci. Transcendi. Sou um com tudo!

Da lamentação

Cachoeiro de Itapemirim, 02 de agosto de 2010


Encontro-me decepcionado. Frustrado até o mínimo indivisível do meu ser. Sinto vontade de chorar por meus erros e rir de minha lamúria. Pois, pensava estar próximo do ideal de existência, estando na verdade no máximo da presunção de considerar-me no caminho certo. Gabava-me por ter eloqüência e capacidade de convencimento; alegrava-me por ser tomado em alta conta intelectual por alguns amigos. Eis que havia esquecido como é o caminho por onde trilho: esqueci-me do eu que nele adentrou.

No pouco que me distraí com o externo a mim, pago agora uma dura pena. Desviei-me do caminho que me direcionava a plena existência, para ater-me no caminho da medíocre vivência. Deixei de questionar-me para ter-me em alto conceito; considerei-me um ser adulto, quando não passava de uma criança. Comecei a procurar respostas no que está fora de mim, em vez de buscar a mim mesmo. Debati questões aporéticas e irrelevantes para a existência. Tomei-me como missionário contra o avanço da ignorância, ignorando a ignorância existencial dentro de mim.

Muito questionei, tentando mostrar ao outro que seus conceitos não passam de equívocos e alegorias, esquecendo-me de que cada um deve perceber em si mesmo a ignorância. Lutei contra o mostro da precipitação intelectual, mas durante a batalha, tornei-me nele. Não tive cuidado e assim me transformei no ser que eu mais odiava. Tornei-me pretensioso, esquecendo-me de que quanto mais se conhece, mais se conhece que não conhece. Em vez de me trancar num silêncio intelectual e existencial, passei a tagarelar certezas de que nem mesmo as tinha. Propaguei visões de um mundo idealizado por mim, mas não vivido por mim.

No auge de minha prepotência, tombei e dolorosa foi a queda. Li que o homem deve buscar a si mesmo: busca que a muito deixei de empreender. Não me sentia mais sozinho: diagnóstico que provava que estava fora do caminho. A busca pelas respostas que não se sabe se devem existir, se trilha em completa solidão, mas disso também me esqueci. “Aquele que verdadeiramente só quer seu destino já não tem semelhantes e se ergue solitário sobre a terra, tendo ao seu lado os gélidos espaços infinitos”. Tomei modelos, ideais, amores e consolos: esqueci-me que nesse caminho apenas o vazio me acompanha. “Aquele que só quer seu destino já não tem modelos nem ideais, amores nem consolos”. Tive medo da solidão, e ainda tenho, por isso, acovardo-me e deixo de trilhar o caminho da existência humana.

Percebo tudo isso e me encerro em profunda decepção. Refaço minhas malas, bato a poeira do antigo caminho, despeço-me de todos e tento voltar ao caminho do vazio, do eterno retorno.

"Para o homem consciente só havia um dever: procurar-se a si mesmo, afirmar-se a si mesmo e seguir sempre adiante o seu próprio caminho, sem se preocupar com o fim a que possa conduzi-lo (...) O verdadeiro ofício de cada um era apenas chegar até a si mesmo (...) Aquele que verdadeiramente só quer seu destino já não tem semelhantes e se ergue solitário sobre a terra, tendo a seu lado os gélidos espaços infinitos (...) Aquele que só quer seu destino já não tem modelos nem ideais, amores nem consolos (...) Também não deve querer ser revolucionário, exemplo ou mártir (...) Só podemos aspirar a nós mesmos, a nosso próprio destino." (Demian – Hermann Hesse)

De uma questão filosófica

Cachoeiro de Itapemirim, 02 de agosto de 2010


Muitos se encontram decepcionados com o discurso religioso! Vindo de um meio religioso, com família religiosa, amigos religiosos e sociedade religiosa, posso dizer que não foi uma única vez que ouvi alguém dizer que determinada pessoa deixou de comungar de uma religião para vir a ser de outra religião, ou num caso extremo, deixou de ser religioso para se tornar ateu.

Eu me pegava questionando a possibilidade de alguém que era cristão, este alguém que possuía um relacionamento com o Deus cristão, que vivenciou várias experiências com esse Deus, se tornar ateu ou mudar de religião. Tal possibilidade era inexistente em minha mente. No entanto, como as estatísticas não mentiam para mim, procurei um consolo no livro “Alma Sobrevivente – sou cristão apesar da igreja” de Philip Yancey, para tentar entender como tal mudança de pensamento se processa. Tal leitura não me proporcionou nenhuma resposta, mas me instigou a continuar na busca pelas respostas.

Ao que fui a fundo nessa questão, percebi que a maior parte das pessoas que migram do cristianismo para outra religião ou para o ateísmo – caso de Yancey, antes de voltar pro cristianismo –, assim o fazem por uma decepção que tiveram. Estes que se puseram a ver, enxergaram com muito desgosto a hipocrisia dos líderes cristãos, e por isso se decepcionaram. O famoso “faça o que digo, mas não faça o que faço”, a manipulação de conhecimento e psicológica, o dinheiro rolando por debaixo dos panos, o sexo com a secretária, enfim, todos os males condenados e praticados simultaneamente pelos líderes e fiéis, constituem a principal causa de decepção das pessoas para com o cristianismo.

No entanto, existe uma pequena parcela, a qual me encaixo. A parcela dos decepcionados por uma questão filosófica. Nesse grupo a decepção por conta das atitudes dos religiosos não constitui causa para uma mudança de credo; a causa é o conhecimento. Não foram poucos que me alertaram para fato de o conhecimento poder trazer uma espécie de “afastamento de Deus”. Afirmavam que se ater a letra causa esfriamento espiritual, o que seria desastroso, causa me seduzisse. Se foram videntes ou não, a realidade é que mudei minha forma de pensar ao estudar mais a fundo aquilo que me era dito.

Os estudos da teologia somados ao estudo filosófico permitiram-me enxergar as contradições daquilo que desde criança me ensinavam, tal como a medicina desmitifica ao universitário que manga e leite, consumidos simultaneamente, não ocasiona morte. Ao que observei que aquilo que aprendi a acreditar não se passava de uma forma de ver num universo de milhões, não tive medo de largar as antigas crenças. Ao que passei a entender que essa máquina cognitiva humana é incapaz de processar a metafísica por conta da limitação dos sentidos, como afirmara Kant, deixei de ser cristão para me tornar agnóstico. Sair da ignorância me legou essa conseqüência. Assim como um médico nunca mais vê o corpo humano da mesma forma, depois da filosofia e teologia parei de enxergar deus na forma como o vêem nas igrejas.

Contrário do que pensam, abandonei a religião não porque esta entra em conflito com minha orientação sexual, ou porque foram “intransigentes” comigo. A minha mudança foi radical, firme, profunda e racional. O estudo da sabedoria – a filosofia – e o estudo de deus – ou daquilo que pensam ser deus (teologia) – formaram minha nova cosmovisão. E uma vez que ”a mente que se abre a uma nova idéia, jamais voltará ao seu tamanho original" (Albert Einstein).

Da polêmica televisiva IV

Cachoeiro de Itapemirim, 02 de agosto de 2010


Para terminar, minha consideração a cerca das afirmações das igrejas ditas “ normais”.

A primeira baboseira foi dita pelo pastor assembleiano, que em suas palavras afirmar ser a homoafetividade um comportamento. Ele afirma ser uma opção. Ora, se a homossexualidade é opção, a heterossexualidade também é, obrigatoriamente, já que todos esses termos se refere a sexualidade humana. Contudo, o mais impressionante foi que esse ser humano afirmou e enfatizou categoricamente que a ciência já COMPROVOU que o homossexual não nasce homossexual. Para contradizê-lo, abaixo segue alguns dados científicos:

1- “No ramo da ciência da genética vários estudos têm sido realizados no sentido de investigar origens hereditárias para a homossexualidade. Um dos estudos mais conhecidos nesse sentido tenta estabelecer uma correlação entre a homossexualidade masculina com o gene Xq28. É efetivamente uma tese que coloca a homossexualidade não como uma opção ou estilo de vida, mas sim como resultado de uma variação genética. (Hamer DH, Hu S, Magnuson VL, Hu N, Pattatucci AM (jul 1993). "A linkage between DNA markers on the X chromosome and male sexual orientation." 261 (5119): 321-7. Science. PMID 833289)



2- “A tese de que a homossexualidade pode ter origens genéticas tem sido usada bem como recusada tanto por aqueles que consideram a homossexualidade como algo negativo como os que consideram algo a defender. (Drauzio Varella (2004). Causas da Homossexualidade)

3- “Estimamos que a contribuição dos genes para a orientação sexual seja na casa dos 40%. Então as contribuições de outros fatores, sejam eles biológicos ou sociais, podem ser igualmente importantes." (Alan Sanders à revista Galileu)

4- Não há estudos empíricos ou pesquisas que suportem teorias que atribuem a orientação sexual a disfunção familiar ou traumas (Bell et al., 1981; Bene, 1965; Freund & Blanchard, 1983; Freund & Pinkava, 1961; Hooker , 1969; McCord et al., 1962; Peters & DK Cantrell, 1991 Siegelman;, 1974, 1981; Townes et al., 1976)

Além desses dados, há estudos que comprovam a existência de homossexualidade no reino animal, o que contraria a tese dos religiosos de que homoafetividade não seria natural:

1- O comportamento sexual dos animais assume muitas formas diferentes, mesmo dentro da mesma espécie. As motivações e implicações para estes comportamentos têm ainda de ser totalmente compreendidas, uma vez que a maioria das espécies ainda não foram totalmente estudadas. (Gordon, Dr Dennis (10 April 2007). ‘Catalogue of Life’ reaches one million species. National Institute of Water and Atmospheric Research)

2- Um estudo publicado pelo periódico "Trends in Ecology and Evolution" concluiu a importância do comportamento homossexual para a evolução de muitas espécies animais, como entre as fêmeas do albatroz-de-laysan (Phoebastria immutabilis), do Havaí, que se unem a outras fêmeas para criar os filhotes, especialmente na escassez de machos, tendo mais sucesso que as fêmeas solteiras. O estudo conclui que a homossexualidade ajudou as espécies de diferentes maneiras ao longo da evolução. (Homosexual behaviour widespread in animals according to new study. The Daily Telegraph)

Portanto, pode ser que esse pastor pouco estudou de ciência antes de ir ao superpop, ou andou lendo muitos artigos de pastores que tentam ser cientistas ou de cientistas que tentam se passar por pastores.

Outro ponto diz respeito a disposição na mudança de homossexual para heterossexual. Antes de falar sobre isso, deve-se perguntar sobre a origem dessa vontade de mudança. Estatísticas mostram que o motivo de tal disposição tem como causa todo um fator social (sociedade ainda heternomista), fator familiar (família que não aceita a sexualidade de um filho), fator religioso (proibições nos livros ditos sagrados) e fator emocional (a soma do todo o resto). Portanto, se agressões verbais e físicas, exclusão de círculos sociais, perda de dignidade, perda de amigos, medo de decepcionar a família, poucos direitos civis, ameaças de inferno, sentenças de pecado e tantas outras barbáries fazem parte da realidade do povo LGBT, não é de se surpreender que estes querem se tornar héteros. A realidade é que muitos LGBT’s por não suportarem esses “ contras” procuram mudar sua orientação sexual, porém, como NÃO HÁ possibilidade, eles se abstêm de sua sexualidade para viver uma pseudo-heterossexualidade, assumindo assim o caminho mais cômodo.

E por fim, a questão da Heterofobia. Muitos têm medo do movimento LGBT que vem conseguindo espaço cada vez maior. Com a política de inclusão cada vez maior na mídia com filmes, novelas, personagens de temática lgbt, a sociedade começa a entender que não existe ameaça da parte dos gays/lesbicas/bi. A sociedade não deixará de existir porque gays terão filhos e esses filhos conviverão com os filhos dos héteros. Sexualidade não é contagioso!!! Cada vez mais as pessoas se conscientizam que ser gay é ser ser humano também; é ter dignidade. A sociedade vive um momento histórico, e eu viverei para ver essa sociedade isônoma, convivendo com as diferenças. Contundo, os religiosos vêem esse momento como escatológico: o fim dos tempos. Todas essas características são prenúncios de um fim que já foi dito a milhares de anos atrás. Por isso, se sentem ameaçados – ainda mais que os cristãos têm uma mania de perseguição. Nesses momentos, estes invocam a democracia e dizem de seus direitos de propagar seus dogmas. No entanto, assim como racismo é crime, homofobia também será, e sendo assim, é melhor propagarem seus dogmas com muito cuidado.

Depois de exaustiva série de postagens, termino-as aqui. Ao bom leitor: Pense com Autonomia.

Da polêmica televisiva III

Cachoeiro de Itapemirim, 02 de agosto de 2010


Este foi então o picadeiro do Superpop. Ambos os lados discutiram e colocaram suas opiniões, para assim terminarem em aporia, ou seja, não chegando a nenhuma conclusão ou acordo. Sendo assim, como prometido, esse post é o meu parecer sobre essas questões levantadas pelos inclusivos.

Em primeiro lugar, admiro muito a iniciativa da ICC de trabalhar com o público LGBT. Levar amor, aceitação, carinho às pessoas mais que machucadas emocionalmente é um ato louvável; ato este que devolve a dignidade às pessoas. No entanto, como a maioria das instituições religiosas, a ICC não deixa de ser um lugar de alienação de fiéis. Eles realizam uma leitura confessional da bíblia que quase todo o resto da cristandade considera absurdo. Porém, não só ela, mas quase todas as igrejas lêem a bíblia segundo sua própria ótica, a ótica que convém: seja ela da libertação, da prosperidade, do livre arbítrio, da predestinação, da inclusão e etc. Sendo assim, o estudo sistemático da bíblia é comprometido pela confessionalidade, que aliena as pessoas. Além disso, a ICC possui suas doutrinas, dogmas e “pode-não-pode”, que me dá ânsia de vômito.

Com relação ao “nascer gay”, posso dizer - por experiência – que desde muito cedo o indivíduo se percebe gay. Por conta de nossa memória consciente só conseguir se remontar aos 4 anos de idade, não posso afirmar se alguém nasce gay com total certeza, porém, existem estudos que dizem existir grande probabilidade de uma pessoa já nascer com sua sexualidade definida. Contudo, tratarei disso na próxima postagem.

Existe sim homofobia na igreja. O discurso – falacioso? – é que todos podem estar na igreja, que a igreja, como corpo de cristo, a todos quer abraçar. No entanto, isso não é realidade, já que quando um gay assumido entra na congregação, ele é bombardeado de olhares inquisitivos, ou o que é pior, com olhares de pena – como se essa pessoa não fosse um ser humano. Por mais que digam, não existe lugar para um gay numa igreja “normal”. Muitos irão falar que existe sim, lugar para gays, mas gays que querem mudar. Contudo, a questão é que estes muitos que confusamente querem mudar, dentro da igreja são tratados como doentes. O que não posso deixar de observar é que cada igreja possui seus dogmas e suas crenças, e só deve ficar nela quem quiser se submeter a esse jugo.

Ao bom observador, não é surpresa que a igreja nunca pregou liberdade. Ela sim, pregou liberdade no sentido platônico – liberdade num mundo metafísico –, mas nunca no âmbito terreno, á exceção da corrente da libertação. Além disso, ela é difusora da intolerância religiosa e da homofobia, mesmo que isso esteja mascarado pela assertiva de que isso é bíblico.

Seja a ICC ou as igrejas normais, a realidade religiosa não muda, pois no fundo, é tudo farinha do mesmo saco. Eu, em nenhuma vou...

Da polêmica televisiva II

Niterói, 14 de Julho de 2010

Nesse lado da força – a saber: maioria religiosa “normal” –, as questões foram também muito bem colocadas; eloquentemente respondidas.

Os argumentos construídos e esboçados durante o debate – que mais parecia um embate – levantaram perguntas muito complicadas de ser respondidas em pouco tempo – que era exigido pelo programa –, e algumas delas deveriam ser debatidos num simpósio científico , não num programa humorístico, quer dizer, televisivo.

Com um discurso propriamente cristão, os pastores da Renascer e da Assembléia responderam a polêmica lançada pelos pastores inclusivos. Num primeiro momento, o pastor assembleiano inicia sua cruzada afirmando ser a Homoafetividade um comportamento. Ser gay, lésbica e afins seria uma espécie de escolha que a pessoa faz do tipo: “hoje quero ser mais extrovertido, e amanhã introvertido”; do tipo “hoje quer ser gay, amanhã já terei enjoado por isso quero ser hétero”. Para basear sua afirmação esse desvairado, quer dizer, esse pastor afirma – invocando os grandes cientistas fantasmas – que a ciência já COMPROVOU que a pessoa não nasce homossexual; que isso não está em nenhum gene.

Em momento posterior o debate girou em torno da “disposição”. A pessoa que possui disposição para mudar, muda. O gay, a lésbica que quer ajuda e se esforça “fazendo sua parte”, sim, pode deixar de ser homossexual. E nesse caso, os homossexuais que chegam até estes pastores “normais” querendo ajuda, eles afirmam que essa pessoa pode mudar. E se não mudam totalmente, Deus que é Deus da promessa – promessa homofóbica – há de fazer o impossível por esse indivíduo.

Uma terceira questão diz respeito ao Amor. Essa foi uma resposta aos inclusivos, que afirmaram que a igreja “normal” exclui, coloca em quarentena, trata como doentes aqueles que se confessam gays. Segundo os “normais”, Deus ama o pecador, não o pecado, e que se em Gênesis está Adão e Eva, não Adão e Ivo, é porque Ele quis que assim fosse eternamente – sedutor não?! Para corroborar o argumento, se utilizaram de Levítico e Romanos para demonstrar as abominações da homoafetividade. Terminam esse momento afirmando que se os filhos deles fossem gays – que foi a pergunta da Luciana Gimenez – eles matariam os filhos, ops, brincadeira leitor, eles falaram que continuariam a amar o filho, porém nunca iriam aceitar a situação. Se bem que o papo do matar, por experiência, digo que eles pensariam sim...

E um último ponto polêmico exposto foi a questão da Heterofobia, como cunhou o deputado federal Eduardo Cunha – recém saído do hospício. Segundo essa vertente os gays poderiam falar contra os héteros – leia-se: cristãos héteros, porque falar dos demais héteros não possui nenhum problema – e de seus pontos de vista, porém, estes não poderiam falar mal dos gays. Em outras palavras, seria a famosa “Mordaça Gay”, termo cunhado pelo pastor Silas Malafaia, companheiro de quarto de Eduardo Cunha que também saiu do hospício a pouco. E para causar impacto com esse pensamento, os pastores “normais” invocaram os deuses da Democracia, lembrando a todos que sendo o Estado Laico, eles possuem todo o direito de propagarem seus dogmas.

No mais, essas foram às questões polêmicas levantadas pelos “normais”. Creio que o bom leitor também achará que essas questões possuem mais asneiras do que algo inteligente. Mas hão de me perdoar, pois foi o melhor que consegui retirar do debate.

Fica, portanto, a minha última postagem sobre esse assunto. Nele colocarei a síntese disso tudo que vi, ouvi e percebi. Que não se esqueçam que não faço nenhuma referência pessoal aqui a quem lê, contudo, se a face arder, o bom é comprar o quanto antes “óleo de peroba” no mercado mais próximo.

Da polêmica televisiva I

Niterói, 13 de Julho de 2010


Eu não costumo assistir Superpop, afinal, não passa de debates que geralmente servem de Pão e Circo aos telespectadores. Numa realidade em que os programas televisivos “abertos” – que não são pagos – não possuem nenhum teor de formação crítica, humana, reflexiva, heurística, não é de se espantar que um programa como o Superpop também seja assim. A culpa está nos telespectadores que não se interessam nesse tipo de formação, e que por isso a TV brasileira se encontra nesse estado deplorável. Contudo, o debate exibido no dia 28 de junho no Superpop, chamou minha atenção.

Havia dois pólos em cena. De um lado, os pastores Marcos Gladstone e Fábio Inácio da Igreja Inclusiva Cristã Contemporânea, do outro, pastor Otoni de Paula da Assembléia de Deus missão vida e um pastor da Igreja Renascer em Cristo de Osasco. Além disso, estavam presentes Gretchen e Emanuel de Albertin (intérprete da música Adão e Ivo). Depois de apresentados os bobos da corte, quer dizer, estes convidados, iniciaram o debate: Homossexualidade e Bíblia.

O assunto é longo e polêmico, portanto, tratarei dele em três postagens, para que não se torne massante a quem lê. Nessa primeira postagem a minha intenção é esboçar o “parecer” da Igreja Contemporânea.

A Igreja Cristã Contemporânea é uma instituição voltada para o público LGBT: entenda-se “voltada” para os LGBT`s, porém não exclusiva deles. Voltado para esse público que é açoitado com as doutrinas bíblicas da grande maioria das igrejas ditas “normais” – “salvas”, “eleitas” ou qualquer outro tipo de epíteto – esta igreja possui outro tipo de pregação, outra gnosiologia (forma de pensamento).

Nos púlpitos é pregado o Amor de Deus que a todas ama tais como eles são, não existindo a “ladainha”de que Ele ama como são, mas não aceita como estão – como se homossexualidade fosse um estado de espírito. Apregoam que pela Graça de Deus, são o que são. Como diria o Rev. Troy Perry – primeiro pastor inclusivo do globo: O Senhor é o meu pastor e Ele sabe que eu sou Gay. A homossexualidade é vista por essa igreja não como pecado, mas como benção, sendo que Deus os criou assim tais como são. Tendo Deus os criado assim, como a homossexualidade seria pecado? Por acaso pode Deus criar algo imperfeito? Os conceitos bíblicos “anti-gay” eles fazem uma releitura hermenêutica e discursam em cima dela. Para o interessado nessas doutrinas, procure no Oráculo – vulgarmente conhecido com Google - sobre a ICC.

No programa da Luciana Gimenez, os pastores inclusivos levantam algumas questões, como essas que disse anteriormente. Outra questão polêmica seria quanto ao “nascer-gay”. Eles e a grande maioria dos LGBT`s acreditam que o gay nasce gay, e que desde a tenra infância apresentam comportamentos e pensamentos de tais. À exemplo, Gretchen – atual membro da Igreja Renascer em Cristo – disse que sua filha Tammy desde os 4 anos de idade apresentava característica de um rapaz como “mijar” em pé, gosto por cabelo curto, ao ponto de que quando sua mãe obrigava-a a deixar o cabelo crescer, a garotinha esperneava; segundo Gretchen, sua filha só se sentia bem quando se vestia de menino. Outra polêmica diz respeito à exclusão que as igrejas “normais”, ao terem conhecimento de que um membro é gay ou lésbica, vetam todo o tipo de participação desse membro na equipe de louvor, de pregação, de oração, ficando praticamente em quarentena, até que sua doença – quase uma epidemia – seja curada. Uma terceira polêmica consistiu na forma como os líderes “normais” se utilizam da Bíblia, numa leitura literalista, para propagarem a Homofobia, a intolerância religiosa e a segregação; em resumo, a bíblia seria uma espécie de poder manipulador.

Essas foram, a meu ver, as questões mais relevantes que pude perceber durante o papo-furado, e que segundo o meu parecer, merecem um pouco de atenção. Passo agora para a próxima postagem que tem relação com a visão dos “normais”.

Das verdades metafóricas

Niterói, 27 de Junho de 2010


Dos pensadores que existiram um parecer ser mais difícil de “engolir”: Friedrich Nietzsche. À menor menção de seu nome muito já ficam sobressaltados e de pelos ouriçados. Sua existência foi conturbada, suas palavras massacrantes. Onde quer que seu discurso seja dirigido, lá produz uma grande chacina. Nietzsche não pode ser endemonizado nem muito menos divinizado, afinal, nos seres metafísicos ele não acreditava. Contudo, o que quero aqui é desafiar os presentes companheiros, atirando flechas envenenadas de pura crítica. Quem haverá de superar?

Existe, pois, entre nós uma pretensa vontade de encontrar o que é absoluto. Se não é encontrar, então poderíamos dizer divagar sobre tal verdade. Existe uma necessidade de adequar alguns conceitos que formularam, ou formulamos, nisto que chamamos de realidade. Nós seres racionais, que não possuímos garras nem presas, criamos o intelecto ao que Nietzsche diria: “o intelecto, como um meio para conservação do indivíduo”. Mas surge daí um impasse: uma vez criado o intelecto, como haveríamos de passá-lo adiante. Ora, forma-se aí a linguagem. Essa necessidade de um “tratado de paz” entre os homens, que nos impulsiona à formulação de uma verdade, será expressa em linguagem. Tal linguagem tende a ser metafórica, uma vez que não expressa a verdade, já que essa foi criada por um impulso de sobrevivência. Esses disfarces criados por nós, artesãos por excelência, com o passar do tempo deixam de ser considerados como tais, que segundo o pensador: “somente por esquecimento pode o homem alguma vez chegar a supor que possui uma ‘verdade’".

Uma vez esquecido, essas metáforas tendem a se canonizar com o passar dos séculos. No entanto, como poderemos deixar de nós perguntarmos o que é a verdade? Nietzsche responde: “Um batalhão móvel de metáforas, metonímias, antropomorfismos, enfim, uma soma de relações humanas, que foram enfatizadas poética e retoricamente, transpostas, enfeitadas, e que, após longo uso, parecem a um povo sólidas, canônicas e obrigatórias: verdades são ilusões, das quais se esqueceu que o são, metáforas que se tornaram gastas e sem fora sensível, moedas que perderam sua efígie e agora só entram em consideração como metal, não mais como moedas”. ("Sobre verdade e mentira no sentido extra-moral", Coleção Os pensadores)

Confesso, querido leitor, que me encontro em mais lençóis com esse homem. O que poderão suscitar em meu auxílio neste momento em que a verdade morreu?!

Do escrever filosofia

Niterói, 23 de Junho de 2010


Prisão! Escrever é encarcerar pensamentos para que, uma vez presos, possam ser decifrados. Num cérebro em turbilhão, milhares de pensamentos voam em dança desordenada; em caos criador.

Escrever filosofia é captar instantes sublimes, encarcerando-os nas celas de eternidade. A beleza brutal do cárcere aqui se encontra: possuir eternamente uma epifania que em segundos já desvaneceu! Num momento de impulso criador, a pena do escritor corre de um lado a outro do papel, em êxtase frenético, no intuito de dar forma à imagem do frenesi. Seus contornos eternizados então em tinta, dos quais nunca mais esquecemos. O eterno gravado em nós.

De tal tarefa, nós os filósofos, somos consumidos! As forças exauridas pelo construir da eternidade. Ficamos como mortos-vivos: cabeça tombada sobre a mesa, coração em perpétua satisfação. Os instantes captados queimam nossas mãos com o calor de sua essência, que é pura luz, para assim serem acorrentados em amarras de tinta. Dor compensada pelo eterno reluzir.

Escrever filosofia é morrer após o último ponto final, e reviver junto com as primeiras letras de um novo frenesi de luz e calor. Escrever filosofia é morrer em terra, para eternizar-se em tinta e em papel.

De Jane Austen - Persuasão

Niterói, 21 de Junho de 2010


“Estava persuadida de que por maiores que fossem as desvantagens da desaprovação familiar e por pior que fosse a incerteza acerca da profissão dele e todos aqueles prováveis medos, atrasos, decepções, ela teria sida uma mulher mais feliz se mantivesse o noivado do que era tendo-o sacrificado; e acreditava plenamente que seria assim, mesmo que lhe coubesse a parte habitual, ou mesmo mais do que a parte habitual de preocupações e incertezas (...) Quão eloqüente, pelo menos, teria sido se os seus desejos se tivessem voltado para aquele primeiro amor e para uma alegre confiança no futuro, em vez de terem voltado para aquela ansiosíssima cautela que parecia insultar as possibilidades do esforço e desacreditar da Providência! Fora obrigada a ser prudente na juventude, aprendera o romantismo à medida que envelhecia: a seqüela natural de um começo antinatural.” (Persuasão, Jane Austen)

Ah... Jane Austen! Quem nos apresentou foi Willian Lizardo, querido amigo e prestigiado pianista. Nosso primeiro cumprimento se deu nas lindas paisagens do Derbyshire, na Inglaterra, enquanto lia o magnífico “Orgulho e Preconceito”. Elizabeth Bennet, cujo gênio e beleza dificilmente vi em uma mulher; Mr. Darcy, orgulhoso e carrancudo, inteligentíssimo e nobre, apaixonado perdidamente por Elizabeth, mulher de berço inferior.

Dessa vez, “Persuasão” foi-me apresentado por Sandra Bullock e Keanu Reeves no filme “Casa no Lago”. De início fiquei curioso por descobrir como foi o reencontro de Anne Elliot e seu ex-noivo, Frederick Wentworth, após 8 anos de longa separação. Assim como no filme, o livro retrata a dor e a paciência que o amor pode suscitar numa pessoa, mas por outro lado, também retrata o lamento de uma atitude precipitada.

Srta. Anne Elliot, filha de um Sir, Walter Elliot, herdeira de uma fortuna, se apaixonou por um jovem oficial da marinha. Sim, ele era pobre! A paixão foi avassaladora, arrebatadora... Contudo, como todo amor trágico, ele teve um final. Sua família a convencera de romper o relacionamento, já que o rapaz não possuía alta estirpe. Ela não hesitou. Foi persuadida. Durante 8 anos seu coração lamentou a ausência daquele que lhe conferia sentido. Por 8 anos seus olhos aguardaram o retorno daquele imagem que um dia foi tão próxima. Durante 8 anos deixou de existir, de ser, Srta. Anne Elliot.

Por acasos do destino, ela reencontra seu antigo amado. Ela não é mais a mesma, nem muito menos ele. Tudo estava mudado. O que seria de ali em diante? Ela não saberia responder. Apenas reflete. E sua reflexão me impactou. Jane Austen conhecia minha história, caso contrário, como haveria de escrever os sentimentos que povoam meu coração de forma tão fidedigna?!

Eu devo algo a essa mulher. Não sei bem exatamente o que, por isso, escrevo esse humilde post em homenagem póstuma. À ela, que me apresentou a força do amor que se põe acima de todas as coisas, não se preocupando com que enfrenta.

P.S: Eu já me persuadi de que por maiores que forem as desaprovações familiares, sociais ou religiosas, eu sou o homem mais feliz, apesar disso me custar uma parte mais do que habitual de preocupações e incertezas! Não quero aprender a ser prudente na juventude, mas sim, isso sim, um romântico.

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